Por Sierra
Vaca profana põe teus cornos
pra fora e acima da manada [...]
Dona das divinas tetas
derrama o leite bom na minha cara
e o leite mau na cara dos caretas.
Vaca profana. Caetano Veloso
Saia do meio da manada. Nesta semana um episódio ocorrido numa reunião de uma comissão do Senado expôs, mais uma vez, o nível e o grau elevadíssimo de misoginia que imperam não só ali, mas no Congresso Nacional quase como um todo, que tem em sua maioria parlamentares do sexo masculino. Na terça-feira, a mais do que admirável ministra do Meio Ambiente Marina Silva sofreu ataques desrespeitosos, cruéis e covardes que partiram de homens ditos cidadãos de bem; os indivíduos que a atacaram proferiram coisas repulsivas como "ponha-se no seu lugar" e "eu não respeito a senhora" - o autor desta última fala, inclusive, já havia dito, noutra ocasião, que "sentia vontade de enforcar" a ministra.
Por mais execrável, repulsivo e reprovável que tenha sido o episódio de total desrespeito à ministra Marina Silva, algo ali também saltou aos olhos, só que de modo completamente louvável e entusisasmador: sem demonstrar fraqueza e nem baixar a cabeça diante do rebanho feroz que a cercava, Marina Silva disse umas poucas e boas aos energúmenos senadores que a atacavam, recolheu os seus pertences e saiu dali, deixando aqueles indivíduos presos na lata do lixo da História do Congresso Nacional.
Ainda na noite daquela terça-feira eu divulguei um vídeo em minhas redes sociais reprovando os ataques dos touros em peles de homens e, também, louvando a coragem, a valentia e a pronta determinação da ministra Marina Silva para dizer aos trogloditas o que era preciso ser dito, porque, como ela mesma destacou, ela não é uma "mulher submissa".
A condição ou as condições do que se é, do que se sente e do que se pensa estão a todo momento guiando os caminhos que estamos a percorrer no nosso cotidiano. Diuturnamente indivíduos das chamadas minorias enfrentam os diversos males que uma cultura machista, patriarcal, misógina, homofóbica e intolerante dissemina por aí, inclusive, a partir dos salões refrigerados do Congresso Nacional; males esses que alimentam uma cultura de ódio e de intolerâcnia que está no âmago da prática diária de crimes que colocam cidadãos negros como o maior quantitativo do número de indivíduos mortos em ações policiais, elevam os casos de feminicído e deixam este país no topo do ranking entre as nações que mais matam pessoas LGBT.
Lidar diariamente com tamanha sanha intimidatória e ameaçadora disseminada pelas chamadas redes sociais e até, como vimos, por representantes do Congresso Nacional, exige que nós, que integramos essas ditas minorias contantemente tão perseguidas, humilhadas e assassinadas, coragem, valentia, detrminação, força, resiliência e habilidade para fazer dessa resistência uma constante pauta de luta e de reivindicação por respeito e proteção.
Quantas vezes você não ouviu por aí, por exemplo, alguém dizer coisas do tipo: "Eu não tenho nada contra os homossexuaus, mas eu não concordo que eles tenham esses direitos que eles passaram a ter"? Ou esta pérola do machismo e da cultura patriarcal: "Mulher só serve pra fazer filho e cuidar da casa"?
As demonstrações de intolerâncias e perseguições podem ser vistas e acompanhadas em todas as esferas sociais, inclusive, em igrejas. Há, no seio da nossa sociedade, uma "empresa" sem registro nos canais devidos, sem CNPJ nem nada, cuja razão de existir é a promoção do que eu chamo de "faxina social"; tal "empresa" reúne patrões e empregados que são, todos eles, misóginos, homofóbicos, racistas, intolerantes e preconceituosos; e, para conseguir espalhar e distribuir massivamente o que ela produz, essa "empresa" está sempre e sempre disposta a tudo, inclusive, a assassinar aqueles que ela persegue, rejeita e abomina.
Não nos deve faltar coragem e determinação para lutar contra tais espécimes. Não abaixemos a cabeça para eles. Não aceitemos que a fúria desmedida que os move nos intimide. Não nos calemos diante de insultos. Não recuemos diante desses indivíduos covardes, cruéis e desumanos. Lutemos com todas as armas que nós dispomos, porque, se nos rebaixarmos, eles fatalmente nos derrotarão.
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