26 de novembro de 2016

Fidel Castro, o tirano

Por Clênio Sierra de Alcântara



Quiero mi Cuba libre pa' que la gente pueda/ Pa' que mi gente pueda bailar... (Cuba libre - Emilio Estefan/Gloria Estefan)


Durante décadas uma tirania de cunho socialista se estabeleceu numa pequena ilha do Caribe chamada Cuba e dali soprou seu pólen pernicioso com o fito de conseguir fecundar outras paragens. Instituída com uma ação à primeira vista nobre de derrubar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, não demorou para que a estupidez, metida em uniformes militares, começasse a dizer ao povo cubano a que realmente viera. Caso seja verdade, como sustentam alguns, que Fidel Castro, o comandante-em-chefe dos rebeldes, não rezava, em princípio, pela cartilha do socialismo e só depois de promovida a deposição de Batista foi que ele enveredou por esse caminho, é, no mínimo, espantoso que o ideário que tanto estrago já causara na então existente União Soviética com muita pressa tenha se tornado o farol dos seus desígnios.

Ao lado de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, Fidel Castro figurou como um ícone de resistência ao demonizado capitalismo que para eles parecia ser resumido na existência dos Estados Unidos. E é inegável o modo como o governo tirano por ele implantado na ilha caribenha influenciou a esquerda latino-americana, em geral, e a brasileira, em particular. Não foi para outra coisa que homens e mulheres, como a senhora Dilma Rousseff, que adora posar chorona ao relembrar seu tempo de guerrilheira, como se estivesse naquela época pensando na defesa dos valores democráticos e libertários para a sociedade, pegaram em armas e saíram por aí querendo derrubar a sanguinária ditadura militar brasileira; a intenção era fazer do Brasil uma outra Cuba; era implantar aqui o mesmo regime cerceador da liberdade e confiscador da democracia que Fidel e os seus cupinchas impuseram aos cubanos.

Enquanto vivia recebendo gordos auxílios financeiros do regime soviético, o chefe absoluto conseguia mascarar a realidade dura de uma existência absolutamente controlada, exibindo Cuba como uma potência esportiva e um lugar onde os sistemas de saúde e de educação eram mesmo de boa qualidade. Mas aí veio o colapso da União Soviética; e o dito demônio capitalista continuou mantendo o embargo econômico que pouco a pouco foi definhando o Davi que tinha a pretensão de, como na narrativa bíblica, derrotar o Golias. Ainda assim, Fidel e os seus asseclas continuaram resistindo e levando adiante a defesa dos seus ideais tresloucadamente, talvez, pensando que eles eram compartilhados por toda a população cubana. E o que se viu foi uma onda sempre crescente de prisões de dissidentes políticos; fugas arriscadas de cubanos que buscavam viver como gente nas terras do “Inimigo do Norte”; escassez de alimentos; arruinamento das cidades – Havana parece que está parada no tempo, como se fosse uma relíquia do período colonial -; e o inevitável enfraquecimento de tudo aquilo que a propaganda socialista vendia ao mundo como legitimação para a permanência do regime castrista.

Talvez seja um exagero daqueles bem estapafúrdios dizer que Cuba serviu também com um laboratório de experiências crudelíssimas como o foram os gulags nas extintas Repúblicas Socialistas Soviéticas e os campos de fome da República Popular da China. Mas não podemos deixar de enquadrar a proibição do direito de ir e vir e do livre pensar como duas das maiores atrocidades que se podem cometer contra a existência de qualquer cidadão; e, quanto a isso, Cuba foi e continua sendo um cenário de prática desses horrores, porque, recordando George Orwell, a “revolução dos bichos” institui a tirania como medida suprema para que os tiranos usufruam do bem bom da vida enquanto o povo amarga o sofrimento da aniquilação da individualidade e se resigna na esperança de que dias melhores virão.

Certamente levará bastante tempo para que o povo cubano consiga dormir tranquilamente porque como um fantasma, como um monstro das fábulas infantis e não mais como um defensor daquele “espectro” de que falavam Karl Marx e Friedrich Engels em O manifesto comunista, a figura caduca e senil de Fidel Castro, metida num uniforme verde endurecido com muita goma, haverá de lhes aparecer em sonho, como se fosse uma maldição que precisará de alguma maneira ser exorcizada para que, enfim, o viver com dignidade e sem imposições de quem quer que seja volte a ser possível na ilha. Para tanto, infelizmente, além desse exorcismo os cubanos ainda terão de ver desaparecer - e/ou mudar o rumo da governança - o senhor Raúl Castro e os que permanecessem aliados com ele.


A um mundo que aspira ao predomínio da paz, da tolerância e do respeito à dignidade humana, tiranos não fazem falta nenhuma.

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