Por Clênio Sierra de
Alcântara
Centro
histórico (Penedo – AL). Além de abrigar um sítio histórico que
é um cenário por demais gracioso, Penedo, a encantadora e fascinante Penedo,
cidade que se encontra às margens do Rio São Francisco e que dista a cerca de169
km de Maceió, é cenário de uma feira livre que se estabelece nas proximidades
do casario antigo, o que por si só lhe confere um charme todo especial.
No dia 24 de outubro de 2013
eu, que chegara à cidade na tarde do dia anterior, fui conhecer a feira livre
com aquela mesma gana que me leva a buscar paisagens por mim desconhecidas. E à
medida que eu circulava por entre os bancos de madeira dos feirantes, ia sendo
tomado ainda mais por um apego desmedido por Penedo, que me ganhara
completamente na véspera com suas feições de coisa preciosa e sua atmosfera de
mistério.
Instalada numa área contígua
ao sítio histórico, a feira livre, cujo dia mais fervilhante é o sábado, ocupa
um espaço que se derrama por várias ruas e é envolta por inúmeros
estabelecimentos comerciais. A exemplo de outras feiras do Nordeste, nela se
encontra de quase tudo: frutas, verduras e legumes, carnes, roupas e calçados,
cereais, objetos de decoração e utensílios domésticos, etc.
Uma vendedora de farinha de
mandioca – havia em seu estabelecimento vários tipos de farinha, inclusive uma
escura, que eu nunca tinha visto antes e da qual provei e gostei muito – me
contou da sua insatisfação com o fato de o Mercado Público, que fora desativado
para passar por uma reforma geral, ainda se encontrar fechado. Notei também
entre alguns feirantes certo desconforto com relação à falta de cuidado para
com o espaço por eles ocupado.
É fato inconteste que o
surgimento e a multiplicação dos supermercados com seções de
hortifrutigranjeiros tiraram parte do grande público que frequentava as feiras
livres. Comodidade de encontrar tudo num só lugar e as diferentes modalidades
de pagamento – dinheiro, cartões, tíquetes – tornaram os supermercados locais
de consumo bem mais atraentes; e eles são apontados como os responsáveis pelo
enfraquecimento dos contingentes que acorriam para as áreas de comércio
popular, bem como pela diminuição do número de feirantes em várias localidades
nas quais as feiras livres se portavam como uma espécie de instituição dos
municípios nos quais aconteciam e acontecem.
A feira livre de Penedo
sempre se beneficiou – talvez mais num passado remoto do que hoje – da
proximidade com o Rio São Francisco. É que o rio proporciona não apenas uma
alternativa mais barata de transporte de mercadorias, mas também possibilita,
neste caso, que afluam para lá um público consumidor vindo de outras cidades
alagoanas e também sergipanas, como Propriá e, principalmente, Neópolis por
meio de vários tipos de embarcação.
No livro Alagoas de Pierre Fatumbi Verger (Cármen
Lucia Dantas & Alex Bradel [orgs.]. Maceió: Caleidoscópio, 2010), imagens
feitas por esse extraordinário retratista francês – ele desembarcou na atraente
Penedo em 11 de maio de 1947, em pleno dia de feira. A propósito Cármen Lucia
comentou: “O fotógrafo circulou por entre jarros e panelas de barro, esteiras
de biri-biri, covos de tabocas, cestos de cipó e tudo mais que chegava das
vilas e povoados próximos para o grande acontecimento público que é, ainda
hoje, a feira do sábado” (op. cit. p. 28) – registraram o movimento de desembarque
de mercadorias na beira do rio, na Rua da Praia, no dia de feira; além de
flagrantes do burburinho da feira propriamente dita, um conjunto documental
rico e belíssimo.
Em Penedo o casario antigo,
a feira livre e o rio constituem um universo marcado preponderantemente por uma
simbiose que une de maneira harmoniosa a paisagem, o homem e suas necessidades
mais comezinhas de sobrevivência.
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