Não é o caso de apenas lamentar; é preciso reagir com todos os meios para banir o terrorismo do mundo |
Diariamente, ao redor do
mundo, homens, mulheres e crianças – e animais – sofrem as maiores atrocidades
praticadas pela ação do próprio homem. Estupros, assassinatos, espancamentos,
humilhações, cerceamento e/ou privação total da liberdade... A lista das coisas
ruins que o ser humano é capaz de praticar contra o seu semelhante é bastante
extensa. A covardia, a ganância, a prepotência, a tirania, a inveja, a
intolerância, a misoginia, o preconceito social e racial, a homofobia, o abuso
de poder... O arcabouço das nossas chagas interiores é duramente firme. E
quando a razão se põe a maquinar maldades, não há quem nos segure: inventamos
câmaras de gás e bombas atômicas para aniquilar o maior número possível de
indivíduos; elaboramos justificativas as mais estapafúrdias para promover
escravização em massa; redigimos os mais eloquentes textos para legitimar a
submissão das mulheres e propagar a aversão irrestrita aos homossexuais;
criamos até deuses para que digamos que é em honra aos seus nomes e professando
suas sabedorias que praticamos barbaridades e abatemos os desgraçados que não
se alinham com suas doutrinas. Carregamos dentro de nós um ódio primordial
contra os nossos semelhantes. Definitivamente contra a estupidez e a
perversidade humanas não há quem possa.
Nesse verdadeiro quadro de
horror que marca o convívio social, as ações de grupos terroristas têm feito
com que o medo, a insegurança e a desconfiança para com os nossos pares
adquiram um grau de quase paranoia. As imagens que mostram homens e
mulheres-bomba trajando vestes carregadas de explosivos, bem como os rituais
macabros em que eles tiram a vida de todos aqueles que são apontados como inimigos,
incomodam mesmo num mundo no qual todos os dias milhares de pessoas são
assassinadas. Mesmo num mundo tão intensamente violento e hostil, as ações de
extremistas conseguem causar algum espanto e indignação.
Embora ainda estejam em
andamento, tudo leva a crer que foram radicais que se dizem seguidores de Maomé
que abateram um avião de turistas no Egito e que detonaram bombas em meio a uma
manifestação pacífica que ocorria numa praça da Turquia, semanas atrás.
Hoje faz sete dias que o
terror voltou a derramar sangue e ceifar vidas em território francês. Paris, a
“cidade-luz”, se viu outra vez mergulhada na escuridão desesperadora provocada
por uma horda que diz agir em nome de Alá. A carnificina, apontaram alguns
analistas, foi uma resposta do Estado Islâmico ao fato de a França integrar a
coalizão que vem tentando acabar com seus postos e, assim, fazer cessar a onda
de mortes e destruição que os seus seguidores vêm espalhando por onde passam.
Não é que o Estado Islâmico necessite de uma justificativa para empreender
ações como as que marcaram as ruas parisienses, uma vez que as mentes doentias
de seus membros já são tomadas por pensamentos os mais abomináveis contra tudo
e contra todos que não se enquadrem em suas visões estreitas e toscas de mundo.
Ao promoverem ataques como os ocorridos no último dia 13, eles certamente
buscam intimidar os opositores ao seu propósito de erguer um califado dominado
pelo que de mais retrógrado e obscurantista possa existir. Será que Maomé
apoiaria uma causa como essa?
Os membros do Estado
Islâmico e de todos os outros grupos terroristas que se fundamentam na doutrina
do Islão para legitimar seus intentos, querem a todo custo fazer ruir os
pilares da civilização, os fundamentos que fizeram com que, a despeito do
sem-número de mazelas que infestam o mundo – alguém sabe dizer quantas pessoas
ao redor do planeta não têm garantidas diariamente uma porção mínima que seja
de comida? -, buscássemos de alguma forma manter íntegros os valores e as
virtudes com os quais conseguimos, na maioria das vezes, dominar a animalidade
que também nos constitui.
Não podemos e nem devemos
baixar a guarda para o terror que está a nos espreitar. Todos os países que são
lastreados pelo regime democrático de direito devem lançar mão de todos os meios
para impedir que o terrorismo dissemine sua sanha no seio das sociedades que
não compactuam com a pregação que os homens-bomba professam. Os desajustados
não merecem e não podem conviver com todos aqueles que dia após dia lutam para
reprimir os instintos ruins que cada um de nós carrega dentro de si, porque de
outra forma não conseguiremos manter em marcha progressiva o processo
civilizatório que garantiu a nossa existência até aqui.
Eles tudo farão, mas não
conseguirão nos derrotar. Enquanto alguns proclamam a guerra, outros acenam com
a paz; enquanto uns destroem a natureza, outros se empenham para preservá-la;
enquanto tantos agem com intolerância, outros abrem os braços para acolher... Os
bons sentimentos ainda são as maiores forças e belezas da humanidade. Estufemos
o peito. Conservemos a confiança no futuro. Mantenhamos a coragem necessária
para que sigamos em frente. O terror jamais triunfará. Eles não nos vencerão!
(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], nº 180, Novembro de 2015, Opinião, p. 2).
(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], nº 180, Novembro de 2015, Opinião, p. 2).
Ótima reflexão... Parabéns pelo excelente texto, Clênio. Abraço
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