27 de agosto de 2016

Daqui a pouco vai ter ciranda de novo, visse?!

Por Clênio Sierra de Alcântara




Quando estiver novamente em pleno funcionamento o Centro Cultural Estrela de Lia voltará a encher as noites da Ilha de Itamaracá com o som e o balanço gostoso da ciranda. Além disso, reativará as oficinas e as práticas pedagógicas de Educação patrimonial conjugando arte com ações de cidadania



De nada adiantou dizerem que a novela das seis estava em sua reta final e que Candinho se encontrava desesperado à procura de Filó. Foi em vão o propósito de aumentarem os preços do feijão e do leite pensando que sem eles o povo não ia ter forças para cirandar. Gastou foi sua gasolina o sujeito que passou com um carro de som pedindo que as pessoas fossem fazer discurso político na hora da brincadeira. E perdeu feio quem apostou que a chuva ia estragar a festa, porque, na última terça-feira, a noite se encheu de alegria na Praia de Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá, para que uma multidão celebrasse, junto com a cirandeira Lia, a assinatura do convênio entre a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e o Centro Cultural Estrela de Lia (CCEL) para o repasse de R$ 100.000.00 (cem mil reais) referentes à Emenda Parlamentar Estadual nº 260/2014, do deputado Guilherme Uchoa visando à execução de uma parte do projeto de requalificação do centro cultural, cuja obra deverá ser iniciada já no dia 1º de setembro.



Foto: Marcos Paulo         O deputado estadual Guilherme Uchoa no momento em que fazia a assinatura de liberação da emenda


Foto: Marcos Paulo       Eu no momento em que fazia o meu discurso


O esquenta povo teve início com o som do grupo Aparte Percussiva. Na concentração, na Av. Benigno Cordeiro Galvão, o clima era de pura descontração. E foi nessa pisada que todos nós seguimos em cortejo até a casa de Lia para saudá-la e acompanhá-la até o terreiro do CCEL, local da cerimônia. As irmãs Biu e Dulce, a rica herança deixada por Mestre Baracho, soltaram o gogó ao ritmo da batucada. A calunga de Lia, vestida toda de azul, estava virada num saco de batata. E todos nós ali, engrossando o coro e balançando o esqueleto. E tome chuva no quengo. Depois de receber nossas reverências, Lia de Itamaracá, a rainha da ciranda, tratou logo de se juntar a nós para que seguíssemos rumo à apoteose.


Foto: Jan Ribeiro(Fundarpe)   A festança foi boa lá na Ilha de Itamaracá. A calunga de Lia estava virada num saco de batata



Na mesma área onde será reconstruído o CCEL foi montado um palco para o cerimonial que contou com Chicó da Burra como apresentador.Empunhando o microfone Beto Hees, produtor artístico de Lia, destacou o empenho da cirandeira, dele, da Fundarpe e de outros parceiros para reerguer um espaço cultural que muito servia à comunidade de Jaguaribe; ele salientou ainda que o projeto está seguindo todas as normas ambientais e de segurança exigidas pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU) - visto que se trata de terreno da Marinha -, pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), pelo Corpo de Bombeiros e pela própria Prefeitura Municipal da Ilha de Itamaracá, instituições essas que emitiram as devidas licenças e autorizações para que a obra seja executada. Quando me foi franqueada a palavra, eu enfatizei a importância do CCEL para a celebração, preservação e difusão da ciranda a partir não só de apresentações do folguedo, mas também com práticas pedagógicas de Educação patrimonial; e relembrei outras atividades que ele proporcionava, como oficinas de fotografia, de penteados afros e de confecção de alfaias. Márcia Souto, presidente da Fundarpe, sem esconder a satisfação por estar vivenciando um momento tão importante como aquele para a cultura pernambucana, em geral, e para a cultura popular, em particular, disse da relevância que um equipamento cultural como o CCEL desempenha numa sociedade. Lia de Itamaracá, a nossa querida e admirada rainha da ciranda, falou que dentro em breve a casa vai estar novamente de pé para animar o povo. O deputado Guilherme Uchoa exaltou não apenas a figura de Lia bem como disse que a Ilha de Itamaracá deveria ser preparada para ficar sendo conhecida como a “terra da ciranda” e ostentar isso como uma marca atrelada ao seu nome, como acontece com outras cidades com diferentes contextos e predicados; e, demonstrando grande interesse para que o CCEL seja inteiramente reconstruído o quanto antes, o parlamentar se comprometeu publicamente a conseguir o restante dos recursos necessários para a efetivação da obra, fala essa que foi merecidamente bastante aplaudida.


Foto: Marcos Paulo    Beto Hees assinando o convênio com a Fundarpe ao lado de Lia, Márcia Souto e Guilherme Uchoa


Concluída a parte protocolar do evento, chegou a hora de soltar o som para a plateia se esbaldar. Lia e seu harmonioso conjunto apresentaram algumas cirandas. Depois, vieram as comadres, igualmente festeiras, Dona Glorinha, Aurinha e o grupo Coco de Selma. E desta vez não foi apenas a rolinha fujona da saudosa Selma do Coco que marcou presença; Aurinha trouxe uma danada de uma cobra faminta lá do Janga e cantou assim: “Vai comer tu, vai comer tu, a cobra do Tururu”. Neide, a baiana devidamente paramentada que preparava gostosos acarajés e tapiocas, nem teve tempo de ver quando Milton Costa, o dono da cobra, foi se saindo para trás do palco no momento em que Aurinha o chamava. Pense numa greia.



Foto:Marcos Paulo




Foto: Marcos Paulo     Márcia Souto, Beto Hees, Lia e eu



Com um projeto estrutural elaborado pela Fundarpe estimado em R$ 540.000.00 (quinhentos e quarenta mil reais) o CCEL dispõe até agora somente dos R$ 100.000.00 oriundos justamente da emendar parlamentar do deputado Guilherme Uchoa. Com esse capital será possível, nesse primeiro momento, erguer apenas o palhoção. E, como além da estrutura física propriamente dita – o projeto contempla, entre outros espaços, um camarim e uma cozinha-escola para aulas de gastronomia -, o CCEL precisará de móveis, equipamentos dentre outras coisas para funcionar a pleno vapor, ainda que contando com a promessa do nobre deputado para a obtenção de mais dinheiro visando à conclusão da obra, a equipe que gerencia o centro cultural resolveu lançar uma campanha destinada a angariar fundos que viabilizem e concretizem plenamente o Centro Cultural Estrela de Lia. Para tanto foi aberta a conta corrente 24434-1 na agência 2399-0 do Bradesco unicamente para esse fim (mais informações podem ser obtidas no site oficial www.liadeitamaraca.com.br, um trabalho muito bem feito do webdesigner Marcos Paulo); e quem quiser ajudar a fazer essa ciranda voltar a rodar pode contribuir com qualquer valor, afinal, toda contribuição é bem-vinda e necessária.



Foto: Marcos Paulo  Quanta gente boa! Da esquerda parra a direita: Dulce Baracho, eu, Biu Baracho, Beto, Márcia Souto, Lia, Aurinha e Jaqueline do Coco de Selma


Na note da última terça-feira a alegria, esfuziante e brincalhona, aportou na Praia de Jaguaribe dando uma prévia, um aperitivo do muito de bom que está por vir, quando o Centro Cultural Estrela de Lia começar a funcionar plenamente.



Foto: Marcos Paulo  Eu ladeado pela gente operosa e talentosa da Fundarpe: a arquiteta Cristiane Feitosa e o historiador Marcelo Renan


Eu quero, tu queres, ele quer... Todos nós queremos cirandar.

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