30 de março de 2019

Desordem no Ministério da Educação


Por Clênio Sierra de Alcântara
  
Imagem: Internet
Não é de hoje que se diz que o Brasil é o país do futuro



A crítica mais simplória que eu tenho ouvido contra o atual chefe do Ministério da Educação (MEC) em certas rodas de conversa, é a que diz que está errado que tal posto seja ocupado por um estrangeiro. Quando eu ouço isso, argumento em defesa do senhor Ricardo Vélez Rodríguez, que é colombiano de nascimento, que habitualmente os brasilianistas – assim são chamados os estrangeiros que tomam o Brasil como objeto de algum estudo – costumam ter um conhecimento profundo sobre certos aspectos deste país, porque eles fazem pesquisas muito criteriosas e ricas de informações, a exemplo das obras deixadas por figuras como Warren Dean, Thomas Skidmore e Stuart Schwartz. 


Não sei se o colombiano Vélez Rodríguez se encaixa no perfil de um brasilianista; mas, independentemente disso, o que eu quero dizer é que não é porque um indivíduo possui outra nacionalidade que ele não pode ser ministro em um país no qual ele não nasceu; o critério deve ser o currículo acadêmico e o conhecimento da realidade da qual tomará conta, e a mim me parece que o senhor Vélez Rodríguez é uma pessoa possuidora de cabedal para tanto. Por outro lado, tendo em vista a série de acontecimentos que vêm se desenrolando dentro do MEC, eu estou cada vez mais convencido de que o que falta ao nobre ministro não é preparo intelectual e sim algo que é tão necessário quanto na posição que ele ora ocupa: capacidade de liderar e comandar num ambiente que tem se revelado bastante hostil dadas as constantes disputas e intromissões do senhor Olavo de Carvalho, o pitaqueiro-mor do Governo do presidente Jair Bolsonaro, em sua pasta; e, ao lado disso, o caldo grosso da ideologização – ou desideologização, como queiram – do MEC, do qual tem sido retirados todos os elementos humanos que tiveram ligação com os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e também do PSDB; petistas e tucanos têm sido considerados pragas que precisam ser erradicadas do MEC; e, pelo que vem sendo dito, o expurgo tem ocorrido sem que cheguem substitutos para os que foram mandados embora, ou seja, há muito o que fazer para que o nível da Educação deste país saia do marasmo em que se encontra e nem sequer de funcionários para tanto o senhor Vélez Rodríguez dispõe.


Nesta semana o já conturbado MEC foi abalado mais uma vez; e, ao que parece, não foi pelas investidas dos chamados olavetes, discípulos, ex-alunos e quejandos do tal do Olavo de Carvalho, o que me faz crer que, lá dentro, está imperando um completo salseiro. Na última terça-feira Marcus Vinicius Rodrigues, então presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foi demitido – ele é aquele senhor que no discurso de posse lançou um horrível “cidadões”; e que disse aos jornalistas na ocasião que o presidente Jair Bolsonaro era o “dono do Enem”, o Exame Nacional do Ensino Médio. E o que motivou a sua saída do Inep? Foi divulgado que ele assinara no dia anterior uma portaria com as novas regras do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); que decidira sozinho adiar a avaliação da alfabetização de crianças, que só iria ocorrer em 2021; e que isso, dada a repercussão negativa, inflamou o ministro Vélez Rodríguez, que disse que em momento algum fora consultado sobre o assunto pelo subordinado.


Não se sabe até agora se certas ações intentadas pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez, como aquela que propôs que os alunos cantassem o Hino Nacional e fossem filmados fazendo isso, partem de sua cabeça desassossegada ou são sopradas pelo próprio presidente da República ou mesmo pelos olavetes. O que se tem observado até agora é muita pirotecnia, muitas disputas de influência e poder e nada de realmente relevante sendo planejado para fazer o país avançar num terreno primordial, que é a Educação.


Temos ouvido e visto repetidas vezes movimentos do atual Governo no sentido de, de alguma maneira, “militarizar” de vez as escolas públicas – algo, na verdade, que vem acontecendo faz alguns anos - com o uso da Polícia Militar para “disciplinar” o corpo discente, impondo trajes, cortes de cabelo e por aí vai. Entendo que, caso queiram, os pais dos alunos irão buscar escolas militares e/ou militarizadas; mas, daí a ver seus filhos inseridos numa realidade escolar na qual eles não se sentem incluídos e/ou da qual eles não querem tomar parte vai uma longa distância.


Não são poucas as escolas deste país que sofrem com infraestrutura precária, falta de professores e que não possuem quadras esportivas, computadores, bibliotecas e nem sequer um básico banheiro. A realidade é tão dura e calamitosa e as atuais autoridades responsáveis pela questão da Educação parecem acreditar que “ordem unida” e “continência” irão salvar os estudantes brasileiros da mediocridade e do analfabetismo funcional que acometem milhões deles. Os nossos estudantes precisam urgentemente pisar em chão firme para caminhar rumo à estrada do futuro e tudo o que o Ministério da Educação conduzido por Ricardo Vélez Rodríguez vem oferecendo até o presente momento é um campo minado e sem um horizonte à vista.


As disputas palacianas, creio eu, hão de fazer de Ricardo Vélez Rodríguez bucha de canhão e lançá-lo para bem longe do Ministério da Educação antes mesmo que o mês de abril chegue ao fim, porque alguém que é incapaz de pôr em ordem no ministério que, em tese, comanda e/ou deveria comandar, não é uma pessoa realmente capacitada para traçar as estratégias que possibilitem um futuro benfazejo para a Educação brasileira.


O senhor Jair Bolsonaro, tão dado a querer celebrar os feitos militaristas do passado, como a ditadura militar de 1964, que ele insiste em dizer que não foi uma ditadura, deveria era largar o Twitter, pôr ordem nos ministérios do seu Governo e pensar em como resolver a precariedade da Educação, a insegurança pública, o desemprego e as incertezas todas que rondam o Brasil dos dias de hoje. E não esqueça, presidente, o senhor que é tão dado a arroubos e retóricas nacionalistas, que o lema inscrito no pavilhão nacional é ordem e progresso. Repetindo: or-dem e pro-gres-so. Tá ok? Um abraço aí, presidente.


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