O Carnaval deveria acontecer pelo menos três vezes por ano para que a gente desopilasse os atropelos do dia a dia |
Não tenho postura de folião,
vamos dizer, porreta, do tipo que se prepara para encarar as prévias todas, os
bailes, os blocos e tal, mas eu adoro o Carnaval. Adoro ver o Recife e Olinda
serem enfeitados para o reinado de Momo. E as ruas tomadas de gente. E as
crianças aprendendo a vivenciar essa festa.
E as pessoas fantasiadas esbanjando irreverência e descontração. E os
blocos líricos evocando tempos idos em canções cheias de saudade. E os
passistas com seus fôlegos de atletas. E as senhorinhas muito maquiadas e
dispostas a encarar a jornada. E os mestres dos clubes e troças, dos
caboclinhos, maracatus e escolas de samba cuidando para que tudo saia nos
trinques e os aplausos venham aos magotes.
Quando eu saio para brincar
o Carnaval carrego comigo a certeza de que vou dar de cara com a ousadia, com a
greia, com o deboche, com o “não tô nem aí pra tu”. E antes mesmo de me danar
na folia, eu já terei me divertido à beça, rindo com as presepadas com as quais
me deparo pelo caminho. Penso que é no divertimento que se pode verdadeiramente
encontrar a essência do que somos: desvencilhados das amarras e das tantas
exigências do dia a dia, que nos fazem de seres quase autômatos, encontramos no
lúdico o momento de extravasarmos tudo o que nos aporrinha e oprime e limita e
aborrece.
Antes que eu chegasse à fase
adulta, por vários anos o meu Carnaval de adolescente se resumia a ir
prestigiar os ensaios do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império do Bento,
cuja sede ficava na Rua São Gonçalo, onde eu morava, e que era comandado pelo
casal Bentinho e Márcia, gente por mim muito querida. Corríamos todos: eu, Cleiton,
Davi e outros para lá tão logo os instrumentos começavam a marcação do ritmo envolvente.
Eta coisa boa danada. Nunca vou esquecer as primícias e os jogos de sedução e as
tantas juras mentirosas que eu vivenciei ali: os homens não valemos nada.
Está quase na hora de botar
o bloco do eu sozinho na rua. Seja do jeito que for eu estou sempre disposto a
correr atrás da alegria.
Alegria, alegria, oba!!
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