Por Clênio
Sierra de Alcântara
A crítica mais simplória que eu tenho ouvido contra o atual
chefe do Ministério da Educação (MEC) em certas rodas de conversa, é a que diz
que está errado que tal posto seja ocupado por um estrangeiro. Quando eu ouço
isso, argumento em defesa do senhor Ricardo Vélez Rodríguez, que é colombiano
de nascimento, que habitualmente os brasilianistas
– assim são chamados os estrangeiros que tomam o Brasil como objeto de algum
estudo – costumam ter um conhecimento profundo sobre certos aspectos deste
país, porque eles fazem pesquisas muito criteriosas e ricas de informações, a
exemplo das obras deixadas por figuras como Warren Dean, Thomas Skidmore e
Stuart Schwartz.
Não sei se o colombiano Vélez Rodríguez se encaixa no perfil
de um brasilianista; mas, independentemente disso, o que eu quero dizer é que
não é porque um indivíduo possui outra nacionalidade que ele não pode ser
ministro em um país no qual ele não nasceu; o critério deve ser o currículo
acadêmico e o conhecimento da realidade da qual tomará conta, e a mim me parece
que o senhor Vélez Rodríguez é uma pessoa possuidora de cabedal para tanto. Por
outro lado, tendo em vista a série de acontecimentos que vêm se desenrolando
dentro do MEC, eu estou cada vez mais convencido de que o que falta ao nobre
ministro não é preparo intelectual e sim algo que é tão necessário quanto na
posição que ele ora ocupa: capacidade de liderar e comandar num ambiente que
tem se revelado bastante hostil dadas as constantes disputas e intromissões do
senhor Olavo de Carvalho, o pitaqueiro-mor do Governo do presidente Jair
Bolsonaro, em sua pasta; e, ao lado disso, o caldo grosso da ideologização – ou
desideologização, como queiram – do MEC, do qual tem sido retirados todos os
elementos humanos que tiveram ligação com os governos do Partido dos
Trabalhadores (PT) e também do PSDB; petistas e tucanos têm sido considerados
pragas que precisam ser erradicadas do MEC; e, pelo que vem sendo dito, o
expurgo tem ocorrido sem que cheguem substitutos para os que foram mandados
embora, ou seja, há muito o que fazer para que o nível da Educação deste país
saia do marasmo em que se encontra e nem sequer de funcionários para tanto o
senhor Vélez Rodríguez dispõe.
Nesta semana o já conturbado MEC foi abalado mais uma vez; e,
ao que parece, não foi pelas investidas dos chamados olavetes, discípulos, ex-alunos e quejandos do tal do Olavo de
Carvalho, o que me faz crer que, lá dentro, está imperando um completo
salseiro. Na última terça-feira Marcus Vinicius Rodrigues, então presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep),
foi demitido – ele é aquele senhor que no discurso de posse lançou um horrível “cidadões”;
e que disse aos jornalistas na ocasião que o presidente Jair Bolsonaro era o “dono
do Enem”, o Exame Nacional do Ensino Médio. E o que motivou a sua saída do
Inep? Foi divulgado que ele assinara no dia anterior uma portaria com as novas
regras do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); que decidira sozinho
adiar a avaliação da alfabetização de crianças, que só iria ocorrer em 2021; e
que isso, dada a repercussão negativa, inflamou o ministro Vélez Rodríguez, que
disse que em momento algum fora consultado sobre o assunto pelo subordinado.
Não se sabe até agora se certas ações intentadas pelo
ministro Ricardo Vélez Rodríguez, como aquela que propôs que os alunos
cantassem o Hino Nacional e fossem
filmados fazendo isso, partem de sua cabeça desassossegada ou são sopradas pelo
próprio presidente da República ou mesmo pelos olavetes. O que se tem observado até agora é muita pirotecnia,
muitas disputas de influência e poder e nada de realmente relevante sendo
planejado para fazer o país avançar num terreno primordial, que é a Educação.
Temos ouvido e visto repetidas vezes movimentos do atual
Governo no sentido de, de alguma maneira, “militarizar” de vez as escolas
públicas – algo, na verdade, que vem acontecendo faz alguns anos - com o uso da
Polícia Militar para “disciplinar” o corpo discente, impondo trajes, cortes de
cabelo e por aí vai. Entendo que, caso queiram, os pais dos alunos irão buscar
escolas militares e/ou militarizadas; mas, daí a ver seus filhos inseridos numa
realidade escolar na qual eles não se sentem incluídos e/ou da qual eles não querem
tomar parte vai uma longa distância.
Não são poucas as escolas deste país que sofrem com
infraestrutura precária, falta de professores e que não possuem quadras
esportivas, computadores, bibliotecas e nem sequer um básico banheiro. A realidade
é tão dura e calamitosa e as atuais autoridades responsáveis pela questão da
Educação parecem acreditar que “ordem unida” e “continência” irão salvar os
estudantes brasileiros da mediocridade e do analfabetismo funcional que
acometem milhões deles. Os nossos estudantes precisam urgentemente pisar em
chão firme para caminhar rumo à estrada do futuro e tudo o que o Ministério da
Educação conduzido por Ricardo Vélez Rodríguez vem oferecendo até o presente
momento é um campo minado e sem um horizonte à vista.
As disputas palacianas, creio eu, hão de fazer de Ricardo
Vélez Rodríguez bucha de canhão e lançá-lo para bem longe do Ministério da
Educação antes mesmo que o mês de abril chegue ao fim, porque alguém que é
incapaz de pôr em ordem no ministério que, em tese, comanda e/ou deveria
comandar, não é uma pessoa realmente capacitada para traçar as estratégias que
possibilitem um futuro benfazejo para a Educação brasileira.
O senhor Jair Bolsonaro, tão dado a querer celebrar os feitos
militaristas do passado, como a ditadura militar de 1964, que ele insiste em
dizer que não foi uma ditadura, deveria era largar o Twitter, pôr ordem nos ministérios do seu Governo e pensar em como
resolver a precariedade da Educação, a insegurança pública, o desemprego e as
incertezas todas que rondam o Brasil dos dias de hoje. E não esqueça,
presidente, o senhor que é tão dado a arroubos e retóricas nacionalistas, que o
lema inscrito no pavilhão nacional é ordem e progresso. Repetindo: or-dem e
pro-gres-so. Tá ok? Um abraço aí, presidente.
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