17 de dezembro de 2017

O vendedor de frutas

Por Clênio Sierra de Alcântara



Fotos: do autor      Não bastasse o estado de deterioração dos bancos à margem da principal avenida da Ilha de Itamaracá, o vendedor não tem o cuidado de fazer a limpeza do local onde trabalha, esperando que a Prefeitura faça tudo

É um fato cotidianamente verificável que nós estamos sempre dispostos a apontar malfeitorias e/ou descasos do poder público para com a cidade na qual moramos. Aos nossos olhos a cidade está suja, malcuidada e em crescente processo de degradação. Dizemos logo que a culpa é toda do prefeito e dos vereadores, que, depois que ganham a eleições, propositalmente esquecem as promessas de campanha e se enfurnam em seus gabinetes tramando meios de desviar verbas e mais verbas para seus bolsos, deixando que a cidade fique entregue às baratas, aos ratos e a tudo o mais que possa paulatinamente ir deteriorando sua estrutura.


Isso é em grande parte verdade, como nos fazem ver as inúmeras investigações dos tribunais de contas estaduais que, por esse país afora, saem divulgando listas enormes de irregularidades praticadas por chefes do executivo municipal muitas vezes em conluio com os vereadores. Também é verdade que, do lado de cá, ou seja, entre nós cidadãos, que somos os responsáveis pela escolha dessas pessoas votando nelas nas urnas, vigorem constantemente práticas daninhas para o ambiente em que vivemos e, no entanto, agimos sem tomar consciência dos nossos atos de compromisso para com a conservação e progresso da nossa cidade, deixando de perceber que práticas nocivas individuais prejudicam o todo coletivo; e mantemos a cantilena de que a responsabilidade é única e exclusiva dos órgãos públicos e não devêssemos também tomar parte na busca do bem comum.








Percorrendo a cidade com olhos de quem verdadeiramente quer enxergar a realidade, facilmente encontramos abusos de todo tipo, como ocupação irregular do espaço público, construções que desrespeitam o estabelecido em lei, descarte irresponsável de resíduos, etc. E nessas horas nos perguntamos duas coisas: será que a Prefeitura não dispõe de fiscais para averiguar e notificar esses abusos? Ou será que essas irregularidades estão ocorrendo com a plena anuência dos órgãos da Municipalidade?


Há vários anos, à margem da Av. João Pessoa Guerra, a principal da Ilha de Itamaracá, no bairro da Baixa Verde, nas proximidades do Núcleo de Segurança da Polícia Militar, um senhor comercializa frutas como coco, jaca e banana. Quer esteja atuando quer não, os quatro bancos mal-ajambrados nos quais ele expõe os seus produtos permanecem o tempo todo no lugar, bem ao lado de um escoadouro de águas servidas e pluviais. Época houve tem que existia uma caixa coletora de lixo feita de tijolos pela administração municipal da gestão anterior à atual, que ficava a menos de dez metros do ponto de comércio daquele senhor e, mesmo assim, ele não se dava ao trabalho de recolher os resíduos que produzia. É espantoso e a um só tempo lamentável passar por ali e constatar que até hoje aquele homem continua lá, trabalhando dignamente – para mim todo trabalho honesto é digno – mas ignorando, talvez propositalmente, a prática cidadã de juntar o seu lixo para que, ao passarem por lá, os caminhões da Prefeitura o recolha. Pelo que se vê, ele deve pensar que cabe unicamente aos garis limpar a área que ele suja.








E tão absurdo quanto o fato de o vendedor de frutas vir há anos deixando os resíduos que a sua atividade comercial produz espalhados no entorno dos bancos, é nos darmos conta de que a Municipalidade, ao que parece, não tenha ido ainda abordá-lo. Ora, cabe aos fiscais da Prefeitura ir até ele a fim de orientá-lo sobre as irregularidades e, a depender ou não de sua posterior atitude, multá-lo e mesmo proibi-lo de comercializar, até que ele se adéque à legislação vigente.


Práticas, atitudes e comportamentos daninhos ao bem-estar da cidade e, por conseguinte, dos que nela habitam devem ser o tempo todo rigorosamente coibidos. Todos e cada um de nós devemos aprender a pensar no todo social e não somente no próprio umbigo. Zelar pela cidade é um dever de todos; e, negar que temos uma parcela de responsabilidade quanto a essa questão, decididamente não vai melhorar a situação, muito pelo contrário, vai agravá-la.

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