Por Clênio Sierra de Alcântara
A frase feita do momento é a
que diz que “não está fácil para ninguém”. E não está mesmo. Num quadro de
crise econômica severa, o contingente de desempregados no Brasil soma mais de treze
milhões de indivíduos. Na esteira dessa realidade seguem também elevados os
índices de criminalidade – é um fato, dizem especialistas no assunto: quanto
maior o nível de desemprego, maior o número de ocorrências de práticas criminosas,
sobretudo os casos de roubos, furtos e latrocínios – e de pessoas que, lutando
pela sobrevivência, se lançam nos chamados empregos informais.
Para alguém que, como eu,
anda de ônibus desde que estava na barriga de sua mãe, sempre foi comum se
deparar nos coletivos com pedintes, religiosos anunciadores do fim do mundo e
com um e outro vendedor de bombons e de pipoca. Nos últimos anos a grave situação econômica
que tomou este país de ponta a ponta provocando demissões aos magotes – nem o
funcionalismo público escapou dessa tragédia social, como deixam ver os
fluminenses e gaúchos que estão com salários atrasados -, o fechamento de
milhares de lojas, a retração da produção industrial e o encerramento de atividades
de outras unidades produtivas e comerciais, fez com que o número de vendedores
presentes nos ônibus crescesse de maneira espantosa e diversificada na Região
Metropolitana do Recife.
Quem, por exemplo, como é o
meu caso, embarca no terminal de integração de Igaraçu rumo ao Recife, com toda a
certeza, antes de chegar ao seu destino, ouvirá dentro do coletivo pelo menos
dez pregões anunciando uma gama variadíssima de produtos – e quando se trata de
alimentos industrializados geralmente o vendedor começa a sua propaganda dizendo que o que ele
está oferecendo se encontra dentro do prazo de validade -: bolo, biscoito,
sanduíche, refrigerante, pudim, mousse, pastel, coxinha, salgadinho, pipoca,
água mineral, escova de dente, fone de ouvido, caneta, palavras cruzadas, capas
para celular, amendoim, porta-documentos, trufas, cremes contra uma coisa e
outra. Gente é tanta coisa e são tantos os vendedores que entram e saem dos
coletivos quando estes – no caso dos veículos do tipo BRT – param nas estações,
que é mesmo um espanto. Embora a maioria dos vendedores seja do sexo masculino,
entre eles é grande a presença do público feminino; e em ambos os grupos a
faixa etária não varia muito: em geral são todos jovens; mas eu já vi
indivíduos de meia-idade e até idosos nessa labuta.
- Ó pra isso!
- Eu tô aqui pedindo uma
ajuda pra comprar comida. Todo dia eu saio de casa logo cedo. Eu podia sair pra
roubar mas eu venho pedir.
- Pessoal, por favor, me ajudem. Tenho certeza que se fosse pra comprar droga, como fazem uns caras que sobem nos ônibus, vocês ajudavam – ela disse isso e começou a chorar no ônibus
superlotado no princípio daquela manhã de agosto. E ao ouvir isso uma das
jovens disparou:
- Vê só! A Rede Globo tá
perdendo uma boa atriz.
Nos últimos meses eu também
circulei de ônibus por João Pessoa e São Luís e posso dizer que não vi nessas
duas cidades nada que se comparasse ao que tem sido visto nos coletivos que
circulam na Região Metropolitana da capital pernambucana. À dura realidade dos
milhares de usuários de um ainda precário e inseguro transporte público veio se
somar o drama de centenas – talvez milhares – de indivíduos que têm buscado
ganhar a vida vendendo uma coisinha e outra nos diferentes itinerários
percorridos pela numerosa frota. Como usuários do transporte público de
passageiros muitas vezes perdemos um tempo danado esperando por um ônibus que
parece que não vem nunca; mas o aluguel de uma morada, as contas de água e de
luz e principalmente a fome não conseguem esperar tanto assim.
Concordo!! Porém a crise como você mesmo frisou é geral. Todavia, já posso dizer que em São Luis, apesar das estatistica ser menor em relação a Recife, ja dá pra se notar o grande fluxo também de pedintes e vendedores ambulantes e percebo que grande impótação se dá da cidade do Recife. Digo isto, porque ao se indentificarem, dizem que são originários de Recife, em regime de tratamento de entorpecentes.
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