Por Clênio Sierra de Alcântara
Todo indivíduo bem informado, que
acompanha o noticiário dos cadernos de Economia de jornais e revistas com
regularidade, sabe que os indicadores do setor relativos à economia brasileira
como um todo tem andado com índices sofríveis de crescimento, o que fica
claríssimo pelo volume de todas as riquezas produzidas pelo país, o Produto
Interno Bruto (PIB), cujo índice não chegou a 3% em 2013.
Num cenário que é descrito por
renomados economistas como preocupante, porque denota que o governo da
Presidente Dilma Rousseff continua preso às amarras de uma política econômica
que não investe como deveria na melhoria e na ampliação da infraestrutura do
país – os portos não têm capacidade de manter suas atividades a pleno vapor, a
rede ferroviária não deslancha e a maioria das rodovias permanece carente de
manutenção -, um dos principais atrativos para investidores, nem tampouco
ensaia qualquer esforço para desatar os nós da burocracia que fazem do Brasil
um dos países mais difíceis para quem busca investir nele, como explicar que os
bancos brasileiros não conheçam tempo ruim e venham, ano após ano, apresentando
vultosos e espantosos lucros?
No último dia 31 de janeiro o
caderno de Economia do Diario de
Pernambuco informou, na página B4, que o Bradesco, o segundo maior banco
privado do país, alcançou em 2013 o lucro líquido (já descontados os impostos)
de R$ 12,2 bilhões. De acordo com a consultoria Economática, o resultado é o
maior já registrado pelo banco na sua história e o quarto maior lucro de uma
instituição financeira no Brasil. Presidente executivo do Bradesco, o senhor
Luiz Carlos Trabuco declarou que os resultados foram bastante satisfatórios,
sobretudo “com o cenário desafiador de 2013” .
Realmente um lucro líquido de R$
12,2 bilhões é mais do que satisfatório; e é uma prova inconteste de que, no
Brasil, aconteça o que acontecer no cenário econômico, os bancos sempre se dão
bem, sempre saem no lucro – alguém aí não lembra que durante a presidência do
sociólogo Fernando Henrique Cardoso promoveu-se o chamado Programa de Estímulo
à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), um
pacotaço elaborado para socorrer os banqueiros sob a justificativa de que, caso
os seus bancos quebrassem, a economia brasileira ficaria em frangalhos, e que
foi copiado pelo presidente metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva?
O ano de 2014 começou com um
aumento de R$ 46,00 no salário mínimo, que passou de R$ 678,00 para R$ 724,00. Como
se sabe, é com um mísero salário mínimo que milhões de brasileiros que recebem
aposentadoria do INSS sobrevivem. Minha avó materna, Maria da Conceição de
Alcântara, brasileira, 85 anos e analfabeta, é um desses milhões de aposentados
que todo mês recebem essa mixaria que, em boa parte, é gasta com a compra de
medicamentos. Há tempos minha avó vinha intrigada com o fato de não receber um
salário mínimo integral; e pediu que eu procurasse saber por que isso estava
ocorrendo.
Muito diligente nem precisei
procurar um funcionário do Bradesco, banco pelo qual há anos ela recebe o
benefício, para esclarecer a situação, bastou que eu retirasse um simples
extrato num caixa eletrônico. Ao examiná-lo – e a esta altura eu estava furioso,
porque odeio esses expedientes – compreendi inteiramente porque o Bradesco
logrou um lucro tão elevado no ano passado: foi, em parte, enganando gente
pobre e ingênua, como minha avó Conceição, que esse banco conseguiu obter lucro
tão espantoso.
Caro leitor, não bastasse o fato
absurdo de esse banco obrigar os aposentados e pensionistas a manter uma conta
corrente ao custo mensal de R$ 14,00 – para quem vive com um salário mínimo,
qualquer desconto faz muita falta -, um operoso, um eficiente, um aplicadíssimo
funcionário do Bradesco, o “segundo maior banco privado do país”, saliente-se
isso, passou a perna na minha adorada avó que, analfabeta, coitada, não sabe
sequer assinar o próprio nome: chamada à sua agência para efetuar a troca do
cartão simples por outro que tem chip – questão de segurança, dizem os
banqueiros, essa gente que sempre pensa com carinho em seus clientes -, minha
avó, minha inocente avó, foi contemplada, sem que em momento algum fosse
informada de tamanha gentileza, por um cartão para efetuar o saque de seu
benefício que é ao mesmo tempo um cartão de crédito. Minha avó foi enganada
pelo muito hábil funcionário do Bradesco; e ainda é obrigada a pagar – está
expresso no extrato – a anuidade de R$ 52,50 (cinquenta e dois reais e cinquenta
centavos), dividida em três parcelas, de um cartão de crédito que ela não
solicitou e nunca utilizou. É ou não é um capitalismo de máximo resultado? É ou
não é algo que pode ser chamado de apropriação indébita, para não fazer uso de
outros termos? É ou não é um meio eficiente de atingir lucros exorbitantes?
Mais uma pergunta: será, leitor, que o que o Bradesco fez com sua cliente Maria
da Conceição de Alcântara, o praticou somente com ela?
Sabemos todos por que os bancos
brasileiros duelam entre si para ver qual deles fica com as contas dos milhões
de aposentados e pensionistas do INSS. Não é por bondade e muito menos por
compromisso social. É porque os bancos veem essas pessoas apenas como
potenciais consumidores de toda a sorte de serviços que eles inventam e,
principalmente, dos nefandos empréstimos consignados, que apresentam risco zero
de calotes. Leitor, ninguém divulga estatísticas a respeito, mas é assustadora
a quantidade de aposentados e pensionistas do INSS que está com grande parte de
seu benefício comprometida com tais empréstimos.
Será que o Governo Federal, será
que o Banco Central, será que o Ministério da Fazenda, será, enfim, que os
órgãos que fiscalizam as operações bancárias deste país não têm conhecimento do
que o Bradesco está fazendo com pessoas como a minha avó? Ou será que o Governo
Federal não estabelece regras e segue as que são ditadas pela Federação
Brasileira de Bancos (Febraban)?
Senhor presidente Luiz Carlos
Trabuco, de antemão eu lhe aviso que vou acionar judicialmente, em nome de sua
cliente Maria da Conceição de Alcântara, minha avó, o banco para o qual vossa
senhoria trabalha, para que, mais do que restituir o dinheiro que a sua
instituição bancária de maneira marota vem retirando dela, restitua a dignidade
que ela e qualquer outro dos seus clientes merecem ter. Dignidade e respeito,
senhor Luiz Carlos Trabuco, é o mínimo que uma instituição que se diz séria e
honesta pode oferecer aos seus clientes e parceiros.
Muito interessante este artigo Clênio Sierra. Isso só nos mostra que o que eles, de fato, querem é o nosso mísero e suado dinheiro.
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