Por Clênio Sierra de
Alcântara
Foto: do autor Neste recanto da Praça São José, em Abreu e Lima, a falta de civilidade diariamente comparece para deixar seu rastro |
Situada entre três faixas da
BR 101 Norte, que corta a cidade de Abreu e Lima em sua área central, a Praça
São José passou por uma ampla reforma, não faz muito tempo, que lhe conferiu um
aspecto mais bucólico em par com o espaço destinado ao brincar das crianças. De
maneira correta a Municipalidade procurou eliminar da área a presença incômoda
dos veículos automotivos que faziam do terreno contíguo à praça – e que foi incorporado
a ela durante a obra de revitalização – um estacionamento.
As praças, quando bem
cuidadas, são bastante procuradas pela população de uma cidade, seja como
espaço de lazer, seja como um breve descanso para escapar do agitado e quase
sempre estressante movimento do centro urbano, seja como um lugar que se busca
para encontrar amigos, conhecer pessoas, fazer protestos, celebrar algo e mesmo
namorar. De tal maneira as praças marcam a fisionomia e o cotidiano de uma
cidade que não é difícil encontrar entre os citadinos quem afirme que a praça
representa a sua principal ligação com tudo o que acontece na localidade onde
mora, porque é vivenciando nela encontros e conversas que se pode também
construir um apego à própria dinâmica cotidiana que impregna o tecido urbano e
que nos liga de modo tenaz ao pedacinho de mundo no qual moramos ou passamos a morar. De
certa forma é como se as praças fossem quase o resumo da cidade inteira, porque
podemos, às vezes, a partir delas, mirar um fragmento que diz muito de todo o resto: aquilo que fica ao alcance dos
nossos olhos; e tudo o mais que está guardado em nossa memória, seja ela
afetiva ou não.
Cruzando bem cedo a BR 101 a
caminho do trabalho – pelo lado em que ela recebe o nome de Av. Brasil; o
outro, que é o antigo, chama-se Av. Duque de Caxias – rotineiramente eu comecei
a notar a presença de um homem que praticamente todos os dias – pelo menos de
segunda à sexta-feira – estaciona sua bicicleta junto a um poste de
iluminação pública, na extremidade direita da Praça São José, para vender
cafezinho. O que à primeira vista era só mais um flagrante de um olhar curioso começou
a me incomodar tremendamente, porque eu comecei a perceber que naquele cenário,
próximo a um banco e a uma parte da área
arborizada da praça, os fregueses do vendedor de cafezinho, dando uma bruta
demonstração de falta de civilidade e de cidadania, se punham – e ainda se põem
– a jogar os copos descartáveis no chão, desprezando não só a preocupação da
Municipalidade em manter o lugar limpo, mas também o bem-estar das pessoas que
logo cedinho acorrem para aquele recanto da cidade a fim de praticar exercícios
e mesmo apenas para se sentar ali e curtir e contemplar a vida à sua maneira.
De dentro do ônibus eu
olhava – como ainda olho – para aquela cena e me perguntava se era possível que
ninguém da Prefeitura ainda não tinha se deparado com o mau exemplo que aquelas
pessoas davam a quem passava por ali e nem as tivesse repreendido. Olhar aquela situação
começou mesmo a me revoltar; e todas as vezes que eu passava por ali me punha a
resmungar e a maldizer em pensamento aquela gene. “Ora, se os fregueses do
vendedor não têm um mínimo de educação doméstica que lhes faça compreender que
jogar lixo nos logradouros públicos é um ato de incivilidade, por que o próprio
vendedor não trata de recolher a sujeira que é deixada ali?”, é o outro questionamento
que eu me faço quando eu vejo o que vem acontecendo naquele recanto da
Praça São José.
Logo no início do seu livro A imagem da cidade, o urbanista
norte-americano Kevin Lynch nos diz que “Olhar para as cidades pode dar um
prazer especial, por mais comum que possa ser o panorama”. Creio que isso se
deva pelo fato de que, por vezes, o olhar capta no que vê a presença do próprio
observador. Essa percepção, acredito eu, está muito ligada também a uma
compreensão que ultrapassa a mera identificação material do que é observado e
se aloja no interior de alguma recente ou remota lembrança.
Em mim Abreu e Lima
permanece sendo a principal lembrança que me move.
As praças merecem uma atenção especial do poder publico, haja visto, ser um lugar de encontro, seja pro lazer ou para colocar um bom papo em dias. Entretanto, esse cuidado, deve ser mantido pelas pessoas que moram ou circulam em suas imediações, devendo zelo e atenção. A praça é patrimônio de todos, e por isso, deve ser bem cuidada.
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