15 de fevereiro de 2014

Nota de repúdio ao Bradesco ou Como obter um lucro líquido de R$ 12,2 bilhões

Por Clênio Sierra de Alcântara

Todo indivíduo bem informado, que acompanha o noticiário dos cadernos de Economia de jornais e revistas com regularidade, sabe que os indicadores do setor relativos à economia brasileira como um todo tem andado com índices sofríveis de crescimento, o que fica claríssimo pelo volume de todas as riquezas produzidas pelo país, o Produto Interno Bruto (PIB), cujo índice não chegou a 3% em 2013.

Num cenário que é descrito por renomados economistas como preocupante, porque denota que o governo da Presidente Dilma Rousseff continua preso às amarras de uma política econômica que não investe como deveria na melhoria e na ampliação da infraestrutura do país – os portos não têm capacidade de manter suas atividades a pleno vapor, a rede ferroviária não deslancha e a maioria das rodovias permanece carente de manutenção -, um dos principais atrativos para investidores, nem tampouco ensaia qualquer esforço para desatar os nós da burocracia que fazem do Brasil um dos países mais difíceis para quem busca investir nele, como explicar que os bancos brasileiros não conheçam tempo ruim e venham, ano após ano, apresentando vultosos e espantosos lucros?

No último dia 31 de janeiro o caderno de Economia do Diario de Pernambuco informou, na página B4, que o Bradesco, o segundo maior banco privado do país, alcançou em 2013 o lucro líquido (já descontados os impostos) de R$ 12,2 bilhões. De acordo com a consultoria Economática, o resultado é o maior já registrado pelo banco na sua história e o quarto maior lucro de uma instituição financeira no Brasil. Presidente executivo do Bradesco, o senhor Luiz Carlos Trabuco declarou que os resultados foram bastante satisfatórios, sobretudo “com o cenário desafiador de 2013”.

Realmente um lucro líquido de R$ 12,2 bilhões é mais do que satisfatório; e é uma prova inconteste de que, no Brasil, aconteça o que acontecer no cenário econômico, os bancos sempre se dão bem, sempre saem no lucro – alguém aí não lembra que durante a presidência do sociólogo Fernando Henrique Cardoso promoveu-se o chamado Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), um pacotaço elaborado para socorrer os banqueiros sob a justificativa de que, caso os seus bancos quebrassem, a economia brasileira ficaria em frangalhos, e que foi copiado pelo presidente metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva?

O ano de 2014 começou com um aumento de R$ 46,00 no salário mínimo, que passou de R$ 678,00 para R$ 724,00. Como se sabe, é com um mísero salário mínimo que milhões de brasileiros que recebem aposentadoria do INSS sobrevivem. Minha avó materna, Maria da Conceição de Alcântara, brasileira, 85 anos e analfabeta, é um desses milhões de aposentados que todo mês recebem essa mixaria que, em boa parte, é gasta com a compra de medicamentos. Há tempos minha avó vinha intrigada com o fato de não receber um salário mínimo integral; e pediu que eu procurasse saber por que isso estava ocorrendo.

Muito diligente nem precisei procurar um funcionário do Bradesco, banco pelo qual há anos ela recebe o benefício, para esclarecer a situação, bastou que eu retirasse um simples extrato num caixa eletrônico. Ao examiná-lo – e a esta altura eu estava furioso, porque odeio esses expedientes – compreendi inteiramente porque o Bradesco logrou um lucro tão elevado no ano passado: foi, em parte, enganando gente pobre e ingênua, como minha avó Conceição, que esse banco conseguiu obter lucro tão espantoso.




Caro leitor, não bastasse o fato absurdo de esse banco obrigar os aposentados e pensionistas a manter uma conta corrente ao custo mensal de R$ 14,00 – para quem vive com um salário mínimo, qualquer desconto faz muita falta -, um operoso, um eficiente, um aplicadíssimo funcionário do Bradesco, o “segundo maior banco privado do país”, saliente-se isso, passou a perna na minha adorada avó que, analfabeta, coitada, não sabe sequer assinar o próprio nome: chamada à sua agência para efetuar a troca do cartão simples por outro que tem chip – questão de segurança, dizem os banqueiros, essa gente que sempre pensa com carinho em seus clientes -, minha avó, minha inocente avó, foi contemplada, sem que em momento algum fosse informada de tamanha gentileza, por um cartão para efetuar o saque de seu benefício que é ao mesmo tempo um cartão de crédito. Minha avó foi enganada pelo muito hábil funcionário do Bradesco; e ainda é obrigada a pagar – está expresso no extrato – a anuidade de R$ 52,50 (cinquenta e dois reais e cinquenta centavos), dividida em três parcelas, de um cartão de crédito que ela não solicitou e nunca utilizou. É ou não é um capitalismo de máximo resultado? É ou não é algo que pode ser chamado de apropriação indébita, para não fazer uso de outros termos? É ou não é um meio eficiente de atingir lucros exorbitantes? Mais uma pergunta: será, leitor, que o que o Bradesco fez com sua cliente Maria da Conceição de Alcântara, o praticou somente com ela?

Sabemos todos por que os bancos brasileiros duelam entre si para ver qual deles fica com as contas dos milhões de aposentados e pensionistas do INSS. Não é por bondade e muito menos por compromisso social. É porque os bancos veem essas pessoas apenas como potenciais consumidores de toda a sorte de serviços que eles inventam e, principalmente, dos nefandos empréstimos consignados, que apresentam risco zero de calotes. Leitor, ninguém divulga estatísticas a respeito, mas é assustadora a quantidade de aposentados e pensionistas do INSS que está com grande parte de seu benefício comprometida com tais empréstimos.

Será que o Governo Federal, será que o Banco Central, será que o Ministério da Fazenda, será, enfim, que os órgãos que fiscalizam as operações bancárias deste país não têm conhecimento do que o Bradesco está fazendo com pessoas como a minha avó? Ou será que o Governo Federal não estabelece regras e segue as que são ditadas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban)?

Senhor presidente Luiz Carlos Trabuco, de antemão eu lhe aviso que vou acionar judicialmente, em nome de sua cliente Maria da Conceição de Alcântara, minha avó, o banco para o qual vossa senhoria trabalha, para que, mais do que restituir o dinheiro que a sua instituição bancária de maneira marota vem retirando dela, restitua a dignidade que ela e qualquer outro dos seus clientes merecem ter. Dignidade e respeito, senhor Luiz Carlos Trabuco, é o mínimo que uma instituição que se diz séria e honesta pode oferecer aos seus clientes e parceiros.


Um comentário:

  1. Muito interessante este artigo Clênio Sierra. Isso só nos mostra que o que eles, de fato, querem é o nosso mísero e suado dinheiro.

    ResponderExcluir