20 de fevereiro de 2014

Patrimônio & Descaso (III)

Por Clênio Sierra de Alcântara



A verdade incômoda que vem amiúde sendo mostrada por especialistas e vivenciada por muitos de nós – eu, por exemplo, concluí o Segundo Grau, que hoje é denominado de Ensino Médio, numa escola na qual cheguei a ficar semestres sem ter professor de uma e outra disciplina -, diz que a educação formal que é oferecida pela maioria dos estabelecimentos de ensino da rede pública e por um número considerável dos da rede particular deste país, não é  de boa qualidade, não pode justificar a ausência da implantação da educação patrimonial nos currículos desses lugares de compartilhamento e difusão de conhecimentos.


Difundir a educação patrimonial desde cedo nas escolas, amplia consideravelmente a chance de convivermos com cidadãos comprometidos com a proteção e salvaguarda do patrimônio histórico, artístico e cultural. Conscientizar crianças e jovens em idade escolar, desde os primeiros anos, possibilita que eles desenvolvam um sentimento de responsabilidade para com o patrimônio a partir do entendimento de que tais bens são frutos de nossas vivências e das dos nossos antepassados; e que o patrimônio representa fases e/ou etapas da evolução humana.


Penso que uma maneira bastante adequada de começar a propagar a ideia de preservação nas aulas de educação patrimonial é fazer um paralelo, uma comparação entre a “memória familiar" ou "particular” e a “memória coletiva”. Podemos mostrar aos estudantes que, do mesmo modo como guardamos em nossas casas objetos, fotografias e documentos a respeito de nós e dos nossos parentes, porque julgamos que eles são importantes a partir do momento que ajudam a contar a história da família à qual pertencemos, existem lugares – como museus, centros culturais, arquivos públicos, bibliotecas – que guardam objetos, fotografias e documentos que dizem respeito a toda sociedade; e que, ao preservá-los, garantimos que elementos de um passado coletivo, de um passado que é de todos, não sejam perdidos.


A noção de patrimônio compreende uma porção de coisas – materiais e imateriais -; e cabe ao exercício permanente de uma educação patrimonial difundir o valor desses elementos desmistificando  a visão – infelizmente ainda hoje disseminada por certas correntes preservacionistas – de que todo e qualquer bem patrimonial material é intocável; e que só cabe a uns poucos a tarefa de preservá-los.






Rua da Aurora, Recife – PE, 24 de novembro de 2013. Os sobrados aqui retratados estão há muitos anos abandonados, tendo o Rio Capibaribe como testemunha dessa degradação.






















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