Por Clênio Sierra de
Alcântara
Voltei pra casa. E estar aqui me basta |
Desde que eu me aventurei
como blogger há quatro anos, fui
constantemente estimulado por alguns conhecidos para que aderisse também às
chamadas redes sociais, como o Twitter
e o Facebook, a fim de que
conseguisse angariar mais audiência para o meu blog. Por tudo o que eu sabia dos famigerados Facebook e Twitter eu
repetidamente dizia às pessoas que eu estimo muito, como o meu querido Aderbal
Lima, que eu não sentia a menor, a menorzinha vontade de tomar parte, de
participar, de pertencer, de me incluir na exótica fauna das redes sociais,
como não tivera durante o ciclo de vida do Orkut.
A outros que insistiam em me importunar com essa ideia estapafúrdia, eu dizia
que tinha/tenho plena consciência de que o público que porventura se
interessaria pelo que escrevo não se encontraria naqueles ambientes, porque as
pessoas que ali se encontram, em sua maioria absoluta, estão habituadas a
tratar de futilidades e ler coisas que não se estendam por mais de cinco
linhas.
Ocorreu que, num instante de
delírio e perturbação de consciência, eu me deixei ser seduzido pelo canto da
sereia virtual e resolvi, no último dia nove de dezembro, abrir uma conta no Facebook – dias depois abriria uma no Twitter -, acreditando que em pouco
tempo, mesmo que fosse apenas para ver as fotografias, vários facebookanianos
e twitterianos iriam dar uma passadinha no meu blog, aumentando consideravelmente o número de visualizações, que
permanece baixo, o que demonstra o quanto que ele é irrelevante e/ou ignorado.
Sabe aqueles momentos em que
você se depara com algo completa e inteiramente contrário à sua visão e
entendimento de mundo e custa a acreditar que esteja testemunhando e tomando
parte neles? Meus amigos, quando, três dias depois – apesar de considerar a
internet uma das coisas mais fascinantes deste nosso tempo, eu não a busco
diariamente --, eu acessei o perfil do Facebook
e vi uma gente que nunca vira antes junto com um tsunami de frivolidades – uns caras
trajando apenas cuecas se dirigindo a seus “seguidores” e a quem interessar
pudesse e umas garotas anunciando banalidades de seus cotidianos como se fossem
coisas importantes que devessem ser sabidas por todos -, eu fiquei bestificado,
me sentindo um grandessíssimo idiota e me perguntei por que cargas-d’água eu
estava metido numa coisa daquela. E me indaguei: “Quer dizer então que eu li
Joaquim Cardozo, Ascenso Ferreira, Marcus Accioly, Jorge de Lima, Everardo
Norões, Jomar Morais de Souto, Augusto dos Anjos, Mário Quintana, Edgar Allan
Poe, William Shakespeare, Charles Baudelaire, Federico Garcia Lorca, Alexandre
O’Neill, Aldemar Paiva, Radiel Cavalcanti, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Homero,
Lourdes Sarmento, Tulio Carella, Carlos Pena Filho, Jessier Quirino, Mario de
Andrade, Deborah Brennand, Mauro Mota, Jaci Bezerra, Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Castro Alves, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Cora
Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Manoel de Barros – só para
ficar nos poetas – para perder meu tempo precioso com uma bobagem dessas?”. E
tal qual o corvo de Poe eu disse a mim mesmo: “Nevermore!”. E, sem pensar duas vezes, cancelei a minha conta
dizendo para os meus botões que eu prefiro ser um ilustre desconhecido a
alcançar uma notoriedade tomando parte em um ambiente tão cheio de nada.
Contei a Sílvio Valentim, um
colega de trabalho, do cancelamento da conta; e ele disse que eu poderia
ignorar os perfis das pessoas que “postam bobagens”. Pensando nisso, eu reconsiderei
a decisão: cancelei o cancelamento e reativei a conta alguns dias depois. Mas
não teve jeito, eu não consegui me adaptar e nem suportar aquela feira de
vaidades e superficialidades: não me importa saber que marca de cueca fulano
usa; não me interessa tomar conhecimento de que beltrano viajou par São Paulo;
e, menos ainda, que sicrano vai se casar na semana que vem. É tanto joio que
tem ali que, até que se encontre algum trigo, você fica cansado e aborrecido
por ter dado de cara com tantas leseiras e com tanta falta de simancol.
No Twitter a coisa ganha ares de messianismo. Completamente cheias de
si, celebridades, subcelebridades e quetais se julgam sabichonas e engraçadas e
se põem a escrever trivialidades e piadinhas lutando para ver quem mais
consegue atrair seguidores. Vida inteligente também ali é difícil de encontrar.
No ambiente das ditas redes
sociais todo mundo se porta cheio de opinião: e comenta tudo; e cria caso; e
escreve num português arcaico, para não dizer ruim; e faz e acontece. E o que
dizer daqueles que tudo o que leem “comentam” com um “kkkkk”? Os defensores
dessas comunidades dizem que elas servem também para mobilizar pessoas para
grandes causas sociais e tal. Até onde eu sei os brasileiros continuam a jogar
lixo nas ruas, a serem mal-educados, a bisbilhotar a vida alheia e não cuidar
das suas, a lerem poucos livros e a quererem tirar vantagem em tudo. A bem
da verdade as redes sociais se prestam perfeitamente para aquele tipo de gente
que mesmo olhando no fundo dos nossos olhos, mentem descaradamente, porque,
escondidas atrás de um smartphone,
computador ou tablet elas podem, como
dizem alguns republicanos, fazer o diabo.
Rede social é para quem tem
estômago de avestruz, paciência de Jó, nervos de aço e acredita estar
participando de uma grande revolução humana. De minha parte, durante o pouco
tempo em que eu habitei aquelas paragens, me vi contrariando os fundamentos
biológicos e ir involuindo a cada vez que acessava o meu perfil. Não me perdoo pelo
grande mal que me fiz. No dia dois de janeiro eu cancelei definitivamente os
meus acessos àqueles mundinhos. E, seguramente, nunca mais hei de voltar a
pisar ali.
(Publicado também in O Monitor [Garanhuns], Nº 182, janeiro de 2016, Opinião, p. 2).
(Publicado também in O Monitor [Garanhuns], Nº 182, janeiro de 2016, Opinião, p. 2).
sierra o que procuras esta dentro de ti; e aos poucos vais nos premiando com as poucas linhas que te aventuras a elaborar; linhas que sempre serão poucas diante da amizade sinceridade e amor que proporciona ... por aqui paro com medo de estragar o que ja esta ficando tao eu,Um abraço e que continue assim para melho
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