3 de fevereiro de 2016

E quem há de abrir mão da alegria?

Por Clênio Sierra de Alcântara




O Carnaval deveria acontecer pelo menos três vezes por ano para que a gente desopilasse os atropelos do dia a dia




Não tenho postura de folião, vamos dizer, porreta, do tipo que se prepara para encarar as prévias todas, os bailes, os blocos e tal, mas eu adoro o Carnaval. Adoro ver o Recife e Olinda serem enfeitados para o reinado de Momo. E as ruas tomadas de gente. E as crianças aprendendo a vivenciar essa festa.  E as pessoas fantasiadas esbanjando irreverência e descontração. E os blocos líricos evocando tempos idos em canções cheias de saudade. E os passistas com seus fôlegos de atletas. E as senhorinhas muito maquiadas e dispostas a encarar a jornada. E os mestres dos clubes e troças, dos caboclinhos, maracatus e escolas de samba cuidando para que tudo saia nos trinques e os aplausos venham aos magotes.

Quando eu saio para brincar o Carnaval carrego comigo a certeza de que vou dar de cara com a ousadia, com a greia, com o deboche, com o “não tô nem aí pra tu”. E antes mesmo de me danar na folia, eu já terei me divertido à beça, rindo com as presepadas com as quais me deparo pelo caminho. Penso que é no divertimento que se pode verdadeiramente encontrar a essência do que somos: desvencilhados das amarras e das tantas exigências do dia a dia, que nos fazem de seres quase autômatos, encontramos no lúdico o momento de extravasarmos tudo o que nos aporrinha e oprime e limita e aborrece.

Agora a mim me chegam imagens e lembranças de carnavais do meu tempo de criança em Abreu e Lima cidade onde nasci. Um tempo no qual se jogava talco na cabeça das pessoas; meninos formavam grupinhos batendo latas e, improvisando uma fantasia de La Ursa, iam às portas das casas cantando: “A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro”. Um grande barato. Era ainda o tempo no qual se faziam as chamadas “lanças” ou “bombas d’água” com canos de PVC, cabos de vassoura e solas de sandálias para puxar água – o mecanismo tinha o mesmo fundamento de sucção de uma seringa – e dar banho em quem quer que fosse que estivesse passando na rua, folião ou não. Havia também aqueles que maceravam urucum para pintarem seus rostos e, sem avisarem, os de quem lhes dava na telha. Era um Carnaval de suja-suja e mela-mela. E sempre havia os que não entravam no espírito da brincadeira e ficavam possessos.  Mas de nada adiantavam demonstrações de insatisfação, porque a toada era essa mesma.

Antes que eu chegasse à fase adulta, por vários anos o meu Carnaval de adolescente se resumia a ir prestigiar os ensaios do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império do Bento, cuja sede ficava na Rua São Gonçalo, onde eu morava, e que era comandado pelo casal Bentinho e Márcia, gente por mim muito querida. Corríamos todos: eu, Cleiton, Davi e outros para lá tão logo os instrumentos começavam a marcação do ritmo envolvente. Eta coisa boa danada. Nunca vou esquecer as primícias e os jogos de sedução e as tantas juras mentirosas que eu vivenciei ali: os homens não valemos nada.

Está quase na hora de botar o bloco do eu sozinho na rua. Seja do jeito que for eu estou sempre disposto a correr atrás da alegria.

 Alegria, alegria, oba!!


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