Por Clênio Sierra de Alcântara
Novamente a democracia brasileira se vê vilipendiada pela horda peemedebista, que chega à presidência da República por via indireta |
Quando teve início o
processo visando ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, acredito que até
no pensamento do mais ardoroso militante petista martelava a incômoda e triste
certeza de que ela seria mesmo apeada do poder. E por quê? Porque não era
somente o suposto crime de responsabilidade fiscal que lhe era imputado – e que
ela e os seus correligionários negavam veementemente, desqualificando a
acusação e classificando-a de “golpe” -;
acrescentou-se a ele o conjunto de malfeitorias executado por outros membros de
seu partido e ela acabou tendo de pagar o pato. Ao processo de cassação do
mandato da presidente da República inegavelmente foram atrelados todas as
falcatruas, todas as manobras, todas as roubalheiras e todas as tentativas
infames das hostes do Partido dos Trabalhadores que pretendiam, à sua maneira e
ao seu modo ideal de democracia, se
manter por tempo indeterminado no poder, porque pensavam eles ser os mais
legítimos, os mais capazes e os únicos que realmente pensavam no bem-estar dos
brasileiros verdadeiramente mais necessitados. Mas, e aos outros? Ora,
excetuando-se os grandes empreiteiros e alguns outros empresários escolhidos
para enriquecer enquanto o país empobrecia, foi restando o aumento da inflação
e do desemprego e a certeza de que o PT começou bem e acabou sendo mais do
mesmo, perdeu-se nas veredas sombrias da corrupção inebriado pela gana de
querer se manter no poder a todo custo.
Houve quem desde o início
enxergasse algo de muito ruim no horizonte do projeto petista de governo. O
simples fato de o senhor Luiz Inácio Lula da Silva precisar refazer sua própria
imagem e alterar seu discurso para finalmente alcançar a presidência do país
por si só diz muito de como o PT principiou a abrir mão de seus fundamentos
para ganhar um pleito tão almejado. Lula foi eleito e toda uma nação de
desvalidos e de intelectuais crentes de que pobre é tudo bom e honesto e que
toda elite financeira e capitalista é desumana e corrupta, sentiu-se
festivamente satisfeita e representada, porque um homem verdadeiramente saído
do seio do povo, um homem humilde que enfrentara agruras indizíveis, um cidadão
que conhecia realmente de perto o que é a pobreza extrema chegara ao Palácio da
Alvorada iluminado pelo severo e benfazejo e auspicioso sol do cerrado. Lula
era o homem certo. Lula acabaria com as multidões de esfomeados. Lula ergueria
casas para os sem-tetos. Lula melhoraria a educação. Lula fortaleceria as
estatais. Lula criaria uma TV que só exibiria a verdade. Lula poria fim ao
imposto sindical. Lula, enfim, promoveria uma grande transformação social no
Brasil, que passaria, então, a ser um exemplo para o resto do mundo.
Acontece que a realidade é
dona de suas vontades e nem sempre está disposta a seguir um script. Enquanto promovia sua pequena
revolução social distribuindo cartões do Bolsa Família a mancheia, lançava
projetos pomposos e vistosos como Fome Zero, Minha casa, minha vida e Programa
de Aceleração do Crescimento e incentivava o consumo desenfreado de tudo o que
fosse possível com o crédito facilitado, os petistas foram silenciosamente
agindo na escuridão para ao mesmo tempo em que se locupletavam, garantissem a
permanência no poder. Apesar do escândalo do mensalão, que começou a mostrar
para que, de fato, o PT lutara tanto para eleger Lula e comandar o país, as
benesses e as benfeitorias sociais já haviam conquistado uma legião imensa, uma
massa de manobra que não apenas conseguiu reeleger Lula como o levou a fazê-la
acreditar que a senhora Dilma Rousseff não só continuaria mantendo os
benefícios sociais como os ampliaria. E Dilma foi eleita. E reeleita, mesmo sem
ter méritos.
Aos que diziam que ela não
passava de um fantoche ou de um poste apagado, Lula rebatia apresentando Dilma
Rousseff como uma administradora eficiente, durona, intolerante com os
corruptos e preguiçosos, cobradora de bons resultados, uma dinâmica e brilhante
gerentona. Mas a realidade, além de ter vontade própria, não se põe a esconder
os fatos. Não demorou para que o engodo Dilma Rousseff se mostrasse como a
encarnação em pessoa da ineficiência: ela não conseguiu afastar de perto de si
aproveitadores de todo tipo; não teve discernimento para perceber que a
economia do país caminhava para o fundo do poço; não soube ou não quis promover
as reformas de que o Brasil precisava e ainda precisa; e viu a sua imagem ser
dia a dia desconstruída não somente por um coro misógino, bem como pelas ações
criminosas de membros do seu partido e, principalmente, pela sua mais que
evidente incapacidade de tomar as rédeas de seu governo que acabou, com o
perdão do trocadilho, desgovernado, manchado e corroído ao extremo por um caso
de corrupção gigantesco ainda em investigação.
Na madrugada da quinta-feira
12 de maio, por 55 votos a favor e 22 contra, o Senado aprovou o afastamento de
Dilma Rousseff da presidência da República, um desfecho deveras melancólico
para aquela que foi a primeira mulher a chegar à chefia do mais elevado cargo
do país. E como se o afastamento não fosse por si só algo a lamentar em termos
de representatividade feminina e de simbolismo mesmo, ele deu ensejo para que
outra vez a horda do PMDB chegasse à presidência da nação por via indireta,
corroborando a máxima que diz que o que está ruim pode ficar pior.
Como é triste tudo isso. Triste,
lamentável, vergonhoso e desanimador. O PT conseguiu de uma só tacada acabar
com os sonhos de milhões de militantes e de outros tantos que a ele se afeiçoou
ao perceber, lá no início, que a coisa apontava para um futuro promissor, e nos
deixar sob o comando de um partido que tem entre os seus membros, autoridades
que não valem o que o gato enterra porque, não é de hoje, vivem metidos em
atividades criminosas. Restou-nos pelo menos a desilusão, porque agora sabemos
que nessa imensa seara os lobos são lobos mesmo, não estão escondidos sob peles
de cordeiros.
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