É um fato cotidianamente
verificável que nós estamos sempre dispostos a apontar malfeitorias e/ou
descasos do poder público para com a cidade na qual moramos. Aos nossos olhos a
cidade está suja, malcuidada e em crescente processo de degradação. Dizemos logo
que a culpa é toda do prefeito e dos vereadores, que, depois que ganham a
eleições, propositalmente esquecem as promessas de campanha e se enfurnam em
seus gabinetes tramando meios de desviar verbas e mais verbas para seus bolsos,
deixando que a cidade fique entregue às baratas, aos ratos e a tudo o mais que
possa paulatinamente ir deteriorando sua estrutura.
Isso é em grande parte
verdade, como nos fazem ver as inúmeras investigações dos tribunais de contas
estaduais que, por esse país afora, saem divulgando listas enormes de
irregularidades praticadas por chefes do executivo municipal muitas vezes em
conluio com os vereadores. Também é verdade que, do lado de cá, ou seja, entre
nós cidadãos, que somos os responsáveis pela escolha dessas pessoas votando
nelas nas urnas, vigorem constantemente práticas daninhas para o ambiente em
que vivemos e, no entanto, agimos sem tomar consciência dos nossos atos de
compromisso para com a conservação e progresso da nossa cidade, deixando de
perceber que práticas nocivas individuais prejudicam o todo coletivo; e mantemos
a cantilena de que a responsabilidade é única e exclusiva dos órgãos públicos e
não devêssemos também tomar parte na busca do bem comum.
Percorrendo a cidade com
olhos de quem verdadeiramente quer enxergar a realidade, facilmente encontramos
abusos de todo tipo, como ocupação irregular do espaço público, construções que
desrespeitam o estabelecido em lei, descarte irresponsável de resíduos, etc. E
nessas horas nos perguntamos duas coisas: será que a Prefeitura não dispõe de
fiscais para averiguar e notificar esses abusos? Ou será que essas
irregularidades estão ocorrendo com a plena anuência dos órgãos da
Municipalidade?
Há vários anos, à margem da
Av. João Pessoa Guerra, a principal da Ilha de Itamaracá, no bairro da Baixa
Verde, nas proximidades do Núcleo de Segurança da Polícia Militar, um senhor
comercializa frutas como coco, jaca e banana. Quer esteja atuando quer não, os quatro
bancos mal-ajambrados nos quais ele expõe os seus produtos permanecem o tempo
todo no lugar, bem ao lado de um escoadouro de águas servidas e pluviais. Época houve tem que existia uma caixa
coletora de lixo feita de tijolos pela administração municipal da gestão
anterior à atual, que ficava a menos de dez metros do ponto de comércio daquele
senhor e, mesmo assim, ele não se dava ao trabalho de recolher os resíduos que
produzia. É espantoso e a um só tempo lamentável passar por ali e constatar que
até hoje aquele homem continua lá, trabalhando dignamente – para mim todo
trabalho honesto é digno – mas ignorando, talvez propositalmente, a prática
cidadã de juntar o seu lixo para que, ao passarem por lá, os caminhões da
Prefeitura o recolha. Pelo que se vê, ele deve pensar que cabe unicamente aos
garis limpar a área que ele suja.
E tão absurdo quanto o fato
de o vendedor de frutas vir há anos deixando os resíduos que a sua atividade
comercial produz espalhados no entorno dos bancos, é nos darmos conta de que a
Municipalidade, ao que parece, não tenha ido ainda abordá-lo. Ora, cabe aos
fiscais da Prefeitura ir até ele a fim de orientá-lo sobre as irregularidades
e, a depender ou não de sua posterior atitude, multá-lo e mesmo proibi-lo de
comercializar, até que ele se adéque à legislação vigente.
Práticas, atitudes e comportamentos
daninhos ao bem-estar da cidade e, por conseguinte, dos que nela habitam devem
ser o tempo todo rigorosamente coibidos. Todos e cada um de nós devemos
aprender a pensar no todo social e não somente no próprio umbigo. Zelar pela
cidade é um dever de todos; e, negar que temos uma parcela de responsabilidade
quanto a essa questão, decididamente não vai melhorar a situação, muito pelo
contrário, vai agravá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário