13 de novembro de 2015

Ecoando os sons da Paraíba para o mundo

Por Clênio Sierra de Alcântara


Políticas culturais como o Music From Paraíba possibilitam que artistas mostrem suas caras para um público amplo que de outra forma, talvez, eles não conseguissem alcançar. Por outro lado é preciso que eles recebam também apoio para que consigam fazer registros de seus trabalhos



Eu estava curtindo umas merecidas férias na capital paraibana quando, lendo uma edição do jornal Contraponto, tomei conhecimento de que no domingo, 25 de outubro, a partir das 20:00 h, iria ocorrer mais uma edição do projeto Music From Paraíba, no Teatro de Arena do Espaço Cultural José Lins do Rego, localizado no bairro de Tambauzinho. Embora com relativa frequência em visite aquela cidade e seja uma pessoa que mantém um interesse permanente e enorme por música – em plena era dos downloads e tal, eu continuo comprando discos -, até então eu não conhecia o projeto que, segundo informa o Caderno B daquele periódico, tem por objetivo divulgar, no Brasil e no exterior, músicas dos mais diversos gêneros de artistas paraibanos ou que sejam radicados na Paraíba; e é uma iniciativa do Governo do Estado por meio da Fundação Cultural da Paraíba (Funesc) e que conta, atualmente, com o apoio da indústria de cerâmica Elizabeth.


Como forma de promover tal divulgação, foram gravados quatro cd’s nesta edição contendo ao todo setenta e uma músicas – infelizmente, segundo me disseram, os discos são distribuídos em eventos da indústria da música e não são comercializados - ; e os artistas percorrem com o projeto várias cidades paraibanas para que também sejam conhecidos em sua terra – na capital as apresentações ocorrem todos os meses sempre aos domingos no Teatro de Arena.
A rima é boa, pode crer, e o rapper Pertnaz fez tudo certinho e mandou ver



Eu, que tudo faço para que minha pernambucanidade conviva em harmonia com a paraibanidade que me cativa um pouco a cada dia, pus uma bermuda, uma camiseta e umas alpercatas de couro e rumei para o tal teatro a fim de prestigiar o evento. Encontrei um público animado tomando umas e outras e fumando uns cigarrinhos de mato seco.

Depois de um atraso de quase uma hora quem abriu a programação foi o rapper Pertnaz, nome artístico do jovem Yuri Serra da Cunha, que fez uma apresentação sem firulas que contou com a colaboração de alguns dos seus parceiros. Muito bom. Pertnaz não foge à figura, digamos, típica do rap: ele escreve letras com críticas aos desarranjos sociais e, também, consegue ser festeiro. A outra atração da noite foi uma muito envolvente e animada banda chamada Mafiota. Mesclando composições autorais como “Devassa” e “Rua da Areia” com covers de influências para a banda como os Paralamas do Sucesso, a Mafiota demonstrou que já tem uma legião de seguidores e fez uma apresentação que botou o povo para balançar o esqueleto – inclusive eu, que não parei quieto.

Quando fiquei sabendo da existência do Music From Paraíba vibrei com a iniciativa dizendo para mim mesmo que esse é um tipo de projeto que deveria existir em todas as outras unidades da federação como forma de dar visibilidade a artistas que merecem ser conhecidos nem que seja apenas pelo público dos lugares onde nasceram e desenvolveram seus trabalhos, mas também como política de Estado, promovendo cultura em parceria com empresas privadas, como é o caso da proposta paraibana. Ao chegar ao Teatro de Arena, no entanto, fiquei desapontado com a organização do projeto. Por que não distribuir material informativo, afinal, creio, eu não era o único forasteiro que se dirigira até lá? Além disso, por que não pôr à venda discos dos artistas que tomaram parte na coletânea ou mesmo a própria? Outra indagação: será que esses artistas contemplados pelo projeto têm recursos para financiarem a gravação de um disco?



Foto: Joka Chaves   À frente, os danadinhos da Mafiota. Atrás, o pessoal que aproveitou cada minuto da apresentação do grupo - inclusive eu, que sou aquele ali, de pé, de camiseta vermelha e barbudo. Acharam-me ou não?


Na terça-feira, dois dias após a realização do evento eu me dirigi a dois estabelecimentos de João Pessoa que comercializam discos – a Paraybolica, uma lojinha supertransada que fica dentro do Espaço Cultural José Lins do Rego, e a Música Urbana, esta localizada na Rua Visconde de Pelotas, no Centro, um simpático cantinho para os amantes da música que ainda não recebe cartão de crédito e onde eu comprei o lançamento da Zabelê para o meu irmão e umas coisas bem legais para eu curtir: Bruno E, Wilson Simoninha e companhia – em busca de trabalhos de artistas populares. Tem Vó Mera? Não. Tem Mané Baixinho? Não. E o pessoal da ciranda de Lucena? Também não. “Ora essa – eu disse cá com os meus botões -, então quer dizer que o Governo do Estado da Paraíba mantém uma iniciativa arretada como o Music From Paraíba, mas não promove, por outro lado, a salvaguarda da memória dos artistas, principalmente dos enquadrados na categoria cultura popular que, historicamente, neste país, sempre foram tratados como artistas de segunda classe?”.

A maneira como foi concebido e o modo como tem sido conduzido fazem do Music From Paraíba, sem dúvida alguma, uma vitrine e tanto para a música que é produzida atualmente na terra de Elba Ramalho, Zé Ramalho, Renata Arruda, Chico César e outros tantos. Contudo, penso eu que tal projeto alcançaria bem maior relevância caso possibilitasse que artistas de reconhecido valor para a cultura popular paraibana, como os já citados Vó Mera e Mané Baixinho, conseguissem registrar em discos autorais ao menos parte do trabalho que há anos eles vêm desenvolvendo e que se perderá caso não recebam apoio para tanto. Compreendo que tão importante quanto fazer saber da existência dos artistas é contribuir para que eles possam efetivamente legar para a posteridade a matéria genuína de suas artes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário