Por Clênio Sierra de Alcântara
Eu estava curtindo umas
merecidas férias na capital paraibana quando, lendo uma edição do jornal Contraponto, tomei conhecimento de que
no domingo, 25 de outubro, a partir das 20:00 h, iria ocorrer mais uma edição
do projeto Music From Paraíba, no
Teatro de Arena do Espaço Cultural José Lins do Rego, localizado no bairro de
Tambauzinho. Embora com relativa frequência em visite aquela cidade e seja uma
pessoa que mantém um interesse permanente e enorme por música – em plena era
dos downloads e tal, eu continuo
comprando discos -, até então eu não conhecia o projeto que, segundo informa o
Caderno B daquele periódico, tem por objetivo divulgar, no Brasil e no exterior,
músicas dos mais diversos gêneros de artistas paraibanos ou que sejam radicados
na Paraíba; e é uma iniciativa do Governo do Estado por meio da Fundação
Cultural da Paraíba (Funesc) e que conta, atualmente, com o apoio da indústria
de cerâmica Elizabeth.
Como forma de promover tal
divulgação, foram gravados quatro cd’s nesta edição contendo ao todo setenta e
uma músicas – infelizmente, segundo me disseram, os discos são distribuídos em
eventos da indústria da música e não são comercializados - ; e os artistas
percorrem com o projeto várias cidades paraibanas para que também sejam conhecidos
em sua terra – na capital as apresentações ocorrem todos os meses sempre aos
domingos no Teatro de Arena.
A rima é boa, pode crer, e o rapper Pertnaz fez tudo certinho e mandou ver |
Eu, que tudo faço para que
minha pernambucanidade conviva em harmonia com a paraibanidade que me cativa um
pouco a cada dia, pus uma bermuda, uma camiseta e umas alpercatas de couro e
rumei para o tal teatro a fim de prestigiar o evento. Encontrei um público
animado tomando umas e outras e fumando uns cigarrinhos de mato seco.
Depois de um atraso de quase
uma hora quem abriu a programação foi o rapper
Pertnaz, nome artístico do jovem Yuri Serra da Cunha, que fez uma
apresentação sem firulas que contou com a colaboração de alguns dos seus parceiros.
Muito bom. Pertnaz não foge à figura, digamos, típica do rap: ele escreve letras com críticas aos desarranjos sociais e,
também, consegue ser festeiro. A outra atração da noite foi uma muito
envolvente e animada banda chamada Mafiota. Mesclando composições autorais como
“Devassa” e “Rua da Areia” com covers
de influências para a banda como os Paralamas do Sucesso, a Mafiota demonstrou
que já tem uma legião de seguidores e fez uma apresentação que botou o povo
para balançar o esqueleto – inclusive eu, que não parei quieto.
Quando fiquei sabendo da
existência do Music From Paraíba vibrei
com a iniciativa dizendo para mim mesmo que esse é um tipo de projeto que deveria
existir em todas as outras unidades da federação como forma de dar visibilidade
a artistas que merecem ser conhecidos nem que seja apenas pelo público dos
lugares onde nasceram e desenvolveram seus trabalhos, mas também como política
de Estado, promovendo cultura em parceria com empresas privadas, como é o caso
da proposta paraibana. Ao chegar ao Teatro de Arena, no entanto, fiquei
desapontado com a organização do projeto. Por que não distribuir material
informativo, afinal, creio, eu não era o único forasteiro que se dirigira até
lá? Além disso, por que não pôr à venda discos dos artistas que tomaram parte na
coletânea ou mesmo a própria? Outra indagação: será que esses artistas
contemplados pelo projeto têm recursos para financiarem a gravação de um disco?
Na terça-feira, dois dias
após a realização do evento eu me dirigi a dois estabelecimentos de João Pessoa
que comercializam discos – a Paraybolica, uma lojinha supertransada que fica
dentro do Espaço Cultural José Lins do Rego, e a Música Urbana, esta localizada
na Rua Visconde de Pelotas, no Centro, um simpático cantinho para os amantes da
música que ainda não recebe cartão de crédito e onde eu comprei o lançamento da
Zabelê para o meu irmão e umas coisas bem legais para eu curtir: Bruno E,
Wilson Simoninha e companhia – em busca de trabalhos de artistas populares. Tem
Vó Mera? Não. Tem Mané Baixinho? Não. E o pessoal da ciranda de Lucena? Também
não. “Ora essa – eu disse cá com os meus botões -, então quer dizer que o
Governo do Estado da Paraíba mantém uma iniciativa arretada como o Music From Paraíba, mas não promove, por
outro lado, a salvaguarda da memória dos artistas, principalmente dos
enquadrados na categoria cultura popular que, historicamente, neste país,
sempre foram tratados como artistas de segunda classe?”.
A maneira como foi concebido
e o modo como tem sido conduzido fazem do Music
From Paraíba, sem dúvida alguma, uma vitrine e tanto para a música que é produzida
atualmente na terra de Elba Ramalho, Zé Ramalho, Renata Arruda, Chico César e
outros tantos. Contudo, penso eu que tal projeto alcançaria bem maior
relevância caso possibilitasse que artistas de reconhecido valor para a cultura
popular paraibana, como os já citados Vó Mera e Mané Baixinho, conseguissem registrar
em discos autorais ao menos parte do trabalho que há anos eles vêm
desenvolvendo e que se perderá caso não recebam apoio para tanto. Compreendo que
tão importante quanto fazer saber da existência dos artistas é contribuir para
que eles possam efetivamente legar para a posteridade a matéria genuína de suas
artes.
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