30 de agosto de 2025

Quem há de guardar os nossos retratos?

 Por Sierra


Fotos: Arquivo do Autor
É realmente confiável deixar nossas memórias fotográficas "guardadas em nuvens" por aí? Eu não sei. O que eu sei é que eu continuo guardando alguns registros impressos do meu passado


Ao longo dos últimos anos eu tenho lidado com uma questão que vem me inquietando nesses tempos de uma vida e de um cotidiano cada dia mais preso e/ou ligado ao mundo virtual, que é saber quem há de guardar as nossas memórias documentais, uma vez que, em vários setores da adminsitração pública, por exemplo, documentos são produzidos e circulam entre órgãos apenas virtualmente; raramente e a depender de onde ele é produzido, um documento é impresso; e os documentos, por conseguinte, estão sendo armazenados e guardados apenas em arquivos digitais.

Quando eu falo em inquietação de minha parte, eu que, inclusive, trabalho num órgão público que praticamente aboliu a produção e circulação de documentos impressos, penso nisso fazendo uma relação com o meu ofício de pesquisador que tem formação de bacharel em História; e essa formação e a prática de pesquisas, que eu mantenho em andamento, me fazem o tempo todo pensar nessa questão: e se se perderem todos esses arquivos digitais? E se ocorrer um grande apagão desses arquivos e nós percamos anos e anos de informações contidas em documentos que só existiam de maneira virtual? Como os historiadores e pesquisadores do futuro irão saber sobre os dias de hoje, principalmente a respeito da história das instituições públicas? Será que nós teremos arquivos digitais como fontes de pesquisas? Como ficará o nosso patrimônio documental?

Ainda preso ao documento físico, impresso e, portanto, palpável, eu continuo guardando em meus arquivos uma porção de papéis que eu mesmo produzo e que apanho por aí, como folders de eventos, principalmente culturais, catálogos de exposições, cartazes e outras coisas mais que me dão vontade de guardar porque eu as enxergo como fontes para pesquisas futuras. Afora isso eu mantenho, firme, forte e bem diversa, uma biblioteca que não para de crescer e que é a parte física e material mais importante da minha casa. E eu vou continuar com tudo isso - papéis, discos, dvd's e livros - até quando eu puder.

Estas impressões e estes questionamentos sobre preservação documental me chegaram não somente por conta de minha formação acadêmica e por tudo que eu tenho visto e acompanhado no universo das tecnologias eletrônicas, mas também em virtude de algumas conversas que eu mantive com alguns meus conhecidos que, em dois momentos distintos, em diálogos separados feitos com pessoas diferentes, me disseram que o melhor a se fazer é manter arquivos fotográficos virtuais, mesmo que tendo que pagar a empresas para guardá-los.

Eu ouvi essa recomendação e fiquei matutando a respeito, porque já decidira que eu iria/irei selecionar várias das fotografias que eu fiz  e imprimi-las - notada e principalmente autorretratos -, porque é dessa forma que eu sinto que elas estarão mais próximas de mim e do meu entendimento de guardião da minha memória pessoal. Eu ainda não me vi convencido a manter apenas um arquivo virtual, muito embora uns e outros insistam em querer me convencer que a chamada "nuvem", espaço do universo virtual onde tais arquivos são armazenados pelas empresas que lidam com essas tecnologias, são bastante seguras.

Eu tenho plena convicção, porque me vejo inserido em várias frentes que estão sendo dominadas pelas tecnologias virtuais - e as transações bancárias e financeiras que são feitas através dos smartphones são uma realidade inescapável nos dias atuais, levando, inclusive, ao fechamento de agências físicas de diversos bancos -, que caminharemos para um mundo no qual documentos impressos figurarão como relíquias de um passado remoto, como testemunhos de um tempo em que seres humanos primitivos acumulavam papéis dos mais variados tipos.

Não sei até quando eu continuarei mantendo um pé nesse mundo de seres humanos primitivos e outro pé no universo das mais avançadas entre as mais avançadas tecnologias virtuais. O que eu penso que sei é que, se tudo isso que é anunciado pelos profetas do progresso do mundo virtual se confirmar, nós deveremos passar a conviver com outros tipos não só de seres humanos, mas também de formas de sentimentos e apareciações sobre tudo aquilo que não pode ser guardado e armazenado naquelas "nuvens" invisíveis.

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