24 de novembro de 2018

Num dia de muito sol em Itaparica


Por Clênio Sierra de Alcântara


                                                        Fotos: Ernani Neves                                                                                       Terminal Marítimo de Salvador, bem perto do Mercado                      Modelo e do movimento da Cidade Baixa
I



De acordo com as narrativas históricas por mim consultadas, as terras da ilha de Itaparica, que dista a cerca de 12 milhas de Salvador e cujo nome, de origem tupi, significa, segundo Teodoro Sampaio, “cerca feita de pedra” ou “cercado de pedra” – é uma das ilhas que se encontram na Baía de Todos os Santos -, foram dadas em sesmaria, em 1552, durante o governo de Tomé de Sousa, ao 1º Conde da Castanheira Dom António de Ataíde; com a morte dele, que era figura dominante na Corte de Dom João III, as terras foram repassadas  ao seu filho, que obteve a primeira confirmação de posse em 15 de novembro de 1575 e a segunda em 4 de abril de 1593. Posteriormente delas foram transmitidas a Dom Manuel de Ataíde, terceiro donatário; depois, para Dom João Ataíde, que foi o quarto donatário. Ocorreu que, após a morte dele, a sucessão das ditas terras foram requeridas pelo Marquês de Cascais, Dom Luís Álvares, que a obteve em 25 de novembro de 1706. E com a morte dos novos donatários, a Metrópole mandou que os seus bens fossem incorporados à Coroa, por aviso de 6 de abril de 1763.



Muita gente na hora do embarque....



Olha quem também estava na maior ansiedade à espera de navegar





Eu querendo logo que a viagem começasse...






E Ernani também












O Forte de São Marcelo








  
Ocorre que, inconformados com tal incorporação, os sucessores dos falecidos marqueses protestaram e conseguiram que o Erário, por uma ordem do dia 23 de janeiro de 1788, mandasse entregar à Marquesa de Niza o morgado e os emolumentos da sua renda existentes em depósito. Com a decretação da Independência do Brasil, em 1822, as terras foram num primeiro momento sequestradas e reentregues depois, à sua proprietária, por sentença baseada no Tratado de 29 de agosto de 1826. Treze anos se passaram; e em agosto de 1839 os sucessores de Niza venderam o morgado ao capitão Tomás da silva Paranhos, que, por sua morte, o deixou aos barões da Várzea. O domínio direto das terras passou a pertencer à União por força do Decreto de nº 9760, de 5 de setembro de 1946.



Chegando à Mar Grande, no Município de Vera Cruz, vendo-se a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus












Recuemos novamente ao século XVI a fim de, a partir dele, observar outros fatos que tiveram a ilha de Itaparica como cenário; ilha essa que foi descoberta por Américo Vespúcio em 1º de novembro de 1501.

Conta-se que em 1559, índios do Paraguaçu atacaram a ilha e mataram alguns dos seus habitantes; e que, em represália; o Governador-geral Mem de Sá mandou invadir as terras sublevadas e destruir as aldeias que tentaram resistir ao choque de suas armas.


Pouco tempo depois, Luís da Gran e os seus companheiros de catequese Antônio Pires e Luís Rodrigues, aportaram à ilha e levantaram no alto de uma colina, o primeiro povoado e a primeira igreja, esta sob a invocação do Senhor da Vera Cruz, elevada à freguesia em 1563 pelo segundo bispo da Bahia, Dom Pedro Leitão.



Começando a percorrer as ruas de Itaparica, nas quais construções antigas - algumas bem deterioradas - fazem par com outras recentes; elas dão um colorido e ao mesmo tempo um tom de mansidão ao local






















Esta praça foi para mim um dos recantos mais melancólicos do lugar, dada a sua degradação que era tão pulsante e opressora

A localidade começou a prosperar sob a diligência de indivíduos empreendedores como João Fidalgo, que iniciou uma criação de gado tendo os animais sido trazidos da ilha de Cabo Verde; além disso, ele instalou naquelas terras o primeiro engenho de açúcar, em 1564. Já o português Francisco Nunes, um dos primeiros colonizadores da ilha, manteve plantações nas terras daquela igreja e fundou, em 1566, às margens do Rio Tiquaraçu, uma casa de farinha e o segundo engenho de açúcar do lugar.



A ilha de Itaparica não escapou das investidas dos invasores holandeses que almejavam tomar posse da cidade de Salvador e de áreas do Recôncavo Baiano onde a produção de açúcar era intensa. (1) E assim foi que, em 8 de fevereiro de 1637, Siegsmund van Schkoppe, no comando de dois mil e quinhentos homens, assaltou a ilha e levantou um forte com quatro redutos no mesmo ponto no qual, mais tarde, foi erguida a Fortaleza de São Lourenço. Como se sabe, as investidas dos flamengos na Bahia acabaram sendo infrutíferas, dada a prontidão com que foram repelidos em mais de uma ocasião.




Igreja de São Lourenço






















Diz-se que foi o padre José de Andrade e Sá o iniciador da cultura do trigo em Mar Grande, doando a Fazenda Nossa Senhora da Penha e França à Companhia de Jesus em 22 de julho de 1689. Até pelo menos a década de  1950 – não sei se ainda existem porque eu não visitei o local – podiam ser vistas as ruínas do moinho construído em 1606 e destinado ao beneficiamento do trigo que se cultivava nas terras do Mar Grande. (2)

Uma das cartas, a de número VI, que constituem a obra Noticias soteropolitanas e brasilicas, de autoria de Luiz dos Santos Vilhena, é toda ela dedicada ao sistema defensivo da Bahia - e não nos esqueçamos de que, durante muito tempo, dizer Bahia era o mesmo que dizer Salvador. Estudo minucioso escrito, ao que parece, no último quartel do século XVIII, a narrativa de Vilhena é ilustrada com várias plantas de fortificações - inclusive apresenta uma da Fortaleza de São Lourenço - e traz a seguinte descrição da Ilha de Itaparica:


Dentro no grande golpho da Bahia de Todos os Santos fica, além de muitas outras, tanto grandes, como pequenas, a famoza ilha de Itaparica com sete legoas, com pouca differença de comprimento e menos da terça parte de largura.


Corre na direcção Norte a Sul em que contão quatro pontas mais notáveis, ou pera melhor dizer cinco, alem de outras de menos conta e vem a ser; a Ponta da Armação das Balêas, conhecida vulgarmente por Ponta de Itaparica; a ponta do Manguinho; a do Jaburu; a chamada das Agoas mortas; a da Aratuba; e a de Caixa Pregos na extremidade da ilha do sul. (3)


Por determinação da Resolução régia de 2 de dezembro de 1814 foi criado o distrito que teve por sede a primitiva povoação da Ponta das Baleias; e, pelo Alvará de 19 de janeiro de 1815, esse arraial foi elevado à freguesia.

Nas páginas do seu Diário de uma viagem ao Brasil, Maria Grahan, uma inglesa que passou pela Bahia em 1821, registrou algumas impressões sobre Itaparica em anotações datadas da quarta-feira 24 de outubro daquele ano. “Não há cidade em Itaparica – observou a viajante -, mas sim uma vila ou aldeia com um forte na Punto [Ponta] de Itaparica”, que é a porção norte da ilha. Maria Grahan comentou sobre engenhos de produção de açúcar, a condição de trabalho dos escravos; disse ainda que, embora o açúcar fosse o principal produto da ilha, era também dali que seguia a maior parte das aves, frutas e verduras que abasteciam Salvador. E arrematou com estas observações os aspectos gerais da ilha que conhecera: “Contudo não há nada notável em Itaparica a não ser a fertilidade. A paisagem tem o mesmo aspecto que a da Bahia [Salvador], ainda que em estilo mais modesto. Mas é fresca, verde e agradável”. (4)















Capela de Nossa Senhora da Piedade











O desenhista alemão Johann Moritz Rugendas, que veio ao Brasil contratado pela expedição científica do Barão de Langsdorff e, ao chegar a este país, resolveu se desligar da expedição e percorrer por conta própria um vasto itinerário pelas terras do interior, também na década de 1820, nos deixou esta breve descrição sobre Itaparica: “A ilha de Itaparica, em frente da Bahia, tem 7 léguas de comprimento e mais ou menos 2 de largura. É muito fértil e abastece o mercado da cidade de toda espécie de legumes e frutas”. (5)



Por um decreto de 25 de outubro de 1831, o município foi emancipado, tendo sido a sua Câmara oficialmente instalada no antigo solar de Antônio Pimenta, em 4 de agosto de 1833, da qual foi seu primeiro presidente o coronel João Antunes Guimarães. A elevação à categoria de cidade só ocorreria muitos anos depois, por força do ato estadual de 31 de outubro de 1890, quando se encontrava interinamente governando a Bahia o itaparicano Virgílio Clímaco Damásio.



















Aspectos da Fortaleza de São Lourenço















Ainda no século XIX, Itaparica recebeu a visita de outro personagem ilustre: o imperador Dom Pedro II, que chegou a Salvador em 6 de outubro de 1859. Quem consultar o diário deixado pelo monarca ficará desapontado ao verificar que, a respeito de Itaparica, ele se limitou a registrar tão somente isso no dia 3 de novembro: “Às 7 ½ estávamos defronte da ponte de Itaparica onde está a vila, que é bonita, soltando-se logo daí foguetes ao ar e repicando sinos”. (6)




Ocorre que essa viagem do imperador à Bahia – a imperatriz Teresa Cristina o acompanhou – motivou a publicação pela Typ. e Livraria de Epiphanio Pedroza, de Salvador, ainda em 1859, do “folheto” Viagem Imperial ou Narração dos preparativos, festejos e felicitações que tiveram lugar na província da Bahia por ocasião da visita que à mesma fizeram SS. MM. II. em outubro e novembro do corrente ano, que reuniu material elaborado pela imprensa e que cobriu tais eventos. E foi dessa publicação que eu extraí estes informes:



Às 7 ½ do dia 3, a esquadrilha passou por Itaparica: houve completo alvoroço; o povo corria para o cais a dar vivas; os sinos das igrejas repicavam, e os ares eram atroados pelos foguetes(7)





















Ah, que delícia de moqueca! Simone, mais uma vez, parabéns!








Eu adoro as chamadas comidas moles como pirão e papa











Eu todo, todo só na amostração



No dia 5 de novembro, tendo regressado de Nazaré das Farinhas, o imperador desembarcou em Itaparica logo depois do meio-dia debaixo de grande cerração e chuva extraordinária. Foi recebido com entusiasmo por pessoas da vila e da capital estando à frente o juiz municipal doutor Bento José Fernandes de Almeida:



S. M. desembarcou em uma ponte puxada ao cais, feita de madeira, forrada de baeta, e com grades verdes e amarelas dos lados, enfeitadas com folhas, dando para uma bela escada, que muito facilitou o desembarque. O cais estava coberto de povo. A Guarda Nacional, numerosa como é a de Itaparica, formava alas e saudava o monarca(8)






























Cadê o cuidado com o patrimônio edificado?














Muita chuva continuou a cair. Dom Pedro II, encharcado, foi até a capelinha de Nossa Senhora da Piedade onde beijou o santo lenho; em seguida, descansou por alguns minutos na casa que o Bento José havia preparado para ele. Agora um detalhe curioso: o juiz Bento José preparou um leito para Dom Pedro II no mesmo aposento onde dormira Dom João VI e na mesma casa onde permanecera durante duas horas Dom Pedro I.



Foi uma visita muito rápida que o monarca Dom Pedro II fez a Itaparica. Às 13:00 h ele já estava a bordo de uma galeota a fim de percorrer e conhecer outras terras do Recôncavo Baiano, como as cidades de Cachoeira e Feira de Santana.




































No dia 15 de novembro o monarca e sua comitiva retornaram à ilha de Itaparica onde, novamente, ele foi recebido, segundo se disse, estrondosamente. Entre outros lugares da vila, o imperador esteve na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, onde fez oração, e visitou escolas primárias de meninos e meninas e as igrejas de São Lourenço e da Glória. E após esse passeio recolheu-se Sua Majestade à casa que fora reservada pelo juiz municipal onde tomou parte em um grande almoço do qual participaram autoridades do lugar e a família do José Bento. Estava se aproximando a hora da despedida. E assim foi que:



Às 4 horas da tarde SS. MM. retiraram-se para a cidade [Salvador] entre vivas entusiásticos e frenéticos que partiam tanto do povo da vila, como dos barcos e das lanchas e canoas, que embandeiradas se achavam no porto. (9)



 





























A Lei Estadual de 14 de janeiro de 1890 criou a comarca de Itaparica, composta pelo termo de Itaparica e Jaguaribe, que foi extinta por um Ato estadual datado de 3 de agosto de 1892 e anexada, como termo, à comarca de Maragojipe. Pela Lei estadual nº 280, de 6 de setembro de 1898, ela foi restaurada, com a mesma composição primitiva, sendo depois extinta e voltando a termo de Maragojipe. De acordo com a divisão territorial de 31 de dezembro de 1937 e no quadro anexo ao Decreto-lei estadual nº 10 724, de 30 de março de 1938, Itaparica deixou de ser termo da comarca de Maragojipe, passando a termo da comarca da capital.



O escritor e historiador Ubaldo Osório nos dá outra versão para a origem e significado do nome do município. Segundo ele, os portugueses, ao aportarem às terras em cujas colinas seria erguida a cidade de Salvador, julgaram, olhando para a baía, estarem na foz de um grande rio:



Lembraram-se do Tejo formoso e na topografia da terra encontrada, viram Lisboa diante dos seus olhos maravilhados.

Contemplando embevecidos, a ilha fronteira, recordaram-se, talvez, da Caparica de Portugal situada a cavaleiro da cidade “das ribas silenciosas e das variações sutis”. E daí o nome que a saudade evocara e que na sua língua, o povoador primitivo, não soube repetir, Taparica, é recordação e é saudade. (10)


Eduardo de Almeida Navarro nos diz que o nome Itaparica provém do tupi – junção de ita (pedra) e pirika (faiscante) – e significa “pedra faiscante”. Uma outra versão sustenta que Itaparica provém do nome do cacique Taparica, pai da índia tupinambá Catarina Paraguaçu.






















De certo que essa mulher não estava dormindo o sono dos justos, porque faltou-lhe justiça social, não foi?






João das Botas foi um dos bravos moradores da ilha que lutaram contra os portugueses pela causa da independência do Brasil. No dia 7 de janeiro de 1823 ocorreu um dos mais violentos combates

















Em sua formação administrativa vigente, de acordo com a Lei nº 628, de 30 de dezembro de 1953, a ilha era constituída pelos distritos de Itaparica, Salinas da Margarida, Mar Grande, Vera Cruz de Itaparica, Jiribatuba e Cacha Pregos. Além desses distritos, o município contava então com vinte e seis povoados: Ponta de Areia, Amoreiras, Manguinho, Porto Santo, Misericórdia, Gameleira, Porto do Sobrado, Ilhota, Gamboa, Serrão, Barra do Gil, Coroa, Barra do Pote, Conceição de Vera Cruz, Barra Grande, Tairu, Campinas, Ponta Grossa, Aratuba, Matarandiba, Catu, Berlinque, Dendê ou Porto da Telha, Conceição de Salinas e Encarnação. (11)



Descrevendo a “cidade” – situada no extremo norte da ilha -, a narrativa que se encontra na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros nos diz que o seu “aspecto é tradicional e moderno” ao mesmo tempo:



Logo ao chegar, o visitante tem a impressão de estar numa cidade muito antiga pelas suas ruas estreitas e o seu casario antiquado. Todavia, à proporção que vai se afastando do porto de desembarque vai encontrando novas ruas, largas, pavimentadas e arborizadas. (12)



Ruas arborizadas e ornadas por belíssimos palacetes e bangalôs modernos, segue nos dizendo a narrativa, “alguns de valor superior a um milhão de cruzeiros”.









































II


Na manhã do dia 19 de outubro de 2013, um sábado, eu saí cedo do hotel onde me encontrava hospedado, no bairro de Amaralina, em Salvador, e segui com Ernani Neves para tomarmos lugar numa lancha – embarcamos na que era batizada de Maria Quitéria – e singrarmos as águas da Baía de Todos os Santos rumo à ilha de Itaparica. Recordo perfeitamente que naquela manhã de sol intenso o fascínio que Salvador despertara em mim se avolumou sobremaneira quando eu comecei a mirá-la a partir do mar. A lancha ia se afastando do continente e aquela forma de cidade que tomava os meus olhos agigantava mais e mais Salvador dentro de mim.



Não nos demoramos em Mar Grande, ponto de desembarque que fica no município de Vera Cruz; logo pegamos uma van que nos levou para o lado norte daquela imensidão de terra, para o município que possui o mesmo nome da ilha: Itaparica.


















































Seguido de muito perto pelo meu então companheiro de andanças, percorri vários logradouros daquela porção da ilha. Ruas e praças arborizadas. Rua Luís da Gran. Praça Virgínio Damásio, onde eu me deparei com um acanhado espaço dedicado ao ilustre escritor itaparicano João Ubaldo Ribeiro, o renomado membro da Academia Brasileira de Letras de quem até hoje eu só li o licencioso A casa dos budas ditosos, que herdei do meu saudoso Braz Magalhães Filho. Aqui e ali edificações antigas e deterioradas enchiam de melancolia um território onde a paz repousava.



Vi templos como a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e a Igreja de São Lourenço, todas de portas fechadas. E fechada também para visitação se encontrava a Fortaleza de São Lourenço porque, tudo levava a crer que, pelo som nas alturas que ecoava lá de dentro, estava rolando uma festa ali, e certamente os convidados deviam constar de alguma lista na qual, claro, o meu nome e o de Ernani não foram incluídos.



Uma grande baleia desenhada num muro chamou a minha atenção: eu sou muito dado a me encantar com uma porção de coisas simples e belas. Afastei-me desse muro e me dirigi até a Avenida 25 de Outubro, na orla. Na Praça Monção Filho, onde se encontram residências antigas, uma moradora de rua que dormia ao lado de um gato também chamou a minha atenção: eu sou muito dado a me comover com cenas nas quais mulheres aparecem como coisas e não como gente.



Na Praça Tenente Botas via-se movimento nos bares e restaurantes. O mercado público era mais uma entre várias construções visivelmente necessitadas de passarem por um processo de revitalização. Uma brisa soprava no Porto dos Santos me incitando a andar e andar pela ilha como se eu tivesse uma disposição e um fôlego sem limites.



O mar límpido e calmo nos convidou para um revigorante banho. Enquanto a moqueca de peixe vermelho era preparada na barraca da Simone, entramos na água. Que coisa boa! E como estava gostosa aquela moqueca!


Novamente em Mar Grande, agora na hora da partida...


E lá fomos nós singrando as águas da Baía de Todos os Santos de volta a Salvador 

















Em seu Breviário da Bahia, Afranio Peixoto lá pelas tantas nos conta de um certo padre Manuel de Santa Maria Itaparica, autor do poema sacro “Eustáquidos”, que vivia em 1751 e consagrou várias composições aos funerais do rei Dom João V. No mesmo livro dos “Eustáquidos” – continua nos dizendo o bom do Afranio – aparece uma “Descrição da Ilha de Itaparica, termo da Cidade da Bahia da qual se faz menção no canto quinto” da qual eu recolhi esta passagem que aqui figura:



Se a deusa Citérea conhecera


Desta ilha celebrada a formosura,


Eu fico, que a Netuno prometera


O que a outros negou cruel e dura:


Então de boamente lhe oferecera


Entre incêndios de fogo e neve pura.


E se alguma sorte alcançara


Por esta a sua Chipre desprezara. (13)







À tarde, novamente singrando as águas da Baía de Todos os Santos, agora navegando na lancha Catarina Paraguaçu, vi a ilha de Itaparica pouco a pouco se apequenando na linha do horizonte enquanto paulatinamente ia crescendo nos escaninhos da minha memória.







Notas



1-   Na narrativa de Gaspar Barleus – História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil – é dito o seguinte: “Também incitavam o Conde [Maurício de Nassau] os diretores europeus, apertando-o de contínuo para realizar a conquista da Baía, na qual levava a mira. Era ali, diziam eles, o principal refúgio dos portugueses [...] em nenhuma outra parte havia mais engenhos de açúcar e presa mais rica” (p. 79).


2-    Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XX, p. 317.

- Luiz dos Santos Vilhena. Recopilação de noticias soteropolitanas e brasilicas. 1º volume. Carta sexta, p. 238.



4-  Maria Grahan. Diário de uma viagem ao Brasil. As citações, por ordem de aparecimento, são das páginas 178 e 180.


5-    Johann Moritz Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil, p. 74.


6-    Dom Pedro II. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859/1860, p. 181.


7-   Viagem Imperial ou Narração dos preparativos, festejos e felicitações que tiveram lugar na província da Bahia por ocasião da visita que à mesma fizeram SS. MM. II. em outubro do corrente ano, p. 279. O texto do “folheto” está inserido no citado diário do Imperador.


8-    Id. ibid. p. 283-284.


9-    Id. ibid. p. 313.


10-    Apud. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XX, p. 322.


11-  Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XX, p. 318 e 322.


12-  Id. ibid. p. 319 e 320.


13-  Afrânio Peixoto. “Anônimo Itaparicano”. In Breviário da Bahia, p. 123. O “verbete” aparece nas páginas 123, 124 e 125.





Referências bibliográficas



BARLEUS, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Trad. Cláudio Brandão. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1980.


Dom Pedro II. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859/1860. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2003.


Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Volume XX. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1958.


GRAHAN, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil. Trad. Américo Jacobina Lacombe. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1990.


PEIXOTO, Afranio. Breviário da Bahia. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1945.


RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Círculo do Livro, s. d.


Viagem Imperial ou Narração dos preparativos, festejos e felicitações que tiveram lugar na província da Bahia por ocasião da visita que à mesma fizeram SS. MM. II. em outubro e novembro do corrente ano. In Dom Pedro II. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859/1860. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2003, p. 209-325.


VILHENA, Luiz dos Santos. Recopilação de noticias soteropolitanas e brasilicas. Bahia: Imprensa Official do Estado, 1922.


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