Por Clênio Sierra de Alcântara
Não sei por que tanta gente insiste ainda em dizer que santo de casa não faz milagre. Faz, sim, que eu já vi. E aí está a cirandeira Lia para confirmar que isso é verdade. Depois de um bom tempo sem se apresentar em sua terra natal, a Ilha de Itamaracá, a negona carismática por demais e muito querida pelos ilhéus, fez um show no último sábado no Bar e Restaurante do Diel, na orla de Jaguaribe, bem próximo ao pedaço de chão no qual ela vem lutando – e eu estou nessa batalha junto com ela – para que o seu centro cultural seja reconstruído.
A apresentação de Lia integrou o V Encontro Cores Femininas, promovido pelo Movimento Social e Cultural Cores do Amanhã, cuja sede está localizada na Rua Garota de Ipanema, no bairro do Totó, no Recife. Sob a coordenação de Jouse Barata, o Cores do Amanhã é uma iniciativa que vem atuando desde 2009 e que busca promover práticas educativas através das artes, inserindo crianças, adolescentes e jovens num contexto em que eles se compreendam conscientes de que podem mudar a realidade em que vivem.
Quando as meninas chegaram à Itamaracá montaram “acampamento” na casa de Beto Hees, o incansável e diligente produtor de Lia. Espécie de abrigo temporário para artistas, o imóvel ficou lotado. Brasileiras de diversos estados e também argentinas e chilenas se juntaram nesse encontro de todo louvável no qual celebraram não só a força do poder feminino frente aos desafios de um mundo que teima em preservar seus tentáculos misóginos, bem como expuseram seus dotes artísticos como um rito de afirmação de suas personalidades e de seus modos de ser.
As meninas do Cores do Amanhã se puseram a grafitar as paredes e os muros da casa que lhes abrigou: talento para todos os lados |
Miss Simpatia: Andrea Santo, a Malandra, terminando la pintura de su diablo: não é um diabo do mal, ela me explicou, mas uma entidade que faz travessuras, como o Saci Pererê do folclore brasileiro |
A simpaticíssima artista portenha Andrea Santo, que atende também pelo nome de Malandra, deu uma pausa no grafite que executava para charlar un poco conmigo. Contou que no ano passado participou de um evento que reuniu mulheres artistas em Lima, no Peru; e que tomou conhecimento do evento do Recife – ele teve início no dia 11 e se estendeu até o dia 18 de outubro – através dos contatos que manteve com amigas peruanas. Malandra me contou ainda que trabalha com outra atividade para se sustentar; e que nos fins de semana busca aprender e exercitar sua veia artística; e, quando lhe perguntei se pertencia a algum grupo, ela completou: “Soy una artista independiente. No sé por qué no me gusta de estar en un grupo [...] Por ahora nunca me sucedió; siempre voy cambiando de lugar. Tengo un tiempo limitado para pintar. Gustaría de conocer más gente”.
Choveu um pouco e depois parou. A noite, que estava fria, começou a esquentar à medida que os sons principiaram a chamar as pessoas para a areia da praia. E quando tornou a chover o pessoal já estava com as pernas bambas de tanto dançar. Caso alguém naquele instante dissesse: “Paso la vez”, ya era tarde, muy tarde. E Goretti Costa ali, aproveitando a festa, ao mesmo tempo em que seu pensamento imaginava a pessoa pequenina do netinho Arthur Felipe que estava para chegar ao mundo ainda naquela noite.
As batuqueiras do Flores do Monte foram as responsáveis por dar início aos sons que tomaram a noite de Jaguaribe. Com carisma e talento elas deram conta do seu recado |
Quem abriu os trabalhos foram as batuqueiras do Flores do Monte, que fizeram uma mistura de ritmos, tocando predominantemente maracatu. No meio da multidão, Luciana Campos e Nilson Júnior, Cristiano Galvão e Marize Carla curtiam aquele bom momento de descontração. E eis que Biu Negão no trombone, Bibiu no pistom e Tom Jaime no saxofone anunciaram, até para Iemanjá, que Lia de Itamaracá, a grande rainha da ciranda, se encontrava de novo ali no seu querido Jaguaribe para botar o povo para dançar. E tome ciranda, porque a negona estava com saudade de sua gente e cantou com gosto de gás durante mais de uma hora. Ela abriu um espaço em sua apresentação para que um negão charmoso e de vozeirão marcante chamado Zeca do Rolete azeitasse o negócio comandando o seu grupo. E tome coco nas canelas. Eta que tava bom, que tava danado! Novamente de posse do microfone, Lia emendou mais algumas cirandas; e o povo nada de querer deixar a bichinha ir “dormir, dormir, dormir, dormir”.
Ah, que coisa boa da gota! E
ainda teve rap e hip hop, que a festa ali não tinha hora para acabar. E tome som na
cabeça. Quem foi viu, provou e gostou. E quem não foi, quem ficou em casa rindo
com piada sem graça ou vasculhando a vida dos outros no Facebook em vez de viver a sua própria, ah, esses não fazem ideia
do que perderam.
Hola Sierra!
ResponderExcluircómo estás?
Gracias a la tarjeta que me diste pude encontrar tu blog.
Muchas gracias por la nota y por la charla, que encontré muy amena y con muchos intereses en común. No siempre se puede tener ese nivel de charla tan espontáneamente, la disfrute mucho.
Hace una semana volvi del Encuentro, y debo confesar que frente a tal estimulo, la vida común parece gris. Fueron días muy intensos, comparti vivencias e historias con otras artistas, conocí un poco más de Brasil y su gente... y con sabor a poco me fui. Con una promesa silenciosa de volver pronto.
Voy a poner a trabajar mi incipiente nivel de portugués para continuar leyendo y disfrutando de tu blog.
Un gusto haberte conocido! espero que podamos seguir en contacto.
Saludos!
Malandra/Andrea.
Gracias, querida!
ExcluirEstoy ahora en João Pessoa, la capital de la Paraíba aprovechando mis últimos días de ferias. Espero que tengas êxito en tus buscas porque es así que debe ser: luchamos todo el tiempo para que nuestros deseos y proyectos se transformen en realidad.
Besos!
Sierra