Por Clênio Sierra de Alcântara
Será que o presidente eleito Donald Trump deixará que os Estados Unidos mergulhem num tenebroso e duradouro eclipse total? |
Para quem, mesmo diante de
sucessivos casos de lunáticos que, portando armas de fogo, saem matando pessoas
aos magotes, pensava que os Estados Unidos, a nação mais odiada e ao mesmo
tempo mais admirada e temida do planeta, continuava sendo a terra da promissão,
deve ter reavaliado sua perspectiva sobre o american
way of life na manhã da última terça-feira, quando tomou conhecimento de
que o excêntrico e extravagante bilionário Donald Trump, contrariando não
apenas as inúmeras pesquisas de opinião, mas também o bom senso, sagrou-se
presidente eleito do império estadunidense.
Reconheça-se que, assim como
ocorreu com a eleição do segundo turno para prefeito do Rio de Janeiro,
disputada entre dois candidatos que representam duas vertentes nocivas para o
verdadeiro amadurecimento de uma democracia – de um lado, Marcelo Freixo
(PSOL), com seu arcaico e ultrapassadíssimo arcabouço socialista; do outro,
Marcelo Crivella (PRB), candidato das hostes do senhor Edir Macedo, e soldado
de um exército que pretende moldar a
sociedade de acordo com os ditos “ensinamentos bíblicos”, quando se sabe que o
Estado brasileiro é laico e as pessoas têm liberdade de professar uma religião
ou ser descrentes -, os norte-americanos se viram diante de duas personalidades
no mínimo controversas: Hillary Clinton, do Partido Democrata, carregando o
peso de acusações de misturar as coisas da vida pública, enquanto secretária de
Estado, com interesses privados – e ainda sendo mostrada como pessoa de saúde
fragilizada -; e Donald Trump, do Partido Republicano, que, enquanto candidato,
elevou o politicamente incorreto à enésima potência, destilando um repertório
de bravatas e ditos ofensivos num caldeirão que reunia misoginia, xenofobia,
prepotência, arrogância e inadequação à geopolítica internacional.
E por que os
norte-americanos – ah, não foi culpa da população e, sim, dos delegados do
Colégio Eleitoral, porque naquele que é considerado o país “mais democrático do
mundo” são uns poucos que decidem quem sai vencedor nos pleitos presidenciais –
escolheram justo o lado negro da força?
Andam dizendo por aí que,
muito em breve, Donald Trump lançará por terra a montanha de ideias abiloladas
e estapafúrdias que pronunciou durante a campanha, tomando uma boa dose de
simancol com um choque de realidade. Eu também acredito que isso ocorrerá. Mas o
fato relevante discutido aqui é que ele foi eleito portando um saco de maldades
e não prmetendo que, caso fosse eleito, poria em revisão todos os seus
conceitos. Por que, afinal de contas, apesar do sentimento antiamericano que
ronda o mundo, os delegados eleitorais escolheram justamente o candidato cujas
propostas eram tidas como as que mais punham os Estados Unidos como o país que
é autossuficiente e, sendo assim, não precisa de nenhum outro? Por que os
delegados apostaram na eleição de um homem que, além de não ter experiência
política, demonstrou o tempo todo que parecia participar de um reality show e não de um evento da
magnitude que é a eleição presidencial norte-americana?
Num cenário geopolítico em
que acompanhamos estarrecidos os embates sem fim entre israelenses e
palestinos; as provocações e os disparates do ditador norte-coreano; a
carnificina que segue um curso ininterrupto na Síria; e assistimos atônitos aos
ataques sangrentos e insanos de grupos terroristas ditos islâmicos, para
ficarmos só nesses exemplos, a eleição de Donald Trump não deixa de ser vista
como mais uma ação de retrocesso com relação à disseminação do respeito mútuo,
da civilidade, da cooperação econômica e humanitária, enfim, dos valores
pacifistas e de união entre os povos.
Enquanto candidato Donald
Trump atuou como uma mistura bem enfurecida e atrapalhada de personagens bastante
conhecidos pelos cidadãos estadunidenses: Krusty, o palhaço; Chuck, o boneco
assassino; Magneto; Cérebro – aquele que faz dupla com Pink; e Debi e Lóide. Duvido
que o senhor Trump manterá a postura de doidivanas que encarnou durante os
últimos meses, quando, enfim, chegar à Casa Branca, cair na real e se der conta
de que o vale tudo das campanhas políticas não se adequa às exigências sérias,
importantes e rígidas que estão intrinsecamente ligadas ao cargo que ele
ocupará. Do contrário, mais do que colher impopularidade e assistir ao
recrudescimento do antiamericanismo ao redor do mundo, ele manterá, durante
quatro anos, o império sob um tenebroso eclipse total.
(Artigo publicado também in Informa Garanhuns [Garanhuns], dezembro de 2016, nº 5, Opinião, p. 2).
(Artigo publicado também in Informa Garanhuns [Garanhuns], dezembro de 2016, nº 5, Opinião, p. 2).
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