Por Clênio Sierra de Alcântara
Foto: do autor Mirabeau Menezes ao lado de sua obra "Palhaço de Pierrô" |
O artista plástico Mirabeau
Menezes, paraibano da cidade de João Pessoa, onde nasceu em 1964, é um sujeito
hiperativo e irrequieto. Está sempre pensando na elaboração de uma obra, na
montagem de uma exposição e no fundamento máximo de sua produção artística. No
último dia 12 ele lançou o livro Mirabeau
– Maria das Louças no Centro de Turismo e Lazer Sesc Cabo Branco, na
capital da Paraíba, no vernissage de
uma mostra retrospectiva de sua carreira que ficará em cartaz até 12 de março.
Estando eu passando alguns
dias em João Pessoa, marquei uma entrevista com Mirabeau; o nosso encontro
ocorreu na manhã do dia 17 de fevereiro na Galeria de Arte Archidy Picado, onde
estava sendo montada a exposição “Erieta e Amigos” com o propósito de arrecadar
fundos para custear o tratamento de saúde da artista Erieta Ewald – as obras
ficarão expostas de 19 de fevereiro a 13 de março – e para a qual ele doou “Palhaço
de Pierrô”, uma acrílica sobre tela pintada no ano passado.
Mirabeau
a partir de que momento o fazer artístico entrou na sua vida e quais são as
suas influências?
A minha pintura é uma
pintura eclética. Ela trabalha entre a margência dos abstratos e dos figurativos.
E por isso é uma pintura que tem essa base, desde os anos 80, quando iniciei
minha carreira.
Você
acredita que as artes, de um modo geral, precisam ter um engajamento político e
propor uma discussão dos problemas sociais ou simplesmente vale o conceito da “arte
pela arte”?
A arte é um conceito que
envolve toda a sociedade. Quando se faz arte você está passando pelos momentos
políticos, sociais e econômicos do país. A arte reflete isso pelo fato de que
ela marca o tempo, a história de um homem, de um escritor, de um cineasta, de
um pesquisador. Isso aí tudo é arte, né? A arte é arte instalação, é Bienal, é
tudo que envolve todo sentimento, a alma do ser humano. A arte tem que ter uma
parte social, né? Candido Portinari pintou uma série intitulada “Os momentos
sociais do Brasil”. Você sabe que Candido Portinari é um pintor que tem quadro
até na Unesco.
A
sua pintura figurativa é muito marcada por elementos de cunho religioso e se
nota também um gosto de retratar traços da vida cotidiana e mesmo a natureza
morta. Existe um tema que preponderantemente norteia a concepção de suas obras?
Eu acho que a minha arte, os
meus traços são muito originais; são parte de uma pesquisa que eu faço. Já a
cor tem um embasamento muito mais forte; a cor é o elemento mais forte da minha
pintura, porque a textura, os elementos que eu constituo dentro da minha
pintura são parte de um conteúdo que busca retratar não só a vivência na região
Nordeste, mas também mantê-la antenada com as tendências maiores da arte do
mundo.
Em
que medida o abstrato, melhor dizendo, como se processa a escolha – se é que
existe uma escolha – na hora de elaborar uma nova obra? Você diz: “Hoje eu
quero algo abstrato e não figurativo”?
Não, eu trabalho dentro de
uma concepção que, quando eu vou pesquisar ou trabalhar, eu trabalho as duas
peças, três ou quatro peças, que se chamam telas, em tamanhos diferentes, tanto
na abstração quanto na figuração, de uma forma eclética; não tem esse porém de
ficar trabalhando só numa ou noutra. Não, eu trabalho nas duas.
A
escultura é outra vertente da arte à qual você se entrega de maneira igualmente
intensa. Você atravessa fases no sentido de permanecer um tempo só esculpindo
ou então só pintando?
Não, eu acho que o artista é
livre; o artista não pode ficar situado em um elemento. O Pablo Picasso, que é
o maior exemplo, para mim, da Era Moderna, do século XX, ele trabalhava com
escultura, com cerâmica, com pintura figurativa e com pintura abstrata. Algumas
coisas de Picasso são altamente abstracionistas.
Diga-me:
em algum momento a vida provinciana, o estar fixado numa capital nordestina,
fora do eixo Rio-São Paulo, onde se diz que “as coisas realmente acontecem” foi
motivo de inquietação ou frustração? Você em algum período desejou estar noutro
lugar do país para difundir a sua arte ou acredita que em João Pessoa alcançou
tudo o que desejou alcançar como artista?
Eu acho que já viajei, já
fiz exposição em parte da Europa, né? Fui a Portugal e Espanha. Tenho quadros
também na exposição Brasil-Londres, que foram artistas brasileiros pra Londres.
Eu tenho um currículo vasto, né? Mas eu acho que o Rio e São Paulo foi na
década de 80. Agora eu tô propondo pra 2016 fazer uma exposição numa galeria em
São Paulo.
São
mais de trinta anos dedicados ao labor artístico; inúmeras exposições no Brasil
e no exterior. Como se define o artista e o homem Mirabeau Menezes e como ele
vê o conjunto de sua obra?
Minha obra é uma obra vasta,
né? Eu acho que a maturidade faz isso. O meu público tem colecionador de obra
de arte minha. Eu acho que isso aí é o fruto de muitos anos de trabalho. Eu acho
que quem inicia hoje nunca pode desistir; os obstáculos vão existir sempre para
qualquer profissional. Eu acho que você tem que superar isso e transcendê-lo.
Mirabeau,
para terminar, me diga: a arte redime o homem?
Não, a arte é aquilo tudo
que o homem expressa através da alma, do espírito. Ele precisa estar bem
consigo mesmo; às vezes inquieto como Van Gogh, louco como Velásquez e doido
como Francis Bacon (rindo).
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