Por Sierra
Ao longo desses meus 50 anos de vida, não foram poucas as vezes em que eu, tratando comigo diante de mais um fracasso, chorei baixinho e longe da vista alheia. E, nesses momentos, quando eu precisava de alguma forma me consolar, eu me dava explicações necessárias para que eu pudesse erguer a cabeça e recomeçar com uma postura de quem reconhecia que aquilo realmente não poderia dar certo porque não houve um grande empenho e nem dedicação suficientes para que o objetivo fosse alcançado.
Durante um certo tempo eu não tive um entendimento - porque, talvez, me negasse a tê-lo - de que é algo tolo e ingênuo acreditar que todos nós somos capazes e estamos aptos a alcançar tudo e desempenhar toda e qualquer atividade e função que existem. E não é bem assim que as engrenagens do nosso ser funcionam.
Eu conheci pessoas que dedicaram anos e anos de estudos preparatórios mirando o ingresso em determinados cursos muito disputados em universidades públicas e nunca conseguiram aprovação. Quando eu as ouvia, eu dizia assim de mim para mim: "Por que essa criatura não canalizou essa energia e esse esforço de tantos anos para outro propósito?".
É claro que não existe uma resposta pronta para isso, porque, no caso dessas pessoas, por exemplo, o empenho para ingressar num determinado curso pode ser a realização de um sonho profissional como pode ser, também, uma meta visando não uma satisfação íntima e pessoal para si e sim para terceiros, como os pais delas.
Nessa seara de escolha do que cursar uma faculdade, por um tempo em pensei em fazer Jornalismo. Era um curso superconcorrido. Fiz um vestibular e levei pau. Passei em Letras e não quis ir. Prestei vestibular novamente e fui aprovado em História - todos os vestibulares foram para tentar conquistar uma vaga na Universidade Federal de Pernambuco -; tirando um breve período em que eu, ouvindo o canto de uma sereia pensei em cursar Direito, eu me encontrei no curso de bacharelado em História. E o ingresso na faculdade me fez ver que o que eu ambicionava no Jornalismo, que era escrever, eu poderia fazê-lo com o meu curso de História. E o tempo correu, veio a massificação da internet e com ela a possibilidade de eu escrever e publicar de forma independente nas plataformas virtuais. E isso foi uma dessas realização gigantes que nós fazemos e nos regozijamos intensamente com elas.
Eu recorri ao exemplo da escolha de um curso universitário para iniciar esse texto sobre reorientação de rumo porque ele é um caso bem emblemático na vida de muitos jovens - e eu já fui jovem - que acreditam que tal busca e escolha é uma decisão para o resto dos seus dias na face da Terra. E não é nada disso. Assim como eu, você certamente conhece pessoas que batalharam durante anos para ingressar num determinado curso universitário e, depois, largaram tudo ou então se formaram e não quiseram seguir na profissão. E isso é - desculpem a frase feita - mais comum do que se imagina.
Reorientação de rumo não diz respeito somente a escolhas profissionais não. Na verdade, essa reorientação, que muitos se recusam a fazer por N razões, está relacionada com inúmeros aspectos de nossa vida: sentimental; sexual; financeiro; de crença ou não no sobrenatural; no relacionamento com parentes e conhecidos; etc., etc.
Tem pessoas que pensam que desistir de algo é admitir derrota; é não ter determinação suficiente; é ser conformista; é não ter ambição; é, enfim, entregar os pontos. Qual é o problema de alguém admitir que chegou à conclusão que aquilo que ela tanto se esforçara para alcançar e/ou conquistar não lhe interessa mais? Por que ter vergonha de dizer que você desistiu de fazer em dezembro o que planejara desde o início do ano? Alguém já pensou quão daninho é manter e insistir num casamento que, a não ser no papel, não existe mais? Por que querer continuar tentando engravidar se mais de um médico lhe avisou que é altíssimo o risco de você ou a criança morrer?
Muita gente, infelizmente, dado que a sociedade cobra o tempo todo que sejamos eternamente jovens, belos e vitoriosos, não aprendeu e nem compreendeu que, muitas vezes, desistir de manter e/ou buscar algo e reorientar o seu rumo é um corajoso e necessário - e, em alguns casos, a única via possível - exercício de sobrevivência.
Hoje eu vi no programa Globo Esporte, da Globo Nordeste, uma reportagem muito inspiradora e entusiasmadora: um rapaz que perdeu um dos braços num acidente que resolveu praticar atletismo com vistas a se tornar um atleta paralímpico. Vejam como a vida é: o jovem transformou o resultado de um acontecimento muito ruim numa possibilidade de conquistas e de realização como atleta.
Dada a minha experiência de vida e a série de fracassos que eu colecionei ao longo de 50 anos de existência, eu sou levado a crer que reorientar o rumo deve ser encarado por todos e cada um de nós não como um jogar a toalha, não como uma derrota e sim como outra possibilidade de encontrar novos prazeres e satisfações e mesmo um novo sentido para a vida.
É verdade que a vida é uma só. Mas são várias, são inúmeras as possibilidades de bem ou mal conduzi-la.
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