20 de dezembro de 2013

Agora nós é que somos metades sem você, Reginaldo Rossi

Por Clênio Sierra de Alcântara





Imagem da internet

Foi durante as visitas que eu fazia ao casal Neta e Zé Altino, então futuros padrinhos do meu irmão, que comecei a ouvir os discos de Reginaldo Rossi. Naquela casa, localizada no sopé do Alto Bela Vista, em Abreu e Lima, eram travadas verdadeiras batalhas envolvendo dois reis do cenário musical brasileiro: de uma lado Neta defendendo Roberto Carlos; do outro, Zé Altino, um gigante de quase dois metros de altura, a defender o seu mais que admirado Reginaldo Rossi. Enquanto eles discutiam, eu aproveitava para ouvir o canto dos monarcas.

Hoje pela manhã recebi a notícia do falecimento de Reginaldo Rodrigues dos Santos, o Reginaldo Rossi, pernambucano da cidade do Recife, nascido em fevereiro de 1944. E fiquei muito triste porque algumas músicas do repertório dele servem como trilha sonora para algumas lembranças de minha vida, como as que evoquei no começo deste texto. Além do que, para alguém tão dependente da musicalidade como eu sou – e confesso que em plena época de downloads eu continuo a comprar cd’s e lp’s -, perder uma referência tão próxima da minha realidade, como era Reginaldo Rossi, é um golpe duro de suportar.

Longe de encarnar a figura do galã, Reginaldo, por outro lado cativava seus fãs com suas letras românticas e irreverentes e com sua personalidade que parecia sempre estar de alto astral. Reginaldo era aquele tipo de cantor que desejamos não apenas ouvir, mas também ver, porque era alguém com uma forte presença de palco: sua figura em si já era um espetáculo.

Apoiado num repertório que a crítica musical classifica como brega, Reginaldo Rossi nunca deixou de se mostrar insatisfeito com tal denominação; não porque repudiasse o termo “brega”, mas por considerá-la injusta, uma vez que no seu entender músicas românticas, comumente taxadas de brega, estão no set list dos mais variados cantores. Sendo assim, por que, por exemplo, ele era um representante do brega e Roberto Carlos não? É claro que as coisas não podem ser reduzidas a esses termos; a pecha de brega se aplica geralmente a um tipo de composição que, ao eleger o sentimentalismo entremeado por relações amorosas, deixa de lado questões outras da vida social; é algo fundamentalmente pautado pela alienação, aventam os entendidos no assunto. Mas deixemos isso de fora, porque a intenção deste artigo é outra.

Como todo fã eu também tenho a minha música preferida do rei Reginaldo Rossi. Trata-se de “A raposa e as uvas”, que, sempre que eu ouço, fico a imaginar as cenas do casal apaixonado dançando ao som de “Besame mucho” e, depois, partindo na lambreta na qual a mocinha agarra o namoradinho certamente sentindo um misto de medo e ternura.

Reginaldo Rossi adorava a sua terra; por isso cantava o Recife e a Ilha de Itamaracá com um entusiasmo contagiante; muito mais do que libelos bairristas, canções como “Recife minha cidade” e “Itamaracá”, são verdadeiras declarações de amor a esses lugares. Reginaldo, apesar de se declarar uma pessoa tímida, era alguém que não se envergonhava de mostrar aos outros os sentimentos que o moviam. Daí por que versos tão intensos como estes da canção “Mon amour meu bem ma femme”: “E nada existe em você que eu não ame/ Sou metade sem você”, que ele entoava como se fossem uma impressão de si mesmo.

De todo lamentável a partida de Reginaldo Rossi, um rei de muitos e fiéis súditos.

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