28 de outubro de 2018

Fernando Haddad perdeu. Que ótimo! Jair Bolsonaro ganhou. Que péssimo!


Por Clênio Sierra de Alcântara

Foto: Internet
Talvez estejamos a caminho de um caos generalizado. Talvez mergulharemos de vez na merda. Agora é esperar para ver.
Não esqueça: antes de sair dê descarga

Havia muito que estávamos na merda e só faltava que viesse alguém e desse descarga para que nos víssemos inteira e completamente submersos na podridão de nossa pequenez moral e de nossa insignificância como cidadãos. Daí por que chegamos ao segundo turno das eleições presidenciais com dois dos piores candidatos que se encontravam na disputa.

De tudo ou de quase tudo se viu na campanha das eleições gerais deste ano, cujo segundo turno ocorreu hoje. Devido às investigações ainda em curso da Operação Lava-jato a classe política que, cá entre nós, nunca gozou realmente de bom prestígio, foi demonizada ao extremo. E, em par com essa demonização, demasiadamente se falou o “novo”: num novo país; numa nova forma de fazer política; num novo pacto federativo; numa nova República; num novo tipo de político; numa nova concepção de nação. Mas, passados os dois turnos, olhando para os conchavos que foram firmados nos palanques estaduais e para as alianças que foram costuradas visando ao pleno êxito no pleito, nós vimos claramente que, ao fim e ao cabo, permanecemos estruturalmente com as mãos e o pensamento firmemente agarrados ao primitivo, ao retrógrado e ao infame velho modelo de fazer política. De política e de políticos.

Tanto se falou em defesa da família e dos valores morais e éticos. Tanto se disse que negros, gays e mulheres estavam sendo ameaçados por uma ideologia alimentada por um discurso de ódio. Tantas foram as trocas de farpas e de acusações. Tantas foram as mensagens falsas disparadas pelo WhatsApp o canal que, infelizmente, milhões de pessoas tomam como fonte de informação. E tantos foram os maus agouros para o futuro deste país, que os projetos de governo acabaram figurando somente e apenas como coadjuvantes e não como protagonistas das discussões eleitorais.

Tanto Jair Bolsonaro, que se sagrou vencedor, quanto Fernando Haddad, embora se apresentando como representantes de polos políticos e ideológicos bem distintos, como a água e o vinho, encarnaram, cada um a seu modo, o que o universo político brasileiro tem de mais daninho e abjeto. De um lado, um militar da reserva do Exército que é o exemplo cagado e cuspido do troglodita que entra na vida pública com o único propósito de se dar bem e mandar para as cucuias o bem comum ou algo que o valha. De outro, um sujeito cuja aparente inteligência esbarra no fato de ele agir como se não conseguisse pensar por si próprio e fosse algo e não alguém que é acionado por controle remoto. Na cabeça de milhões de eleitores que resolveram anular o voto e/ou nem votar, um não presta e o outro não vale nada, e vice-versa.

O futuro, esse ser desconhecido, talvez olhe para esse nosso presente como um período no qual reinou um misto de raiva, incerteza e medo. Ora, e se de repente o Bolsonaro – se é que ele, frágil fisicamente como está, vai chegar ao fim do mandato – fizer uma boa administração e pôr o país no caminho da prosperidade socioeconômica sepultando de alguma maneira suas estultícias de clown de caserna? Então, tratemos de não sofrer por antecipação.

Talvez – talvez - esse senhor Jair Bolsonaro não seja tão ruim, boçal, grosseiro e estúpido como ele sempre demonstrou ser na frente das câmeras; e, em algum momento, se achegue diante de um espelho e reconheça, olhando bem no fundo dos seus olhos de lunático moribundo, que ele venceu as eleições por força não de seus méritos, porque ele não tem nenhum – quem quiser defender misóginos, homofóbicos e apoiadores de torturadores que defenda, eu não tenho estômago e nem cabedal para isso -, mas sim porque o seu adversário era uma marionete, um papagaio de pirata de um partido que lançou o país no que se diz ser a maior recessão econômica de sua história, gerando um aumento absurdo da taxa de desemprego e provocando o fechamento de milhares empresas dos mais variados portes e segmentos, de modo que, para muitos eleitores, foi preferível dar a vez e um quarto ao diabo do que ver o Partido dos Trabalhadores novamente no comando da nação. Petistas do alto escalão tanto aprontaram que acabaram provocando a rejeição de milhões de eleitores que um dia os apoiaram. A acusação que eles o tempo todo fizeram de que Jair Bolsonaro é um inimigo da democracia soou como uma piada considerando que eles próprios sempre flertaram com uma indisfarçável vontade de construir uma verdade autoritária ao apoiarem ditadores.

Além de ter sido as eleições gerais das fake news, disseminadas pelas redes sociais, essas foram também as eleições em que o ódio e a intolerância partiram em combate aos princípios democráticos de direito; e deixaram evidenciado um apego desmedido a uma realidade autoritária vinda de um e de outro lado dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno. A facada desferida contra o então candidato Jair Bolsonaro bem como as de um bolsonarista que tiraram a vida do capoeirista e petista Moa do Katendê figuraram como flagrantes de um tempo sombrio e assustador no qual a barbárie dá de ombros e rejeita o confronto de ideias.

Não votei no Fernando Haddad porque nunca acreditei nos fundamentos ideológicos dos petistas. Não votei em Jair Bolsonaro porque o vejo como uma aberração que vai de encontro e colide com muitos dos princípios e com muitas das verdades que constituem o meu modo de enxergar o mundo e estar na vida. Esse Jair Bolsonaro que, acredito, está mais para lá do que para cá, como um doente com os dias contados, foi eleito não porque, segundo disseram alguns analistas, os brasileiros foram e/ou estão sendo tomados por uma vaga autoritária e moralizadora. Aceito a explicação quanto à postura autoritária, mas não a que menciona uma suposta vitória da moralidade, porque, um povo que parece ser em essência desonesto, que age quase que o tempo todo querendo de alguma forma se dar bem e tirar vantagem em tudo e mandando às favas qualquer noção de justiça social, se importando apenas com o seu próprio umbigo ou quando muito com o bem-estar dos seus familiares não pode, reconheçamos isso, ter sido tomado de uma hora para outra pela necessidade de se agarrar a princípios morais e éticos. E, quando se tem uma visão torta de mundo, a moral e a ética que surja no caminho embasando o pacote, vêm com características muito próprias, pondo indivíduos numa espécie de caixinha tida como modelo de conduta para uma pessoa considerada “normal”; ou seja, os “anormais”, como os gays, por exemplo, não cabem, segundo essa gente, nessa caixinha. E por aí se vê que tipo de mundo julgado ideal essas pessoas querem construir.

Eu acredito que Jair Bolsonaro e o seu vice, general Hamilton Mourão, não representam fundamentalmente as Forças Armadas deste país. Milhões de brasileiros votaram neles convictos de que fizeram a escolha certa, como é do jogo eleitoral. Não votei neles, como já disse, mas nem por isso torço para que as coisas saiam errado; muito pelo contrário; mesmo porque já estamos vivendo tempos muito difíceis e cruéis: uma guerra urbana quase que generalizada na qual, de acordo com estatísticas, uma pessoa é assassinada a cada oito minutos; uma recessão econômica que fez crescer o número de miseráveis; e o país continua aferrado aos mesmos males de sempre que são uma educação débil, uma insegurança pública e um sistema de saúde cujo atendimento e/ou a falta dele tira a dignidade de todo e qualquer indivíduo.

O senhor Jair Bolsonaro sagrou-se vencedor das eleições e agora é ver do que ele é capaz e/ou incapaz de fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário