14 de janeiro de 2016

Crônicas de ônibus (V)

Por Clênio Sierra de Alcântara


Fotos: do autor   Av. Epitácio Pessoa, que atravessa alguns bairros de João Pessoa, Paraíba, em direção à orla (24/10/2015. Nesta foto aparece o busto do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, o Tio Pita, como dizia Gilberto Freyre



A entrada em operação do ônibus tipo BRT no itinerário Igaraçu/Recife causou certa sensação nos usuários porque passamos a usufruir de um serviço bem menos ruim do que antes era oferecido. É claro que a lotação continuou a ocorrer, mas relevamos isso porque consideramos que, mesmo quando lotado, nos confortava o fato de a viagem ser mais rápida, uma vez que ele parava em um número menor de pontos – estações, como se preferiu chamá-los -; além do que, havia o conforto do ar refrigerado.





















Atravessávamos a cidade de Olinda quando aconteceu o embarque daquela pessoa fantasiada de palhaço que, em princípio, não conseguíamos distinguir – melhor dizendo, eu não consegui – se se tratava de um homem ou de uma mulher. A fantasia era bem elaborada; e completando-a o artista ambulante – sim, era um homem – portava um equipamento sonoro que tocava músicas. Não sei se alguém espalhara naquele coletivo a essência da indiferença; o fato foi que parecíamos – todos nós – estar surpresos e ao mesmo tempo incomodados com a presença daquele rapaz ali.

















- Boa tarde, pessoal!, ele saudou os passageiros e ninguém respondeu.

- Obrigado pelo silêncio, vocês são muito educados, ele disse.

Pelo tom que ele conferiu à sua fala eu cheguei a imaginar que, a partir dali, mais do que com indiferença, seria com desprezo que sua performance seria tratada. E ele se pôs a falar que era um artista e tal e que se apresentava nos ônibus para ganhar algum dinheiro. E fez lá seu showzinho desenxabido sem conseguir animar o público.

- Muito obrigado pelos aplausos, ele falou novamente com ironia, claro, pois nenhuma criatura que ali se encontrava o aplaudira.

Talvez se conformando com o fato de que entrara no ônibus errado e que não estava mesmo agradando, o palhacinho que, em princípio pusera a Beyoncé tocando em seu aparelho, que trazia junto ao peito, se dirigiu àquele público indiferente pela última vez:

- Obrigado pelo apoio incrível que vocês dão aos artistas populares.



E desembarcou na estação mais próxima sem ganhar uma moedinha sequer. Quanto a nós – e eu não escutei qualquer comentário sobre o que se passara ali – continuamos a nos manter ensimesmados, metidos com nossas próprias atuações – eu, por exemplo, retomei a leitura que vinha fazendo desde que embarcara no terminal de Igaraçu.







































































Como eu ia dizendo, a entrada em operação do ônibus tipo BRT...


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