26 de maio de 2017

A República das Negociatas

Por Clênio Sierra de Alcântara


Oh! Malditos os que semeiam
Crimes... crimes à mão cheia...
E mandam o povo se lascar!



Foto: Midiamax         No Palácio do Planalto o tempo esquentou demais para o presidente Michel Temer. Vamos ver até quando ele vai suportar a pressão para que esvazie as gavetas e abandone de uma vez por todas a Capital Federal


Caso não ocorra nenhuma mudança de rumo os brasileiros continuaremos assistindo ao aprofundamento da crise política que há anos se instalou neste país a partir do momento em que vieram à tona os crimes praticados por um bando de pilantrões no que ficou conhecido como Mensalão; e que ganhou contornos ainda maiores com as investigações resultantes da Operação Lava-jato que, na semana passada, em mais um dos seus desdobramentos, tornou públicas gravações que puseram o senhor Michel Temer, presidente da malfadada República das Negociatas, que é o Brasil, no olho do furacão de atividades criminosas que há tempos vêm ligando ricos e poderosos empresários a políticos que não penam em outra coisa na vida que não seja locupletarem-se no exercício de seus mandatos.

Até agora os escolhidos pelos petistas para serem os “campeões nacionais” do mercado, como as empresas de Eike Batista, a Odebrecht e a JBS, que tiveram acesso a vultosos e camaradas empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vêm revelando quão empenhados em lesar os cofres públicos eles se encontravam. Planilhas e mais planilhas que registravam pagamentos de propinas a políticos e seus apaniguados foram encontradas pelos investigadores em algumas dessas empresas que lucravam em conluio com uma gente que fazia de tudo para encher suas burras enquanto o país e a maioria de sua população ficavam cada dia mais empobrecidos.
O sorriso debochado de uma Mônica Moura diante das câmeras, registrado na ocasião em que ela seguia presa junto com o marido é, até agora, para mim, a imagem-símbolo dessa desgraceira toda. E não é só isso, não. E o que dizer do tom por vezes de insolência e de escárnio com que alguns dos delatores impõem em seus depoimentos? Francamente. E pensar que o instrumento da delação premiada, tão defendido pelo Judiciário, ao fim e ao cabo só trará benefícios para esses delinquentes e criminosos de toda espécie. Tanta roubalheira tanta. Tantos crimes tantos. E a corja, se muito, acabará cumprindo penas com as regalias de uma prisão domiciliar, em casas e apartamentos luxuosos, expondo para o zé-povinho que, para uns e outros, o crime compensa e como compensa.

Michel Temer, o Nosferatu de Brasília, sabe muitíssimo bem que não tem como escapar da veracidade dos fatos. As gravações feitas por Joesley Batista - um dos donos da JBS -, em que pese as declarações de peritos de que elas foram, em parte, editadas, são reveladoras demais de, no mínimo, conivência do senhor presidente da República, a maior autoridade do país, para com as investidas criminosas de um empresário em defesa de seus próprios interesses. Ele também deve ter consciência de que se já era diminuta a sua legitimidade frente à opinião pública para ocupar a presidência, agora ela se tornou praticamente insustentável. E, junto com a incerteza de sua permanência na chefia do executivo nacional, devem, infelizmente, ser deixadas de lado as reformas trabalhista e da Previdência, duas entre as várias que o país precisa fazer para tentar se posicionar bem na trilha do progresso socioeconômico sustentável.

A esta altura dos acontecimentos o dissimulado senhor Luiz Inácio Lula da Silva deve estar mais feliz do que pinto no lixo, vendo o Nosferatu de Brasília se desintegrar como uma pedra de gelo posta sobre o asfalto. Mas do que tem de rir o senhor Luiz Inácio, um retirante que mal sabe falar e que ficou milionário, vejam só, fazendo palestras pagas a preço de ouro por empresários que ajudou a enriquecer, se ele é réu em inúmeras ações? O senhor Luiz Inácio sabe também que, apesar de continuar bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto entre os potenciais candidatos à presidência da República, perdeu muito do seu prestígio e do seu capital político por ter demonstrado que é da mesma laia daqueles que ele sempre qualificou de picaretas. Lula continua a encantar e ser defendido por seus asseclas que, como ele, muito se aproveitaram das benesses auferidas no tempo em que o ex-metalúrgico ocupou o Palácio do Planalto, e pela massa ignara de pobres e necessitados de tudo que ele cooptou ao custo de uns trocados que podem ser sacados com um cartão todos os meses. A miséria econômica, intelectual e moral do povo – quem há de negar? – é mesmo a maior fonte de riqueza da classe política deste país. Petistas, peemedebistas, peessedebistas... são, todos eles, partes constituintes da mesma gangrena: arrivismo e corrupção.

Na muito aclamada série televisiva norte-americana Família Soprano, os chefes mafiosos não toleram quem lhes impõem obstáculos para o prosseguimento de seus negócios escusos e, menos ainda, têm complacência e piedade para com os delatores. O Brasil da Operação Lava-jato ainda não assistiu a cenas tão chocantes quanto as protagonizadas pelos bad boys e pelos gentili uomini de New Jersey, mas o senhor Aécio Neves, o Tony Soprano, ops, o bom moço das Minas Gerais, deu a sugestão num dos áudios captados por Joesley Batista: “Tem que ser um que a gente mata antes de fazer a delação”.


Mil perdões, poeta Castro Alves.

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