Quando tudo levava a crer que a
impunidade outra vez daria uma surra na indignação do brasileiro cidadão de
bem, eis que o Supremo Tribunal Federal (STF), de modo bastante alvissareiro,
resolveu decretar a prisão imediata dos operadores do mensalão, cujas penas já
estavam determinadas e não se encontravam sob o risco de serem revistas dentro
da análise dos chamados embargos infringentes.
Ao recomendar a detenção
incontinenti dos malfeitores, o ministro Joaquim Barbosa – e todos os outros
membros do STF que acolheram sua decisão – pôs o Brasil em sintonia com as
nações verdadeiramente civilizadas, democráticas e maduras do mundo,
deixando-nos ver, esperançosos, que, tal qual ocorre com a poliomielite, a
impunidade há de ser combatida com eficácia neste país.
Convenhamos que, justiça, justiça
mesmo, justiça de fato, justiça para valer, justiça à vera não foi realmente
feita nesse caso porque, condenar a regime semiaberto delinquentes que se
apropriaram de milhões de reais dos cofres públicos não é julgar com verdadeiro
senso de punibilidade. Ora, o caboclo rouba uma lata de leite num supermercado
e é de pronto preso no regime fechado, sem apelação. Não tem algo de errado aí?
Claro que tem. Só o fato de um processo se arrastar por mais de oito anos diz
tudo sobre como a Justiça brasileira trata os indivíduos infratores que
pertencem a diferentes camadas sociais: para os pobres, a cadeia de imediato;
para os ricos, a possibilidade de retardar o quanto puderem o julgamento. No
Brasil a Justiça não é cega coisíssima nenhuma: ela enxerga bem, é elitista e
discriminatória.
Acredito que no Brasil não se
passe uma semana sem que se registre um fato novo de corrupção envolvendo as
finanças públicas. Esses casos de corrupção de há muito se tornaram uma
epidemia neste país. Os bandidos, os larápios, os ladrões da coisa pública agem
acreditando piamente na impunidade e/ou na punição branda: o que são dois anos
atrás das grades apenas na hora de dormir para quem se apoderou de alguns
milhões de reais? Nada, não são absolutamente nada. Ou melhor dizendo, isso
é contrasensual, é vergonhoso, é
revoltante.
Algum dia, talvez, as instâncias
jurisdiscionais brasileiras aprenderão a verdadeiramente fazer justiça.
Enquanto esse dia não chega, o recomendado é comemorar efusivamente as pequenas
vitórias às quais se assiste como essa envolvendo os delinquentes do mensalão,
tomando de vez em quando um pouco de água com açúcar para acalmar os nervos,
porque, à maneira de uma rebordosa, os males da impunidade sempre se revigoram nestas paragens com o
propósito de nos atazanar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário