24 de maio de 2013

Patrimônio & Descaso (I)

 Por Clênio Sierra de Alcântara



A ideia, inteiramente equivocada, de que tudo que é velho deve ser descartado, ignorado e até demolido fez – e infelizmente ainda faz – com que o Brasil assistisse à supressão paulatina de vários de seus monumentos históricos, de um sem-número de sítios nos quais poderiam ter sido realizadas prospecções arqueológicas, de incontáveis objetos, instrumentos e documentos que eram testemunhos de tempos idos e que certamente serviriam para que conhecêssemos um pouco mais do nosso passado.

O descaso para com a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural neste país tem feito com que dia após dia percamos um pedacinho de nossa identidade, que deixemos de conhecer algo que poderia dizer muito de nós e de nossos antepassados, e que fiquemos sem compreender com maior clareza a realidade que nos cerca.

Quando não há uma compreensão de que o patrimônio é um bem coletivo fica muito mais difícil empreender políticas públicas de preservação. Caso a comunidade que está mais próxima desse patrimônio não tenha ela mesma consciência de que pode também contribuir para a manutenção desses bens, a promoção do restauro, da recuperação e revitalização do patrimônio seguirá sendo neste país, e em qualquer outro, um trabalho no qual só se enxerga a obrigação estatal de proteger e conservar tudo o que disser respeito ao nosso passado, à nossa história.

Portanto, o fundamento de toda ação preservacionista e de educação patrimonial deveria ser exatamente este: fazer com que a sociedade estabeleça um vínculo de responsabilidade para com determinado bem, explicando a ela, por exemplo, que não é apenas porque tal capela foi erguida a mando do Barão Fulano Não Sei das Quantas que ela deve ser preservada; que ela deve ser preservada porque essa tal edificação contém em si inúmeras informações a respeito da evolução do lugar em que foi erigida; e que a história é feita por todos e não somente por alguns poucos indivíduos tidos como pessoas importantes.

O trato para com o patrimônio deve reforçar sempre o entendimento de que tudo que perpassa a nossa existência – as edificações, os objetos decorativos e utilitários, as comidas tradicionais e os modos de prepará-las e apresentá-las, as manifestações culturais, as vestes, os instrumentos de trabalho, os cantos, os louvores, as danças, etc. – contribuiu para a nossa formação social, contribuiu para que construíssemos realidades diversas e interdependentes.

Patrimônio não é item dispensável: patrimônio é algo extremamente necessário. Tradição não é apenas folclore: tradição é fundamentalmente a essência de um modo de estar no mundo.


                 


Capela do Bom Jesus Menino
Ilha de Itamaracá - PE, abril de 2013




 
 


















A Capela do Bom Jesus Menino foi erguida nas terras do antigo Engenho Haarlem – depois batizado de Bom Jesus – pertencente a Pieter Seulyn de Jonge, durante o período da dominação holandesa de Pernambuco, no século XVII. A área do antigo engenho é hoje conhecida como Sítio Bom Jesus, situado à margem da Rodovia Mário Melo (PE-35), km 18; e está ocupada por casas e estabelecimentos comerciais.

Em dezembro de 1859 o Imperador Dom Pedro II visitou o sítio e também a capelinha, atualmente em ruínas.



3 comentários:

  1. Ola, excelente post e otimas fotos !
    Gosto muito de conhecer este tipo de locais historicos, sou argentino mas moro em Pernambuco. Tentei achar no google earth e procurando na internet as ruinas da Capela do Bom Jesus Menino, porem sem sucesso. Voce poderia me orinetar por favor?
    Meu email é: lcaponi@gmail.com
    Muchas gracias!!! :-)

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    1. Buenas noches Leonardo, la capilla se encuentra atrás de las tiendas al frente del surtidor. Como argentino deberías visitar Vila Velha cuando estas en Itamaracá, fue donde Caboto pasó tres meses antes de ir a La Plata y fundar la primera comunidad español en tierras argentinas, hoy Puerto Gaboto !

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  2. Boa noite Clenio, o sinto amigo mas sua informação sobre a capela de Bom Jesús esta errada. O Sitio de Bom Jesús não tem nada a ver com o antigo Engenho Haerlem. O Engenho Amparo de hoje é o que antanho foi o Engenho Haerlem, se voce tem interesse pode me visitar na Vila Velha e com prazer lhe mostra a iconografía que comprova aquele fato. Chris.

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