20 de novembro de 2015

Eles não nos vencerão!

Por Clênio Sierra de Alcântara




Não é o caso de apenas lamentar; é preciso reagir com todos os meios para banir o terrorismo do mundo



Diariamente, ao redor do mundo, homens, mulheres e crianças – e animais – sofrem as maiores atrocidades praticadas pela ação do próprio homem. Estupros, assassinatos, espancamentos, humilhações, cerceamento e/ou privação total da liberdade... A lista das coisas ruins que o ser humano é capaz de praticar contra o seu semelhante é bastante extensa. A covardia, a ganância, a prepotência, a tirania, a inveja, a intolerância, a misoginia, o preconceito social e racial, a homofobia, o abuso de poder... O arcabouço das nossas chagas interiores é duramente firme. E quando a razão se põe a maquinar maldades, não há quem nos segure: inventamos câmaras de gás e bombas atômicas para aniquilar o maior número possível de indivíduos; elaboramos justificativas as mais estapafúrdias para promover escravização em massa; redigimos os mais eloquentes textos para legitimar a submissão das mulheres e propagar a aversão irrestrita aos homossexuais; criamos até deuses para que digamos que é em honra aos seus nomes e professando suas sabedorias que praticamos barbaridades e abatemos os desgraçados que não se alinham com suas doutrinas. Carregamos dentro de nós um ódio primordial contra os nossos semelhantes. Definitivamente contra a estupidez e a perversidade humanas não há quem possa.

Nesse verdadeiro quadro de horror que marca o convívio social, as ações de grupos terroristas têm feito com que o medo, a insegurança e a desconfiança para com os nossos pares adquiram um grau de quase paranoia. As imagens que mostram homens e mulheres-bomba trajando vestes carregadas de explosivos, bem como os rituais macabros em que eles tiram a vida de todos aqueles que são apontados como inimigos, incomodam mesmo num mundo no qual todos os dias milhares de pessoas são assassinadas. Mesmo num mundo tão intensamente violento e hostil, as ações de extremistas conseguem causar algum espanto e indignação.

Embora ainda estejam em andamento, tudo leva a crer que foram radicais que se dizem seguidores de Maomé que abateram um avião de turistas no Egito e que detonaram bombas em meio a uma manifestação pacífica que ocorria numa praça da Turquia, semanas atrás.

Hoje faz sete dias que o terror voltou a derramar sangue e ceifar vidas em território francês. Paris, a “cidade-luz”, se viu outra vez mergulhada na escuridão desesperadora provocada por uma horda que diz agir em nome de Alá. A carnificina, apontaram alguns analistas, foi uma resposta do Estado Islâmico ao fato de a França integrar a coalizão que vem tentando acabar com seus postos e, assim, fazer cessar a onda de mortes e destruição que os seus seguidores vêm espalhando por onde passam. Não é que o Estado Islâmico necessite de uma justificativa para empreender ações como as que marcaram as ruas parisienses, uma vez que as mentes doentias de seus membros já são tomadas por pensamentos os mais abomináveis contra tudo e contra todos que não se enquadrem em suas visões estreitas e toscas de mundo. Ao promoverem ataques como os ocorridos no último dia 13, eles certamente buscam intimidar os opositores ao seu propósito de erguer um califado dominado pelo que de mais retrógrado e obscurantista possa existir. Será que Maomé apoiaria uma causa como essa?

Os membros do Estado Islâmico e de todos os outros grupos terroristas que se fundamentam na doutrina do Islão para legitimar seus intentos, querem a todo custo fazer ruir os pilares da civilização, os fundamentos que fizeram com que, a despeito do sem-número de mazelas que infestam o mundo – alguém sabe dizer quantas pessoas ao redor do planeta não têm garantidas diariamente uma porção mínima que seja de comida? -, buscássemos de alguma forma manter íntegros os valores e as virtudes com os quais conseguimos, na maioria das vezes, dominar a animalidade que também nos constitui.

Não podemos e nem devemos baixar a guarda para o terror que está a nos espreitar. Todos os países que são lastreados pelo regime democrático de direito devem lançar mão de todos os meios para impedir que o terrorismo dissemine sua sanha no seio das sociedades que não compactuam com a pregação que os homens-bomba professam. Os desajustados não merecem e não podem conviver com todos aqueles que dia após dia lutam para reprimir os instintos ruins que cada um de nós carrega dentro de si, porque de outra forma não conseguiremos manter em marcha progressiva o processo civilizatório que garantiu a nossa existência até aqui.


Eles tudo farão, mas não conseguirão nos derrotar. Enquanto alguns proclamam a guerra, outros acenam com a paz; enquanto uns destroem a natureza, outros se empenham para preservá-la; enquanto tantos agem com intolerância, outros abrem os braços para acolher... Os bons sentimentos ainda são as maiores forças e belezas da humanidade. Estufemos o peito. Conservemos a confiança no futuro. Mantenhamos a coragem necessária para que sigamos em frente. O terror jamais triunfará. Eles não nos vencerão!


(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], nº 180, Novembro de 2015, Opinião, p. 2).

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