11 de novembro de 2013

Edson Nery da Fonseca ecoa Schopenhauer


Por Clênio Sierra de Alcântara                                                                                                                

Edson Nery da Fonseca em registro de Ernani Neves


O homenageado da feira de livros que terá início na próxima quinta-feira e que se estenderá até o domingo 17, na Praça do Carmo, em Olinda, inserida na Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), é ninguém menos do que Edson Nery da Fonseca, o pernambucano do Recife, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, Professor Emérito da Universidade de Brasília e Pesquisador Emérito da Fundação Joaquim Nabuco, que fez dos livros o alimento principal de sua longa vida; ele, que está prestes a completar noventa e dois anos de idade, que é um dos intelectuais mais admirados do país e que vive a expectativa de publicar mais uma obra.

Na carta que enviou ao amigo, Antônio Campos, curador da Fliporto, justificou dessa maneira a escolha de Edson Nery da Fonseca como o homenageado daquela parte do evento:
  
A honraria deve-se à sua contribuição à cultura brasileira nos campos do ensaio literário e aos pioneiros estudos interdisciplinares e multidisciplinares de Biblioteconomia, que Vossa Senhoria realizou nos meios acadêmicos e na vida pública.

Bem é verdade que Antônio Campos deveria ter prestado esse tributo ao amigo há dois anos, na ocasião em que, além de a Fliporto estar celebrando a figura do genial Gilberto Freyre, de quem o autor de Estão todos dormindo ainda hoje é considerado como um dos grandes estudiosos, Edson Nery da Fonseca lançou naquele momento um livro volumoso que eu organizei - O grande sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje - e palestrou no evento quando se encontrava às vésperas de marcar nove décadas de uma existência bastante movimentada e fecunda. Mas, seja como for, antes tarde do que nunca.

E quanto a Edson, o que ele achou da homenagem? "Eu gostei porque me senti elogiado em minha terra. Porque, como diz o ditado, ninguém é feliz em sua terra, e eu estou feliz na minha terra", confidenciou-me ele na visita que lhe fiz na última sexta-feira.

Autor de mais de uma dezena de títulos que inclui estudos biblioteconômicos, fortunas críticas de Gilberto Freyre e Manuel Bandeira e até um livro de memórias - o estimulante Vão-se os dias e eu fico -, Edson Nery da Fonseca sempre manteve como guia intelectual, ao que parece, o capítulo 24 do Parerga und paralipomena, de Arthur Schopenhauer, intitulado "Sobre livros e leitura", no qual o filósofo alemão diz que os livros ruins são ervas daninhas; mais do que isso: "Os livros ruins são veneno intelectual: eles estragam o espírito" (Arthur Schopenhauer. Sobre livros e leitura. Trad. Philippe Humblé e Walter Carlos Costa. Porto Alegre: Editora Paraula, 1993, p. 35). E Edson não fez outra coisa na vida do que bem cuidar do seu espírito.

Devido a alguns problemas de saúde que dificultam sua locomoção mesmo numa cadeira de rodas, é muito provável que Edson Nery da Fonseca não compareça à abertura do evento. Uma pena, porque, tenho certeza, sua presença na feira literária faria as vezes de um antídoto contra os inúmeros venenos que certamente estarão por lá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário