Por Clênio Sierra de Alcântara
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Fotos: Ernani Neves
Igreja de São José de Botas |
Com o privilégio de abrigar um
porto natural que recebia navios de até dezoito pés de calado, a área que hoje está
inserida na cidade de Tamandaré, localizada no litoral sul de Pernambuco,
distando a cerca de 104 km
do Recife, aparece nas narrativas históricas desde pelo menos a primeira metade
do século XVII.
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Píer do Ibama na Praia do Forte |
Sebastião de Vasconcellos Galvão,
que tem sido o meu guia-mor, assim descreve o lugar em seu Dicionário
corográfico, histórico e estatístico de Pernambuco: “Pequena, sem commercio,
com proporções para uma grande cidade [é curioso que noutra página esse autor
registre que o lugar “possue grande povoação de más habitações”] pela situação
geographica e o magnífico porto que possue. Tudo mesmo parecia melhor indicar
que a séde do municcipio deveria ter sido ahi installada”. Bastião refere-se ao
município de Rio Formoso ao qual Tamandaré, que está situada a 20 km ao sul dele, pertenceu,
figurando como um dos seus distritos durante muitos anos. Sua condição de
cidade só foi alcançada em 28 de setembro de 1997, quando foi estabelecida sua
emancipação; ou seja, como cidade, Tamandaré é bastante jovem.
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Aspecto da Fortaleza da Barra |
Fiz dois passeios – em maio e em
agosto do ano passado; na primeira viagem me hospedei no Hotel Marinas de Tamandaré,
que é confortável e tem todos os quartos voltados para o mar; na segunda, na
pequena e acolhedora Pousada Cambará, do Zamir Silva, o Zazá – nesta porção do
litoral pernambucano tão venerado pelo fotógrafo Alcir Lacerda, que fez daquela
terra mais do que um lugar de repouso: encontrou ali um pedaço do paraíso.
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Praia dos Carneiros |
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Nova Matriz de São Pedro |
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Ginásio poliesportivo |
Ao visitante que for a Tamandaré
peço que não espere encontrar uma cidade bem estruturada. Não, Tamandaré, a
exemplo de outros municípios praieiros, cuja vocação é preponderantemente o
turismo e que não recebem investimentos suficientes para promover seu
desenvolvimento urbano, é um lugar carente de infraestrutura.
Não se pode negar, por outro
lado, que a pequena cidade está bem servida no quesito gastronômico. Por favor,
não me tomem como alguém que tem o paladar apurado e/ou que é apreciador da
mais fina gastronomia. Não sou assim. Pelo contrário. Sou alguém que se impôs
uma série de restrições alimentares – exemplo: não como carne vermelha há
dezesseis anos. Mas enfim, vamos às dicas: comida simples, boa e barata é no
Noronha Restaurante, que é self-service; um restaurante temático que merece ser
conhecido – relevem a fumaça – é o Lampião e Maria Bonita; um cantinho
supercharmoso que oferece panquecas e tapiocas deliciosas é o Tapitanga.
Perdoe-me, caro leitor, o fato de eu ter esquecido o nome do restaurante onde,
mais de uma vez, comi uma macaxeira com galinha guisada que era supimpa – eis um
ponto de referência: o restaurante fica ao lado da Casa do Artesão. Ah,
lembrei: Restaurante São João.
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Casa do Artesão |
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Entrada ( esplanada ) da Fortaleza da Barra |
Quando busquei a Fortaleza da
Barra Grande fui adentrando nela carregando um sentimento de tristeza e
desapontamento que só fez aumentar à medida que eu caminhava por suas
dependências. Apesar de ser um monumento histórico tombado pela Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), a construção
apresenta um aspecto de quase total abandono. Digo quase porque na capelinha –
que horror aquela cerâmica que assentaram no piso dela! – ainda são ministradas
missas; e o farol instalado ali recebe manutenção periódica. De resto, tudo lá
compõe um quadro de enorme desprezo para com a história. Observar estruturas
desmoronando me fez pensar qual era a
razão de ser do tombamento promovido pela Fundarpe.
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Praça das armas da Fortaleza da Barra com o farol ao fundo |
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Nesta foto e nas que seguem abaixo outros aspectos da fortaleza |
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O farol |
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Capela da Fortaleza da Barra |
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Por que a Fundarpe deixou que a Fortaleza da Barra ficasse neste estado? |
É na orla que Tamandaré revela a
beleza e as atrações que fazem com que tantos turistas busquem suas águas.
Caminhando na beira-mar eu percorri todas as suas praias: Mamucabinha, da Boca
da Barra do Forte, de Tamandaré, das Campas e a mais famosa delas, a dos
Carneiros.
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Navegar é preciso. Pescar também |
Foi na Praia dos Carneiros que eu
e o fotógrafo Ernani Neves embarcamos numa lancha de um rapaz muito atencioso
chamado Carlos Alberto, o Betinho, a fim de passearmos por aquelas águas na
área de confluência dos rios de três municípios: Tamandaré, Rio Formoso e
Serinhaém. Na Praia de Guadalupe, em Serinhaém, nos cobrimos com uma argila que
dizem que faz bem a pele.
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Nosso piloto Carlos Alberto, o Betinho |
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Os catamarãs estavam cheios nesse dia |
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Uma das piscinas naturais |
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A multidão chegando para se lambuzar com argila na Praia de Guadalupe |
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Caranguejos com cérebro
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Aqui estou eu numa das piscinas naturais |
É encantador ver peixinhos nas
piscinas naturais que se formam na maré vazante; e revigorante mergulhar na
calmaria daquelas águas.
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Igreja de São Pedro |
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Capela de São José de Botas |
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Capela de São Benedito |
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Eis a correntinha que eu achei enterrada na areia defronte à capela |
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Estas fotos foram feitas num dia chuvoso |
A paisagem praieira de Tamandaré
é pontuada por três graciosas construções eclesiásticas: a Capela de São José
de Botas – que está carecendo de uma ação de restauro -, a Igreja de São Pedro
e a Capela de São Benedito, na frente da qual achei uma correntinha com imagens
de santos que Ernani tratou logo de pedir para pendurar no retrovisor do carro.
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O vendedor de coco Natalício José: "Ôssi" |
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Eu e Natalício |
Durante a caminhada paramos para
tomar água de coco. O vendedor, Natalício José – salve tamanha simpatia! -, se
demorou numa animada conversa conosco. O seu modo de dizer “Ôxe” – ele diz algo
como “Ôssi” – arrancou risos de nós e ficou ecoando em nossos ouvidos quando
deles nos despedimos.
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A paisagem de coqueiros me lembra os registros fotográficos de Alcir Lacerda |
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Praia dos Carneiros |
Em que pese a ação do poder
público em coibir a construção de paredões com vistas a supostamente proteger
das ondas casas e demais edificações, alguns cidadãos que se acham mais cidadãos
que os outros, insistem em querer fazer do espaço público um usufruto privado,
cercando áreas, impedindo o livre trânsito dos caminhantes. Completamente
reprovável isso. Cabe às autoridades reprimir essa situação, bem como promover
a ordenação de barracas na orla, porque, cá para nós, aqueles mucambos feiosos
que se fizeram na Praia do Forte não poderiam ser mantidos em lugar nenhum, que
dirá numa paisagem como aquela.
Ter desfrutado alguns dias em
Tamandaré pode não ter me dado a exata dimensão do prazer que dizem que o Alcir
Lacerda sentia ao buscar refúgio naquele lugar tão aprazível; mas incutiu em
mim um desejo de, sempre que for possível, voltar para lá.
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Ernani, Betinho e eu: Au revoir! |
Boa noite! Gostaria de um feed back seu da praia de camucabinha,vou de férias e encontrei casas interessantes por aquela zona, Seria uma boa praia para crianças e quanto a tubarões, já ouvi falar a en recife aparece muito, aquela praia e mar aberto?
ResponderExcluirCara Grazy, até onde eu sei não há registros de ataques de tubarões em Tamandaré. Esses ataques têm ocorrido nas praias do Recife
ExcluirE nas praias da cidade vizinha, Jaboatão dos Guararapes
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