14 de junho de 2025

Sobre o discurso da desesperança

 Por Sierra




O aparecimento e a difusão das chamadas redes sociais ao mesmo tempo que proporcionaram esta coisa espantosa, admirável e boa que é dar voz e visibilidade a qualquer pessoa que disponha de um smartphone com acesso à internet, por outro lado, possibilitaram que, quer mostrando a sua real face ou não, muitos indivíduos se empenhasssem em criar fatos e difundir mentiras e o que se convencionou chamar de discursos de ódio, discursos esses, no mais das vezes, contra minorias - negros, homossexuais, pessoas com limitações físicas, etc. - e, também, contra imigrantes e refugiados, entre outros grupos sociais vulneráveis.

Ao lado dessa exposição aos quais milhões, bilhões de pessoas ao redor do mundo se entregam e/ou se disponibilizam e/ou se vendem, digamos assim, nas tais redes sociais, existe também o que uns e outros diizem ser uma perda gradativa e acentudada de uma conexão com a realidade para além do mundo virtual, algo que tínhamos antes de nós nos deixarmos escravizar e sermos dependentes das mil e uma possibilidades que um smartphone conectado à internet proporciona - com o advento da famigerada Inteligência Artificial (IA) o que já era, para muitos, deveras confuso, ficou pior, porque, ao nos depararmos com certas criações feitas por IA, nem sempre nós conseguimos dizer se aquilo que estamos vendo é algo natural ou um produto artificial, tamanha é a semelhanca que elas apresentam com o que vemos em nosso cotidiano.

E, pensando cá comigo, pensando com esta minha cabecinha de QI tão irrisório, eu percebo, olhando ao redor e para mim também, como a imersão diária e duradoura no universo virtual está nos tornando pessoas mais metidas consigo emsmas, nos transformando em quase autômatos e nos dando, por assim dizer, um comportamento robótico.

Seguindo as sempre e sempre renovadas trends das redes sociais, muitos de nós se pega repetindo comportamentos visando a likes e visualizações que, talvez, não repetíssemos, caso não nos encotrássemos a sós diante da câmera do smartphone. E isso me leva a pensar que tal comportamento tende a se agravar se nós, por iniciativa própria, não pusermos alguma limitação e/ou freio a essa imersão tão intensa e duradoura no mundo virtual.

Tentando compreender essa dinâmica de dependência em relação às coisas da esfera virtual eu tenho percebido, em certos círculos sociais da vida fora das telas, o surgimento e a proliferação de discursos de desesperança, sabe? É claro que essa postura desesperançada, eu acredito, advém de uma conjunção de fatores, como condições socioeconômicas, políticas, de crenças ou não no sobrenatural e como se está e/ou se observa o mundo. São discursos que carregam em seu bojo uma ideia de futuro catastrófico e ruim, como se não tivéssemos outras possibilidades de saída e nem força, vontade e coragem para corrigir e reorientar rumos, dando à trajetória que temos de percorrer um sentido diferente do que o que possa estar nos levando para um precipício.

Não sou fatalista. E se, em algum momento de miha vida, eu fui sequestrado pelo pessimismo, isso mudou consideravelmente em mim. Muito embora eu assista, com preocupação, à ascensão de políticos ultradireitistas, com suas ideias retrógradas e obscurantistas que misturam religião e intolerância e perseguição às minorias; muito embora eu reconheça que nós não temos sabido cuidar bem nem do nosso meio ambiente nem dos nossos semelhantes que se encontram em situações de diversos tipos de vulnerabilidade - falta de moradia, insegurança alimentar, perseguição religiosa, etc. -; e, muito embora eu sofra também carregando as minhas próprias misérias humanas, os meus rancores, as minhas reprovações, as minhas feridas, os meus fracassos, enfim, carregando tudo de ruim e todos os fardos que pessoas pobres têm que suportar para conseguirsobreviver em uma sociedade historicamente tão excludente como esta nossa, eu me recuso terminantemente a aderir a esse discurso apocalíptico de terra arrasadda, de não tem jeito que dê jeito e de desesperança total e completa. E por quê? Porque eu acredito que em algum momento, mesmo que cheguemos à beira do penhasco e do desfiladeiro, nós teremos discernimento para compreender que será preciso mudar de postura frente a tudo que for contrário à nossa estada neste mundo.

Não nos deixemos ser capturados por discursos de desesperança, porque, contra o fatalismo existem o planejamento, a determinação e algumas ideias de alegria que também vão dentro de nós.

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