4 de maio de 2019

A Era do Obscurantismo ou Um magnânimo direitopata

Por Clênio Sierra de Alcântara

É ruim de segurar
Assim não dá, é padecer
Do jeito que está
Vamos pagando pra sobreviver

Se trocou não mudou nada
Jogo de carta marcada
É só perder [...]
Brasileiro, brasileira 
Tá na hora de gritar [...]
Eu quero ver onde essa zorra vai parar.

Disputa de poder. Almir de Araújo/Balinha/Hércules Corrêa/Marquinho Lessa



Imagem: Internet
              Jair Bolsonaro, o magnânimo direitopata: é muita asneira e estupidez para uma pessoa só


O leitor que me acompanha nesta humílima tribuna observou que no artigo que postei aqui na semana passada, eu escrevi – me referindo ao ato de censura imposto pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao site O Antagonista e à revista Crusoé – que, até aquele momento, nem o presidente Jair Bolsonaro e nem os seus aliados militares “sequer ousaram revelar uma vontade autoritária” como a que o ministro do STF estabeleceu. Ocorreu que, no mesmo dia em que eu publiquei o artigo, eis que o senhor presidente da digníssima República brasileira, incomodado com a presença de negros, mulheres, brancos e com um “palavreado gay”, num comercial do Banco do Brasil, determinou assim, na bucha, que a peça publicitária deixasse de ser veiculada. E por quê? Porque segundo o pensamento do senhor Jair Bolsonaro e da patota que o assessora e lhe sopra barbaridades ao pé do ouvido, não se podia admitir um troço como aquele, porque, além da diversidade de pessoas  além da diversidade de pessoas ali mostrada, termos como “lacração” e “pronto, falei” são típicos do universo gay, e isso, com toda a certeza, ofendem os valores da tradicional família brasileira. Um homem que tem filhos de mães sortidas e que diz ao mundo que as mulheres brasileiras estão aqui à espera, quer dizer, disponíveis para os turistas – ele, como afirmou, é contra o turismo gay, mas a favor do turismo sexual com mulheres – pode posar de qualquer coisa, menos de defensor da moral e dos bons costumes, em geral, e familiares, em particular. “Não adianta, o tempo mudou”, ele disse a jornalistas, noutro de seus ataques aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), algo que ele não se cansa de fazer. Como naquela cantiga de roda, o PT saiu ferido e o Governo Bolsonaro vai dia após dia se despedaçando – em menos de cem dias já pôs para fora dois ministros - e dando sucessivas demonstrações de um autoritarismo e de uma visão de mundo que são típicos de quem não tem perfeita compreensão da realidade social e nem sabe exatamente que rumo tomar.

O senhor Jair Bolsonaro detesta homossexuais, embora ele negue peremptoriamente isso; e trata mulheres como se elas fossem objetos ou uma coisa qualquer. No mundo perfeito que ele tem em mente não há um mínimo de espaço para gays, negros, índios e mulheres que não se sujeitam aos cabrestos de seus maridos. Na visão distorcida e algo amalucada da realidade que tem o senhor Jair Bolsonaro, ao negar a presença e não dar voz aos gays, aos negros, aos índios e às mulheres que dizem não ao patriarcalismo que diariamente de alguma forma lhes tira a vida, essa gente automaticamente vai deixar de existir, assim como num passe de mágica e num faz de conta. Não acredito que foi numa academia militar que ele teve lições para dizer o que diz e para agir como age. É muita asneira e estupidez para uma pessoa só.

O presidente Jair Bolsonaro quer porque quer continuar se apresentando como ator de um modo novo de fazer política, logo ele, um politiquinho que durante quase trinta anos de atuação parlamentar, pulando de um partido para outro ao sabor de suas conveniências, tudo o que fez foi se manter como aqueles seres rastejantes que abundam no Congresso Nacional consumindo o nosso dinheiro enquanto tramam e planejam e articulam contra o desenvolvimento deste país, exercendo com maestria e nenhuma discrição suas vilanias.

Emulando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretendeu refundar o Brasil, num grau de megalomania como “nunca se viu na história deste país”, o senhor Jair Bolsonaro e  os seus cupinchas olavetianos que não respeitam sequer os honrados militares que estão na linha de frente do Governo, como o general Hamilton Mourão, estão metidos numa paranoica tentativa de reconstrução do Brasil, lançando mão dos mais absurdos e estapafúrdios artifícios para enganar os incautos de uma sociedade mergulhada num imenso mar de desemprego e de violência generalizada.

Enquanto caminha sobre a planície de terra arrasada, que é o Brasil destes dias que correm, o senhor Jair Bolsonaro e os seus ministros vão nos dizendo de que será feito esse “novo país” que eles estão a desenhar e projetar: um país onde as mulheres se prestam como chamarizes para a promoção do turismo sexual; um país onde o Ministério da Educação, combalido, desorganizado e sem um dirigente competente, corta verbas de universidades federais que, no seu entender, promovem “balbúrdia” e desfile de “gente pelada", ou seja, todas elas, e também das escolas e dos institutos federais de educação; um país onde os livros de História terão de ser reescritos para que digam que a versão de fatos, como o golpe militar de 1964, não seja visto como tal, porque na avaliação do senhor presidente, não houve uma ditadura no Brasil no período de 1964 até 1985; um país onde a palavra "cultura" é algo desprezado porque cheira à "coisa de esquerda", de modo que é preciso promover um desmonte cultural, cortando verbas para patrocínios de eventos e diminuindo e/ou acabando com os cursos de Filosofia e de Sociologia, de maneira que as pessoas deixem de pensar por si mesmas e se alienem de tal forma que passem a acreditar em todas as aberrações e barbaridades que são ditas pelos governantes e sigam cegamente essa verdadeira entidade chamada Olavo de Carvalho; um país onde o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só divulgará dados que apresentem não as condições socioeconômicas dos cidadãos como elas são e/ou estão, mas a realidade que o presidente julgar existir e ser conveniente para o Governo divulgar; um país onde todo e qualquer indivíduo maior de idade - será isso possível? - disporá de uma arma de fogo para se proteger e ser ele próprio o personagem principal de um faroeste caboclo; um país, enfim, onde reinarão a estupidez, a ignorância, o desconhecimento das desigualdades sociais, o desrespeito à diversidade racial, religiosa e de gênero, o agravamento da violência contra as mulheres e os homossexuais, a banalidade dos crimes de assassinato e um quase que completo massacre de uma multidão de idosos que, coitados, já hoje sofrem horrores nas filas e nos corredores do SUS da vida e que comem o pão que o diabo amassou com a bunda tendo de sobreviver com um mísero salário mínimo e com o o auxílio que o ministro Paulo Guedes elencou como sendo um dos "privilégios" a ser cortado pela Reforma da Previdência.

Em sua escalada algo tresloucada e paranoica rumo à fantasia de um Brasil-potência - ainda que obscurantista - à qual, com bastante frequência, junta discursos e tuítes que são dignos de figurar - e "com louvor" - numa antologia do que de pior e de mais escabroso, execrável e imbecilizante foi dito até agora pelos mandatários deste país, o senhor Jair Bolsonaro que, sempre que possível - e para ele sempre é, como uma obsessão -, ataca os esquerdopatas, como se ele fosse uma espécie de antídoto contra todos os males que assolam esta nação, não consegue ou não quer ou parece ou finge não ver que é, ele mesmo, um direitopata que, tudo o que fez até o presente momento, foi contribuir para que o Brasil afundasse um pouco mais no pântano de miséria social, econômica e moral em que se encontrava antes de sua chegada ao Palácio do Planalto.

Desse jeito, senhor presidente, junto com as vaias que começaram a lhe ofertar, o senhor há de receber um potente e coletivo golden shower.

O senhor está vivendo num universo paralelo, presidente; e precisando urgentemente que alguém lhe dê um forte empurrão para aí, quem sabe, o senhor possa, finalmente, cair na real. 

Onde é que essa zorra vai parar, senhor presidente?!

2 comentários:

  1. O Brasil está do jeito que os bate panelas e os amarelinho imaginavam, sem verbas nas universidade para se pagar uma conta de luz, sem segurança como o salvador da justiça O Moro Achava, e sem governo que é um fiasco atrás do outro. O bozo sem controlar sua própria cria, os filhos mimados. De fato, notou esse governo dos bolsominions.

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