Por Clênio Sierra de
Alcântara
Dentro de algumas semanas
voltaremos a ser bombardeados com as peças de propaganda eleitoral destinadas
ao pleito que oficializará os próximos prefeitos e vereadores que serão
responsáveis pela condução dos mais de cinco mil municípios brasileiros durante
o quadriênio 2017-2020.
Diz-se que o brasileiro
cidadão comum não é muito dado a acompanhar comícios, assistir aos
pronunciamentos dos candidatos na TV ou mesmo ouvi-los no rádio. A essa,
digamos, apatia eleitoral e/ou política, soma-se a falta de comprometimento
para com o desenvolvimento da cidade em que se vive e o resultado é a continuação
de velhos e danosos vícios da administração pública: sem serem cobrados e
fiscalizados pelo povo, prefeitos e vereadores esbanjam, fazem e acontecem com
os recursos que deveriam ser destinados a promover a melhoria dos aspectos
gerais dos municípios por eles administrados. E desse modo problemas
verdadeiramente urgentes que poderiam ser solucionados, caso houvesse
determinação do executivo e do legislativo municipal, vão paulatinamente se
agravando e ganhando contornos de coisas insolúveis.
O compadrio, a mistura do
público com o privado, a corrupção generalizada e até mesmo o despreparo
intelectual de grande parte dos administradores públicos no Brasil são os
principais responsáveis pelo acúmulo de tantas deficiências físicas e
estruturais que assolam as nossas cidades de maneira geral. Em vez de promover
a adoção de uma política que bana de sua cidade o esgoto correndo a céu aberto,
o sujeito acredita piamente que estará fazendo muitíssimo mais pelos munícipes
se mandar erguer um pórtico na entrada principal da urbe. No lugar de modernizar
e/ou renovar o acervo da biblioteca ou aparelhar um centro para aulas de
informática, o burgomestre enxerga como mais importante revestir a fachada da
Prefeitura com pedras vindas não sei de onde. Podendo se empenhar para que não
faltem médicos e remédios nos postos de saúde, o chefe do executivo municipal
julga que o mais sensato a fazer para agradar o povão é contratar a peso de
ouro aquele cantor famoso para abrilhantar a festa da padroeira. E os desmandos
seguem nessa toada em alguns casos atentando descaradamente contra os preceitos
legais, promovendo desvio de recursos, fraudando licitações, abandonando obras
e até surrupiando a verba destinada à compra da merenda escolar. Daí por que,
em todo o país, dezenas de prefeitos não chegam a concluir seus mandatos:
envolvidos nas mais infames transações contra o bem comum, são apeados do poder
por decisões judiciais e processos de cassação levados a cabo pelas câmaras
municipais.
A partir do momento em que
passamos a vivenciar com a devida atenção a cidade na qual habitamos logo nos
tornamos capazes de apontar, aqui e ali, tudo o que vemos como necessidades,
deficiências, elementos fora do lugar, potencialidades, belezas e coisas que
estão dando certo e precisam ser ampliadas e/ou melhoradas. Agora a nossa cota
de comprometimento para com a evolução de nossas cidades não pode se resumir,
evidentemente, a votar nos candidatos que apresentam os planos de governo mais
corretos e adequados com a realidade. É preciso mais do que isso. Faz-se
necessário que acompanhemos as ações efetivas da Municipalidade; que cobremos
das autoridades públicas o cumprimento de suas obrigações; que denunciemos as
arbitrariedades, os abusos e as omissões; que fiscalizemos em que pé andam esta
e aquela obra.
Por outro lado, não devemos
cobrar apenas, mas também cumprirmos com nossas obrigações enquanto sujeitos
urbanos conscientes de que ações irresponsáveis, como não dar destino adequado
ao lixo que produzimos, podem acarretar conseqüências drásticas, como enchentes
e alagamentos em virtude do entupimento de córregos e bueiros. Se continuarmos
acreditando que pequenas ações não produzem grandes efeitos e que devemos
esperar inertes que os governantes organizem e construam sozinhos as cidades
dos nossos anseios, provavelmente nunca iremos caminhar por uma delas.
As eleições municipais estão
prestes a acontecer. Sejamos sensatos na escolha dos nossos representantes; não
demos ouvido a promessas mirabolantes e a discursos de grandeza; e persistamos
com o justo entendimento de que todos e cada um de nós é responsável pela
urbanidade que desejamos e pela qual devemos reivindicar.
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