26 de março de 2016

Cidades de hoje e cidades do amanhã

Por Clênio Sierra de Alcântara



Imagem: Stock Royalty                  A cidade que desejamos passa por várias decisões que são tomadas pela esfera pública. Precisamos exigir dos governantes que os planejamentos sejam executados e fiscalizar a todo tempo suas ações



Dentro de algumas semanas voltaremos a ser bombardeados com as peças de propaganda eleitoral destinadas ao pleito que oficializará os próximos prefeitos e vereadores que serão responsáveis pela condução dos mais de cinco mil municípios brasileiros durante o quadriênio 2017-2020.

Diz-se que o brasileiro cidadão comum não é muito dado a acompanhar comícios, assistir aos pronunciamentos dos candidatos na TV ou mesmo ouvi-los no rádio. A essa, digamos, apatia eleitoral e/ou política, soma-se a falta de comprometimento para com o desenvolvimento da cidade em que se vive e o resultado é a continuação de velhos e danosos vícios da administração pública: sem serem cobrados e fiscalizados pelo povo, prefeitos e vereadores esbanjam, fazem e acontecem com os recursos que deveriam ser destinados a promover a melhoria dos aspectos gerais dos municípios por eles administrados. E desse modo problemas verdadeiramente urgentes que poderiam ser solucionados, caso houvesse determinação do executivo e do legislativo municipal, vão paulatinamente se agravando e ganhando contornos de coisas insolúveis.

O compadrio, a mistura do público com o privado, a corrupção generalizada e até mesmo o despreparo intelectual de grande parte dos administradores públicos no Brasil são os principais responsáveis pelo acúmulo de tantas deficiências físicas e estruturais que assolam as nossas cidades de maneira geral. Em vez de promover a adoção de uma política que bana de sua cidade o esgoto correndo a céu aberto, o sujeito acredita piamente que estará fazendo muitíssimo mais pelos munícipes se mandar erguer um pórtico na entrada principal da urbe. No lugar de modernizar e/ou renovar o acervo da biblioteca ou aparelhar um centro para aulas de informática, o burgomestre enxerga como mais importante revestir a fachada da Prefeitura com pedras vindas não sei de onde. Podendo se empenhar para que não faltem médicos e remédios nos postos de saúde, o chefe do executivo municipal julga que o mais sensato a fazer para agradar o povão é contratar a peso de ouro aquele cantor famoso para abrilhantar a festa da padroeira. E os desmandos seguem nessa toada em alguns casos atentando descaradamente contra os preceitos legais, promovendo desvio de recursos, fraudando licitações, abandonando obras e até surrupiando a verba destinada à compra da merenda escolar. Daí por que, em todo o país, dezenas de prefeitos não chegam a concluir seus mandatos: envolvidos nas mais infames transações contra o bem comum, são apeados do poder por decisões judiciais e processos de cassação levados a cabo pelas câmaras municipais.

A partir do momento em que passamos a vivenciar com a devida atenção a cidade na qual habitamos logo nos tornamos capazes de apontar, aqui e ali, tudo o que vemos como necessidades, deficiências, elementos fora do lugar, potencialidades, belezas e coisas que estão dando certo e precisam ser ampliadas e/ou melhoradas. Agora a nossa cota de comprometimento para com a evolução de nossas cidades não pode se resumir, evidentemente, a votar nos candidatos que apresentam os planos de governo mais corretos e adequados com a realidade. É preciso mais do que isso. Faz-se necessário que acompanhemos as ações efetivas da Municipalidade; que cobremos das autoridades públicas o cumprimento de suas obrigações; que denunciemos as arbitrariedades, os abusos e as omissões; que fiscalizemos em que pé andam esta e aquela obra.

Por outro lado, não devemos cobrar apenas, mas também cumprirmos com nossas obrigações enquanto sujeitos urbanos conscientes de que ações irresponsáveis, como não dar destino adequado ao lixo que produzimos, podem acarretar conseqüências drásticas, como enchentes e alagamentos em virtude do entupimento de córregos e bueiros. Se continuarmos acreditando que pequenas ações não produzem grandes efeitos e que devemos esperar inertes que os governantes organizem e construam sozinhos as cidades dos nossos anseios, provavelmente nunca iremos caminhar por uma delas.


As eleições municipais estão prestes a acontecer. Sejamos sensatos na escolha dos nossos representantes; não demos ouvido a promessas mirabolantes e a discursos de grandeza; e persistamos com o justo entendimento de que todos e cada um de nós é responsável pela urbanidade que desejamos e pela qual devemos reivindicar.

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