Por Clênio Sierra de
Alcântara
|
Fotos: Arquivo do Autor Barreira na esquina das ruas Nova e da Palma, no bairro de Santo Antônio. Com o propósito de barrar a circulação de vendedores ambulantes com o que chamo de carroças-tabuleiros, a Prefeitura do Recife ergueu em várias ruas da área central barreiras como essa que aparece na foto, uma das coisas mais feias que eu já vi como medida de contenção do comércio informal |
Nos últimos meses de 2018 a
Prefeitura Municipal do Recife começou a travar mais uma batalha contra a
circulação de veículos e por tabela de carroças-tabuleiros de vendedores
ambulantes em alguns logradouros da área central da capital, nos quais há um
intenso movimento de comércio e vai e vem de pedestres, como as ruas Duque de
Caxias, Nova e Imperatriz.
Não sei em que medida a ação
de fincar estacas de ferro nas entradas das ruas garantirá a não
circulação de automóveis e carroças-tabuleiros. O fato é que essas, digamos,
trincheiras, estão enfeiando um pouco mais o já em parte degradado centro do
Recife.
|
Barreira na Rua da Penha, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Livramento
|
Faz tempo que a
Municipalidade recifense busca coibir os abusos praticados por motoristas de
carros e por vendedores ambulantes. Alguns vendedores ambulantes são tão
desrespeitosos e desaforados que chegam a estacionar suas carroças-tabuleiros
no cruzamento de ruas, dificultando a passagem de pedestres.
Quem quiser ver
em que grau a situação de desordenamento e do “não tô nem aí” dos infratores
chegou dê uma passadinha num fim de tarde na esquina da Rua Gervásio Pires
com a Avenida Conde da Boa Vista, onde até mesmo a faixa de pedestres é solenemente
ignorada sem que apareça um funcionário sequer da Prefeitura para coibir
aquilo ali. Outro ponto onde reinam a balbúrdia e o descaso é o trecho
compreendido entre a esquina da Rua Nova com a Avenida Dantas Barreto, seguindo
no sentido sul até a lateral da estação do BRT; ali, onde há pontos de ônibus,
as pessoas são obrigadas a esperar pelos coletivos na rua em si e não na calçada, como deveria ser, porque os vendedores ambulantes estacionam e
posicionam suas carroças-tabuleiros junto ao meio-fio, atrapalhando tudo.
|
Eis o que eu chamo de carroças-tabuleiros |
Deve-se louvar o esforço da
atual gestão municipal do Recife no sentido de, digamos, humanizar a área
central da capital tratando, por exemplo, de reformar e até mesmo reconstruir
calçadas, dando a entender que não existem apenas pessoas que circulam em
carros por ali, mas também que a cidade, as ruas e outros espaços são igualmente
territórios destinados aos pedestres. Outra iniciativa, a meu ver bastante
louvável, é a restrição total e/ou parcial de circulação de veículos em certos
logradouros, como aconteceu na Avenida Rio Branco e se pretende que ocorra nas
ruas Duque de Caxias, Nova e Imperatriz, de modo que essas artérias se tornem
verdadeiros passeios públicos e as pessoas possam circular por elas sem receio
de ser atropeladas.
|
É claro que alguns vendedores ambulantes cometem abusos, como o flagrante desta foto, em que uma carroça-tabuleiro aparece parada em cima da faixa de pedestre na Av. Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio |
Agora a mim me parece que as tais barreiras que os homens da Prefeitura estão a implantar em algumas ruas – na manhã da terça-feira
dia 4 de dezembro, eu flagrei operários
removendo tijolos do piso intertravado da Rua da Imperatriz, quase defronte à
Igreja Matriz da Boa Vista, para inserir as estacas – são um sinal
inequívoco de que nem a legislação e nem a fiscalização têm sido e/ou não
estavam sendo eficientes para coibir a ação dos infratores. Essas quase trincheiras
de ferro, a bem da verdade, parecem ser o último e derradeiro recurso contra a
força dos bárbaros que insistem em fazer do espaço público um território
particular e de usufruto individual.
|
Flagrantes feitos na Praça Dom Vital: o caos se instalou aí e parece que não quer mais sair |
|
Barreira feita com estacas de ferro e cavaletes na movimentadíssima Rua das Calçadas no encontro com a Praça Dom Vital |
Na tarde do dia 19 de dezembro, eu abordei um dos fiscais da Municipalidade que se encontrava exercendo sua função na trincheira montada na esquina da Rua Nova com a Rua da Palma, no bairro de Santo Antônio. Ele me falou que as barreiras visam fundamentalmente ao bloqueio dos vendedores ambulantes, porque, segundo ele, o fluxo de veículos na área é pequeno e basicamente são os que atendem os lojistas. E ele me disse assim: "Essas barreiras são para coibir principalmente os camelôs. Todo mundo precisa trabalhar, mas muitos desses caras não querem respeitar nada e até roubam os fregueses deles". Como assim? Ele me falou de uma modalidade criminosa chamada "coice", que, de acordo com a explicação que me deu, consiste em o sujeito tapear o freguês na hora de passar o troco, repassando dinheiro a menos. O fiscal também me informou que parte do bloqueio, que é completado com cavaletes de ferro, se estende só até às 18:00 h.
|
Nesta e nas cinco fotos seguintes, flagrantes feitos na Rua Duque de Caxias |
|
Nesta foto e na seguinte, barreiras na Rua Estreita do Rosário |
Ainda no mês de dezembro, no dia 28, eu fui à capital com o intuito de fotografar algumas das barreiras para ilustrar este artigo. Em quase todas elas eu vi a presença de fiscais da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, inclusive, no trecho do encontro da Rua das Calçadas com a Praça Dom Vital, no bairro de São José, praça essa que há tempos se encontra degradada, ocupada por moradores de rua e contornada por feirantes, veículos e muita sujeira.
|
Este ponto da Av. Dantas Barreto, na esquina com a Rua Nova, é terrível: a presença das carroças-tabuleiros obriga pedestres e pessoas que estão à espera de ônibus a circularem pela área destinada aos veículos. Esta situação crítica e de muitos anos a Prefeitura não coíbe |
|
A partir daqui, flagrantes feitos na Rua da Imperatriz, no bairro da Boa Vista |
|
Fiscais da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano recolhendo cavaletes na Rua da Imperatriz |
|
Barreira na Rua Sete de Setembro, na direção da Rua da Imperatriz |
Caso insistamos em tratar os
espaços coletivos das cidades como terras de ninguém, haveremos de transformar
este que é, por excelência, o território-símbolo do império da civilização, em
algo não muito diferente dos recantos onde reinam as formas mais selvagens de
vida na Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário