Por Clênio Sierra de Alcântara
O cenário político
brasileiro é de tal forma contaminado pela desonestidade que o cidadão comum, aquele
que não se atreve a engrossar a fileira dos salafrários, corruptos, achacadores
e patifes e só participa – de maneira obrigatória, frise-se isso – das disputas
eleitorais como eleitor, não desenvolveu meios de distinguir um candidato
honesto – e/ou que se apresenta com, digamos, boas intenções e ficha limpa –
do pilantra que quer tomar de assalto os cofres públicos; o cidadão-eleitor
brasileiro não conseguiu ainda, infelizmente, desenvolver competência
suficiente que o faça diferenciar um candidato canalha de marca maior do
sujeito que busca entrar na vida pública intencionando imprimir a ela algum
grau de ética e moralidade.
Tanto se fala em “reforma
política” no Brasil e pouco ou nada se faz – ainda há pouco ocorreu um
retrocesso no escopo da Lei da Ficha Limpa – que a impressão que eu tenho é de
que as doutas autoridades pensam que, excetuando-se os fazedores de leis e os
políticos profissionais – sim, político neste país é profissão, e profissão das
mais bem remuneradas e repleta de vantagens de todo tipo -, o que sobra como
componente da população é uma compacta massa ignara, estúpida e idiota cuja
única obrigação é comparecer à sua seção eleitoral nas datas determinadas e
registrar o seu voto, sob pena de, não fazendo isso, sofrer as consequências
pela desobediência à letra da lei.
Agora me diga,
leitor-eleitor, como se pode falar em “reforma política” se, por exemplo, a lei
ainda hoje, depois de tudo a que assistimos e vivenciamos, permite que um
indivíduo se apresente como candidato em material de campanha sem ostentar seu
nome verdadeiro e até mesmo fantasiado de palhaço, como um sujeito que está
disputando uma vaga de vereador este ano, em São Paulo, que atende por Atchim –
para que o eleitor não tenha nenhuma dúvida de quem se trata ele esclarece: é
aquele que faz dupla com Espirro -?
Hoje eu me postei diante da
TV para acompanhar o derradeiro ato da peça tragicômica que há meses vinha
sendo encenada no Congresso Nacional. A tragicomédia tinha um enredo tão
repisado, as marcações e as falas dos personagens eram de tal maneira previsíveis
e repetitivas que, desde o início, adivinhava-se qual seria o seu desfecho. Talvez
tenha sido em razão disso, certamente foi em decorrência desse saber por
antecipação que, ao fim e ao cabo, a tragicomédia absurdamente deixou em mim,
na verdade, um tom de tristeza. Não deu para esconder uma nota de lamento e de
pesar por tudo o que se viu naquele teatro e que foi transmitido em rede
nacional de televisão, porque, se a narrativa teve o fim que teve, não foi o
caso de comemorarmos uma suposta maturidade da democracia brasileira, pelo
contrário, foi a confirmação de que, iludidos e despreparados, não temos
conseguido reunir meios nem nos apropriarmos de um discernimento que nos
possibilite banir da vida pública os tantos e incontáveis maus elementos que,
envergando paletós e tailleurs, se
firmaram como políticos desde que principiou o processo de redemocratização
neste país. Pleito após pleitos nós nos sujeitamos a recolocar nas mais
diferentes esferas homens e mulheres flagrados e denunciados em crimes de todo
tipo. Definitivamente nós não aprendemos os ensinamentos da História; e
continuamos a votar como se estivéssemos com uma arma apontada para as nossas
cabeças ou com um cabresto a querer nos rasgar o pescoço.
Vista de outra forma, a
conclusão do processo de impeachment da
presidente Dilma Vana Rousseff, ocorrida hoje, foi o encerramento, o ponto
final do capítulo de um enredo que, reconheçamos, “nunca antes na história
deste país” havia sido narrado: a fábula de um sapo que virou príncipe e de tal
modo ludibriou os seus súditos que conseguiu converter em rainha uma governanta
incompetente que tinha fama de ser durona.
(Este artigo foi publicado como editorial do jornal Informa Garanhuns [Garanhuns], setembro de 2016, nº 2, p. 2).
(Este artigo foi publicado como editorial do jornal Informa Garanhuns [Garanhuns], setembro de 2016, nº 2, p. 2).
E pior, Clênio Sierra, que essas suas palavras são um retrato da realidade. Quisera eu que fosse somente uma visão lúdica do que vemos hoje.
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