18 de março de 2016

Um grande canalha


Por Clênio Sierra de Alcântara



Foto: internet       Brasília é o lugar onde tudo se trama contra a ordem e o progresso do Brasil






Certamente a cega militância do Partido dos Trabalhadores (PT) esperava que fosse ver o seu idolatrado Luiz Inácio Lula da Silva – e para ela, ele é impoluto, honesto, correto, íntegro, bom caráter, benfeitor e por aí vai, ou seja, é praticamente uma dessas criaturas que a Igreja Católica canoniza e transforma em santo – tripudiando sorridente sobre as ações investigativas do Ministério Público na cerimônia que ocorreu ontem pela manhã, em Brasília, a capital onde tudo se trama contra a ordem e o progresso do Brasil, na qual ele tomou posse como ministro chefe da Casa Civil. Mas o que se viu foi um Luiz Inácio Lula da Silva abatido e inegavelmente triste, porque sabia, é de se imaginar, que a manobra marota da presidente Dilma Rousseff visando à blindagem dele, com o foro privilegiado, no final das contas não iria alterar fundamentalmente a realidade que diz que ele está enrolado até o pescoço com a Justiça.

A cegueira da militância petista, o seu empenho em se agarrar a dogmas partidários, a sua fúria lupina contra tudo e contra todos que apontam os malfeitos do “grande homem” e o esforço que empreende para qualificar de honesta a desonestidade não irão modificar o que dizem os autos do processo em curso, nem fazer com que os fatos passem a ser narrados em favor do “grande líder”. Não adianta tentar desqualificar o árduo e eficiente trabalho do juiz Sergio Moro, dos promotores e de todo o staff do Ministério Público e da Polícia Federal; não adianta queimar em praça pública edições das revistas Veja e IstoÉ; não adianta chamar Reinaldo Azevedo de fariseu; não adianta nada disso, porque não foram essas pessoas e nem essas instituições que criaram as malfeitorias que levaram petistas de alta patente para detrás das grades, não foram elas que se mancomunaram para se locupletar em transações que resultaram nos escândalos do mensalão e do petrolão e nem foram elas que se puseram a promover traficâncias junto a empreiteiras com o fito de encher as suas burras.

Quando era oposição tudo era legítimo para as hordas petistas, que se tinham como paladinos da justiça, da moralidade e dos bons costumes. Era legítimo, por exemplo, protocolar, amiúde, pedidos de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso, mas hoje, sendo vidraça e não pedra, impeachment para elas é golpismo. Era legítimo, também, apontar no Congresso Nacional os picaretas que compunham a situação, enquanto que agora às picaretagens em que se meteram elas deram o nome de desvio de conduta.

Depois de várias tentativas frustradas de chegar à Presidência da República, os petistas se deram conta de que o tom virulento e retrógrado dos seus discursos não iria levá-los a lugar nenhum; e se puseram a aparar arestas e a limar os excessos retóricos. E não só isso. Com um projeto de poder bem delineado, eles foram formando alianças com todos aqueles que eles execravam ou faziam de conta que execravam. Assim foi que eles estenderam as mãos e trouxeram para junto de si algumas das figuras da vida política brasileira que seguramente entram em qualquer lista que se fizer relacionando o que de pior passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, como Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e Renan Calheiros.

Alguém pode dizer que foi a partir dessas alianças que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva e os seus asseclas começaram a se perder. Que nada, tudo foi feito de caso pensado porque o PT, ao que parece, sempre foi, desde a sua formação, uma farsa que tomou corpo, que cresceu e conseguiu ludibriar milhões de brasileiros – principalmente os mais despossuídos – que, não é de hoje, não podem ver um sujeito barbudo, como Antônio Conselheiro, que saem atrás pensando que encontraram o Messias. O discurso socialista de igualdade social e desapego material era a maior das mentiras, vide a dinheirama que inundou as contas bancárias de petistas graduados, o gosto refinado que passaram a ostentar quando chegaram ao poder e a vida nababesca que eles vêm mantendo. A retórica da honestidade era só para tirar os incautos de tempo enquanto eles agiam nos bastidores tomando parte em negociações que lhes rendessem uma boa grana. Já dizia a minha avó Conceição: “- Quem se junta com os porcos, farelo come”. E como engordaram os tais porquinhos fuçando e se apropriando do dinheiro do povo, esse mesmo povo que eles vivem a alardear que tiraram da miséria oferecendo um cartão do Bolsa Família, enquanto eles acumularam cifras milionárias em bancos. Socialismo de Estado é isso aí.

Quem, excetuando-se a turba petista e os sanguessugas postos por eles em alguma sinecura, acredita que um sujeito centralizador, controlador, dominador, impositivo, cheio de si e metido inteiramente nas entranhas do Governo, como o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, acredita que este cidadão não sabia o que os seus “companheiros” estavam a tramar para enriquecerem pessoalmente e ao mesmo tempo quebrarem o Brasil? Quem é que pode acreditar que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva esteve o tempo todo alheio aos trambiques, às negociatas, aos ilícitos e às roubalheiras que se processavam bem embaixo do seu nariz?

O prefeito de Santo André Celso Daniel, petista, foi assassinado e a vida seguiu. José Dirceu foi condenado e preso e a vida seguiu. Rosemary Noronha e Erenice Guerra foram pegas vendendo conveniências usando o nome do Governo e a vida seguiu. Fábio Luís e Luís Cláudio, filhos do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, receberam dinheiro de empresas sabe-se lá por que e a vida seguiu. A Petrobras comprou uma refinaria sucateada nos Estados Unidos amargando um prejuízo absurdo e a vida seguiu. Altos funcionários de grandes empreiteiras – empreiteiras essas que pagaram milhões de reais ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva para que ele proferisse palestras – foram investigados, condenados e presos por terem promovido desvio de dinheiro da Petrobras e a vida seguiu. A normalidade dos governos petistas tem sido marcada por sucessivos casos de corrupção e eles se lançam a pôr a culpa nos outros e nas elites – de quais elites eles falam, eu não sei – “que não se conformam em ver pobre andando de avião e comprando casa”, como eles ficam a repetir. O país está mergulhado numa crise econômica que a cada dia se agrava e a militância petista vive a procurar um inimigo para chamar de seu algoz.

Como se não tivesse tanto o que fazer para tentar recolocar o país nos eixos do progresso e do desenvolvimento econômico e social – ou será que ela acredita que distribuir mais cartões do Bolsa Família fará com que a economia brasileira se recupere do marasmo em que se encontra? -, a presidente Dilma Rousseff perde seu tempo gastando o quase nada de prestígio que lhe resta, defendendo o “companheiro” Luiz Inácio Lula da Silva que continua negando, jurando de pés juntos que não é o proprietário de um tríplex no Guarujá e nem de uma chácara em Atibaia, apesar das evidências dizerem o contrário, segundo as investigações do Ministério Público. A megalomania do senhor Luiz Inácio Lula da Silva deve fazê-lo pensar que está acima das instituições e da lei.

O PT e a sua militância radical em vez de responder aos questionamentos partem para o ataque físico e verbal. Atribuem à oposição, à imprensa e ao escambal os males todos em que estão metidos, acusando-os de serem os responsáveis pela convulsão social em que o país se encontra. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão sendo investigados pela prática de crimes. Diligências caminham na direção de nomes graúdos da oposição, revelando que não é só o PT que está arruinando este país. Mas as instituições são maiores do que todos eles e haverão de ser preservadas.

Não perco mais o meu tempo batendo boca com os sanguessugas e com os idólatras petistas e menos ainda com os pobres coitados dependentes do Bolsa Família e quetais, desde que eu fui hostilizado por um deles dias atrás, ocasião em que um sujeito se dirigiu a mim nestes termos:

- Você é um grande canalha!

Partindo de quem partiu isso me soou até como um elogio. Mesmo assim eu não deixei por menos e rebati:

- Mas eu não pedi penico e nem reivindiquei foro privilegiado.


(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], nº 184, março de 2016, Opinião, p. 2).

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