7 de julho de 2015

Feiras livres (9)

Por Clênio Sierra de Alcântara



Centro histórico (Penedo – AL). Além de abrigar um sítio histórico que é um cenário por demais gracioso, Penedo, a encantadora e fascinante Penedo, cidade que se encontra às margens do Rio São Francisco e que dista a cerca de169 km de Maceió, é cenário de uma feira livre que se estabelece nas proximidades do casario antigo, o que por si só lhe confere um charme todo especial.

No dia 24 de outubro de 2013 eu, que chegara à cidade na tarde do dia anterior, fui conhecer a feira livre com aquela mesma gana que me leva a buscar paisagens por mim desconhecidas. E à medida que eu circulava por entre os bancos de madeira dos feirantes, ia sendo tomado ainda mais por um apego desmedido por Penedo, que me ganhara completamente na véspera com suas feições de coisa preciosa e sua atmosfera de mistério.

Instalada numa área contígua ao sítio histórico, a feira livre, cujo dia mais fervilhante é o sábado, ocupa um espaço que se derrama por várias ruas e é envolta por inúmeros estabelecimentos comerciais. A exemplo de outras feiras do Nordeste, nela se encontra de quase tudo: frutas, verduras e legumes, carnes, roupas e calçados, cereais, objetos de decoração e utensílios domésticos, etc.

Uma vendedora de farinha de mandioca – havia em seu estabelecimento vários tipos de farinha, inclusive uma escura, que eu nunca tinha visto antes e da qual provei e gostei muito – me contou da sua insatisfação com o fato de o Mercado Público, que fora desativado para passar por uma reforma geral, ainda se encontrar fechado. Notei também entre alguns feirantes certo desconforto com relação à falta de cuidado para com o espaço por eles ocupado.

É fato inconteste que o surgimento e a multiplicação dos supermercados com seções de hortifrutigranjeiros tiraram parte do grande público que frequentava as feiras livres. Comodidade de encontrar tudo num só lugar e as diferentes modalidades de pagamento – dinheiro, cartões, tíquetes – tornaram os supermercados locais de consumo bem mais atraentes; e eles são apontados como os responsáveis pelo enfraquecimento dos contingentes que acorriam para as áreas de comércio popular, bem como pela diminuição do número de feirantes em várias localidades nas quais as feiras livres se portavam como uma espécie de instituição dos municípios nos quais aconteciam e acontecem.

A feira livre de Penedo sempre se beneficiou – talvez mais num passado remoto do que hoje – da proximidade com o Rio São Francisco. É que o rio proporciona não apenas uma alternativa mais barata de transporte de mercadorias, mas também possibilita, neste caso, que afluam para lá um público consumidor vindo de outras cidades alagoanas e também sergipanas, como Propriá e, principalmente, Neópolis por meio de vários tipos de embarcação.

No livro Alagoas de Pierre Fatumbi Verger (Cármen Lucia Dantas & Alex Bradel [orgs.]. Maceió: Caleidoscópio, 2010), imagens feitas por esse extraordinário retratista francês – ele desembarcou na atraente Penedo em 11 de maio de 1947, em pleno dia de feira. A propósito Cármen Lucia comentou: “O fotógrafo circulou por entre jarros e panelas de barro, esteiras de biri-biri, covos de tabocas, cestos de cipó e tudo mais que chegava das vilas e povoados próximos para o grande acontecimento público que é, ainda hoje, a feira do sábado” (op. cit. p. 28) – registraram o movimento de desembarque de mercadorias na beira do rio, na Rua da Praia, no dia de feira; além de flagrantes do burburinho da feira propriamente dita, um conjunto documental rico e belíssimo.

Em Penedo o casario antigo, a feira livre e o rio constituem um universo marcado preponderantemente por uma simbiose que une de maneira harmoniosa a paisagem, o homem e suas necessidades mais comezinhas de sobrevivência.

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