14 de janeiro de 2011

A cidade ordenada

Por Clênio Sierra de Alcântara


Conforme havia programado a Prefeitura do Recife deu continuidade à sua de todo louvável iniciativa de livrar o centro da capital dessa verdadeira praga urbana que são os camelôs.

A ofensiva contra o comércio informal e desordenado e desrespeitador das leis - leis valem para todos, camaradas! - dessa vez chegou à Rua do Hospício que, igualmente à Rua Sete de Setembro, cenário da ação anterior, fica no bairro da Boa Vista.

A exemplo de outros logradouros da área central do Recife, a Rua do Hospício tornara-se um verdadeiro pandemônio: quiosques, fiteiros e tabuleiros de todos os tipos e tamanhos obstruindo calçadas e, por conseguinte, a passagem de pedestres; despejo de resíduos em vários pontos da via; retenção do trânsito de veículos; etc.

É sabido que a Municipalidade está capitaneando um projeto chamado "Recife! Nosso Centro", que visa não só ao ordenamento desse tipo de comércio, mas também a revitalizar áreas que há anos - eu não canso de enfatizar isso - vêm sofrendo com um acelerado processo de degradação. Sabe-se que com essa iniciativa a Prefeitura intenta também trazer de volta - talvez o correto seria dizer devolver - a esse pedaço da cidade um certo glamour, um certo renascimento das feições que tornaram o Recife, em tempos idos, uma das capitais brasileiras mais charmosas e desejadas pelos turistas.

É claro que não será apenas com o ordenamento do comércio informal que a cidade verá restituído parte do charme de outrora. Será preciso, além disso, resolver o problema do lixo - como essa cidade anda suja! Como o povo pernambucano é mal-educado! -; a recuperação de praças, como a Olavo Bilac, que mais parece um terreno baldio; a cobrança de que os proprietários de prédios degradados promovam a revitalização de seus imóveis; que as inúmeras calçadas danificadas sejam recuperadas; etc.

A Municipalidade não pode em momento algum transigir com esses comerciantes, porque, ao fazê-lo, abrirá mão da suposta ordem urbana que ela está pretendendo promover. Essas pessoas não podem exigir nada, porque elas simplesmente não contribuem com outra coisa que não seja com a degradação da urbe.

Ouço, estupefato, que muitos desses ambulantes estão a exigir, entre outros absurdos, que a Municipalidade lhes pague uma indenização e os mantenha com dois salários mínimos mensais, até que "consigamos uma outra ocupação". Ora essa, por acaso é culpa da administração municipal que eles tenham sido levados a essa prática ilegal de comércio? É responsabilidade da Prefeitura a associação que vários desses comerciantes mantêm com verdadeiras quadrilhas que inundam a cidade com produtos pirateados que não pagam um centavo sequer de imposto e/ou que podem prejudicar de alguma maneira o consumidor? A essas indagações eles não respondem porque não é conveniente fazê-lo. E isso se deve, sem dúvida, ao fato de que a população brasileira, em grande parte, atingiu um grau tal de barbárie, que se chega a admitir como legítima a transgressão aos ordenamentos legais.

O Recife tem problemas demais para resolver; e a Municipalidade não pode de jeito nenhum permitir que, em prejuízo do bem comum, essas pessoas degradem o espaço urbano. O primeiro passo foi dado; e é preciso que a iniciativa de ordenamento da cidade não retroceda.

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