Por Clênio Sierra de Alcântara
Estou
comparecendo,
ó senhores
que pensais
que eu
sou bobo.
Pois
sou.
Basta
olhardes estas cinzas
que cobrem
o rosto,
e estes
punhos em amaranto,
e este
colarinho que me empata as palavras,
e estas
mãos como estrelas de barro.
Tudo
é um fingimento claro
por mais
que mude a voz
e oculte
o guarda-chuva
por detrás
desta armadura baça.
Bobo.
Jorge de Lima
Depois de nos oferecerem
leite longa vida enriquecido com soda cáustica, água oxigenada, formol e ureia,
eis que os paternais empresários brasileiros do ramo da alimentação passaram a pôr no mercado carne processada cujos temperos principais são,
imaginem, ácido sórbico e, suspeita-se, até papelão. Não é um
espanto a capacidade de inovação da indústria de alimentos deste país?
Na última semana, em meio a
um noticiário cujo conteúdo era quase todo ele constituído por
fatos tristes, preocupantes e desagradáveis, foi alardeado em alto e bom som, pela Polícia Federal, que as principais empresas de
processamento de carnes do Brasil, em conluio com funcionários públicos do
Ministério da Agricultura, estavam lesando e pondo em risco a
saúde dos consumidores daqui e de alhures, colocando no mercado carnes podres e
com prazos de validade vencidos e lotes de carne moída misturada com papelão. Como
se isso já não fosse deveras grave, ficamos sabendo ainda que pelo menos uma das unidades de processamento se encontrava em pleno funcionamento, mesmo estando
contaminada pela bactéria Salmonella,
que pode até causar a morte de quem ingerir alimentos nos quais ela esteja
presente.
Não sabemos ainda há quanto
tempo essa ação criminosa e inteiramente execrável vinha acontecendo; no entanto, o
ocorrido revelou, mais uma vez, o quanto estamos à mercê de práticas espúrias
levadas a cabo por empresários desonestos que não estão nem um pouco
preocupados com o que nos possa acontecer, caso venhamos a consumir os alimentos adulterados que suas propagandas estreladas por personalidades bastante
conhecidas se esforçam em nos fazer crer que tal e tal produto é saudável, tem
garantia de origem e é inteiramente confiável. Puro marketing ludibriador. Como diria o poeta, tudo é um fingimento
claro.
Tivessem os brasileiros
plena consciência da gravidade extrema dessa ilicitude praticada por esse ramo
da indústria alimentícia, iniciariam uma ação de boicote aos produtos das
empresas envolvidas nas investigações da Polícia Federal até que os fatos
fossem plenamente esclarecidos e os empresários, devidamente punidos, viessem a
público pedir desculpas pelo crime que protagonizaram e pelos sérios riscos de
contaminação alimentar aos quais nos sujeitaram, como se fôssemos cobaias que, ainda por cima, têm de pagar - e caro - para ser submetidas a experiências sórdidas e
repulsivas.
Como é de praxe nessas horas
em que vêm à tona casos dessa natureza, que podem provocar quedas consideráveis
no volume de vendas dos produtos no mercado externo, afetando a balança comercial de exportação do país, autoridades públicas e empresários se
apressaram tentando remediar o estrago, enquanto nós, como sempre, pagamos de
idiotas e indefesos porque não sabemos a quem recorrer e nem como se proteger
dentro de um sistema que é, quase todo ele, endemicamente contaminado por ilícitos
praticados por uma gente que o tempo todo posa de honesta e bem sucedida
quando, na verdade, é tão podre e falsificada quanto a carne e os outros
produtos adulterados que estavam sendo postos à venda nos supermercados e açougues brasileiros.
Dando mais uma demonstração inequívoca de que é raposa velha e que é esperto que só ele mesmo, o Presidente da República Michel Temer, numa reunião destinada a esclarecer os fatos, considerou, imagino, que não era o caso de ele e os seus comensais comerem da carne estragada embebida em ácido sórbico que nós outros estávamos a consumir, e levou-os para que se fartassem num restaurante que prudentemente servia, segundo foi noticiado, uma suculenta, cara e, ao que parece, deliciosa picanha importada. Bobos somos nós, não é, Presidente?
Dando mais uma demonstração inequívoca de que é raposa velha e que é esperto que só ele mesmo, o Presidente da República Michel Temer, numa reunião destinada a esclarecer os fatos, considerou, imagino, que não era o caso de ele e os seus comensais comerem da carne estragada embebida em ácido sórbico que nós outros estávamos a consumir, e levou-os para que se fartassem num restaurante que prudentemente servia, segundo foi noticiado, uma suculenta, cara e, ao que parece, deliciosa picanha importada. Bobos somos nós, não é, Presidente?
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