Por Clênio Sierra de Alcântara
Com a recente divulgação do
resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em
inglês), exame esse que desde o ano 2000 é aplicado pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a fim de medir o desempenho de
jovens estudantes de 65 países em leitura, ciências e matemática, assistimos
novamente à baixa performance do alunado brasileiro e, estarrecidos, ficamos a
nos perguntar que tipo de desenvolvimento social é esse, comandado pela senhora
Dilma Rousseff, que não consegue mudar para melhor o quadro geral da educação
no país como um todo.
Não, não foi a presidenta Dilma
quem inventou o marasmo que assola a educação brasileira. Mas o Partido dos
Trabalhadores está no comando do país há dez anos; e, de lá para cá, e a
despeito da ampliação do Bolsa Família, que estabelece como contrapartida do
auxílio financeiro a manutenção dos beneficiados frequentando a escola, os
avanços foram mínimos. Sim, ocorreu a universalização do Ensino fundamental
ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Sim, foram abertas mais escolas
técnicas e universidades em regiões distantes das capitais. Sim, foi criada
essa coisa superimportante que é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Contudo, num contexto regional e mundial, o Brasil continua marcando passo de
tartaruga num cenário em que nações como a China e a Coreia do Sul investem
pesado e têm conseguido efetivamente melhorar a qualidade da educação que é
oferecida aos seus cidadãos.
De acordo com os dados do Pisa,
os alunos brasileiros alcançaram as seguintes pontuações no teste realizado no
ano de 2012: leitura – 410 pontos (em 2009 foram 412); ciências – 405 pontos
(mesma pontuação de 2009); matemática – 391 pontos (um avanço de cinco pontos em
relação à prova aplicada em 2009). Embora esse desempenho pífio tenha sido
comemorado com entusiasmo pelo ministro da Educação Aloizio Mercadante (Helena
Borges. “Está faltando fôlego”. Revista
Veja, edição 2351, 11 de dezembro de 2013, p. 180-183), o fato é que, no
cômputo geral, o Brasil ficou na 57ª posição com 402 pontos – para efeito de
comparação, Xangai (China), que obteve a 1ª colocação, somou 587 pontos. E
agora um dado curioso que diz muito da irrelevância do Bolsa Família – quem
fiscaliza a frequência dos alunos, me digam? – como suposto reforçador da
presença dos alunos nas salas de aula: duas semanas antes de aplicar as provas
do ano retrasado, a OCDE resolveu medir a taxa de comparecimento dos alunos às
aulas; e os brasileiros figuraram entre os mais faltosos.
A baixa taxa de escolaridade é,
de longe, o maior entrave para que um país consiga se desenvolver social e
economicamente de maneira sólida. Índices de produtividade elevados são
alcançados por mão de obra qualificada e não por pessoas que não conseguem
entender, por exemplo, o que é dito num manual de instruções. As pessoas não
devem ser educadas apenas para produzir riquezas para o país no qual vivem,
isso é fato; mas também para alcançarem melhores empregos, para obterem efetiva
qualidade de vida, para que sejam protagonistas de suas histórias e para que se
compreendam como cidadãs de um vasto e diverso mundo. É verdade, o Brasil é a
6ª maior economia do mundo; mas, o que significa isso em termos reais? Temos
milhões de dependentes do Bolsa Família; hospitais nos quais os pacientes
amargam por vezes dias para ser atendidos; escolas ainda sem água, luz,
professores e bibliotecas; estradas esburacadas... Enfim, o quadro
socioeconômico em que vivem milhões de brasileiros não condiz em nada com o
ranking no qual este país aparece tão bem colocado.
Em sua edição da segunda quinzena
de outubro passado – edição nº 1052 -, a revista Exame, que é um dos e talvez o principal periódico do país voltado
exclusivamente para questões da economia, colocou o tema educação como matéria
de capa. Assinadas pelo repórter Daniel Barros, as matérias “A diferença começa
na escola” (.p. 36-43) e “A luta pela qualidade” (p. 44-51) fazem uma descrição
minuciosa do panorama da educação brasileira apontando iniciativas bem
sucedidas que precisam ser disseminadas o quanto antes e indicando possíveis
soluções para problemas tidos por muitos como insolúveis. Ilustrando os textos
aparecem gráficos com informações que são no mínimo preocupantes. Alguns dados:
uma pesquisa da consultoria McKinsey apurou que a carreira de professor é a
mais desvalorizada pelos jovens brasileiros; o desinteresse pelas licenciaturas
acabará gerando um déficit de 250.000 professores; é altíssimo o índice de
evasão escolar; e é baixa a parcela dos estudantes com conhecimento adequado ao
fim dos ciclos: no Ensino fundamental o índice é de 17% em Matemática e 27% em
Português; no Ensino médio, 10% e 30% respectivamente. Assustador, não? E o que
dizer de um levantamento que indicou que 14% - isso mesmo, 14% - das escolas
públicas deste país possuem apenas uma sala de aula?
Quando, anos atrás, um homem da
estirpe de Cristovam Buarque, um político que tem a educação como bandeira de
luta, foi defenestrado do Ministério da Educação, eu disse aos meus botões:”Pronto,
esse Governo aí vai tirar nota zero em educação”. E o que se viu foram
episódios vergonhosos como a defesa do falar errado em um livro didático e um
ataque ao idioma de Shakespeare. Um Governo que tem verdadeira ojeriza às
elites só poderia mesmo protagonizar uma vanguarda do retrocesso. E aliado a
essa mentalidade retrógrada aparecem os sindicatos de professores que mantêm
uma aversão permanente à meritocracia. Eu vi o efeito disso em toda a minha
vida escolar, realizada desde o princípio em escolas públicas: enquanto alguns
professores se davam por inteiro aos seus alunos, outros faziam da sala de aula
um campo estéril; isso quando apareciam, porque, até mesmo na faculdade, eu me
deparei com profissionais descompromissados com o corpo discente, ocupados que
ficavam com viagens e com interesses outros ligados à iniciativa privada, mesmo
tendo eles de se manterem em regime de dedicação exclusiva.
O panorama educacional brasileiro
não é nada auspicioso. O Governo pode até celebrar o fato de estar mandando
levas e levas de alunos estudarem no exterior. Eu só quero ver quem é que vai
arcar com a falta cada vez maior de professores, uma verdade inconveniente
cujas consequências não foram ainda avaliadas detidamente. Ao descaso para com
esse ponto, o Governo da presidenta Dilma Rousseff responde com promessas de
recursos bilionários a ser gerados com a exploração do petróleo do pré-sal,
algo tão incerto como contar com o ovo que ainda nem saiu da galinha. O
discurso de que falta dinheiro para que este país possa ter enfim um sistema
educacional que forme alunos com competências e não com deficiências, serve há
décadas como desculpa pelos governantes para encobrir a incompetência de todos
eles. Enquanto isso o Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, que deveria
estar vigorando desde 2011, ainda não foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Enquanto isso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) informa que
a taxa de analfabetismo no país parou de cair pela primeira vez em 20 anos
(Revista Nova Escola, edição nº 267 –
novembro de 2013, p. 12).
Não se concebe que tenhamos um
futuro promissor sem que promovamos melhorias em todos os níveis de ensino. Os
desníveis sociais brasileiros continuarão acentuados enquanto a escola
destinada ao grosso da população permanecer com a configuração de uma caverna
amedrontadora porque desprovida de atrativos. Não se concebe que um país seja
rico e possua uma população econômica e culturalmente pobre, muito pobre.
Em seu livro Educação e mudança (tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes
Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 72) – adquiri um exemplar dias
atrás, num sebo do Recife, por meros R$ 4,00 -, mestre Paulo Freire ressalta
que a alfabetização é mais que o simples domínio mecânico de técnicas para
escrever e ler: “É entender o que se lê e escrever o que se entende”.
Considerando que atualmente este país abriga um contingente de dezenas de
milhões de analfabetos funcionais, uma gente que não consegue ler e entender um
texto simples, nos certificamos do quão distante a nossa sociedade está das que
habitam as nações desenvolvidas.
Os diagnósticos são por demais
conhecidos e as políticas públicas não conseguem reverter a situação calamitosa
em que se encontra o quadro geral da educação brasileira. O Brasil precisa
abandonar de uma vez por todas as amarras da pedagogia do atraso que vem
impedindo que ele alcance e promova um verdadeiro desenvolvimento econômico e
social.
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