My
life is extraordinary bare
I fought the fear and chase the pain.
My life doesn’t need to be explained,
I chose to walk the line as one […]
So I just keep on walking down this open road,
talking to the man who knows me,
yes he knows me, the man is me.
Open road. Gary Barlow
Self-portrait Na estrada, em algum ponto de Minas Gerais, em outubro de 2018. A vida posta num rumo e numa dimensão que eu mesmo escolhi |
Admito que eu sou, além de
muito chato, cabuloso, cheio de vontades e impositivo, reconhecidamente uma
pessoa bastante apegada a coisas materiais do tipo livros e discos. Não adianta
tentarem modificar a minha personalidade e nem me demover desses apegos porque
não vão conseguir. Também devo admitir que toda vez que eu saio em viagem e
pego a estrada, decididamente eu me ponho numa prova de fogo, ao permanecer
distante do meu cotidiano comum, da minha casa, do meu cantinho, do meu
mundinho particular repleto do muito que me move e fascina.
Acontece que viajar é um
exercício de existência que igualmente se insere entre os elementos que, de uns
anos para cá, passaram a encher a minha vida de mais cor e desejo, conhecimento
e coragem e de uma vontade enorme de caminhar por estradas que de alguma forma
preenchem o meu destino. De maneira que, partir e retornar, sempre tem sido um
modo de eu ir aos poucos juntando fragmentos e pedaços de pessoas, coisas e
sentimentos dentro de mim; fragmentos e pedaços esses que certamente hão de
algum dia me deixar inteiro e completo.
Cada viagem solitária que eu
faço é, de certa forma, uma procissão de desapego. Percebo, contudo, que essa
errância, essa aventura que me afasta da rotina e que me deixa a sós comigo
mesmo, é um rito de desapego que vai além da materialidade dos objetos e das
coisas em si e se lança sobre as pessoas que permanecem aqui enquanto eu parto. Não costumo sentir falta das pessoas
quando eu viajo. Talvez isso ocorra de modo inconsciente. Talvez o meu ser seja
fiel demais à solidão e por isso promova naturalmente esse distanciamento com
relação a elas.
Não é raro que durante essas
viagens eu estabeleça contatos ocasionais com indivíduos que, como eu, não têm
receio de falar de si a um, por assim dizer, desconhecido, como quem fala com
alguém que se conhece há muito tempo. Costumo travar conversas longas e por
vezes bastante reveladoras com pessoas com as quais vou topando por aí. Já ouvi
tantas histórias e já fui confidente de tantos desabafos que, às vezes, eu me surpreendo
com o fato de sermos ao mesmo tempo tão rudes e desconfiados, gentis e
expansivos.
Sim, é um fato inegável que,
em mim, a ânsia do viajar está intrinsecamente vinculada ao que denomino de “viagens
de formação”. Faz algum tempo eu comecei a percorrer determinadas cidades deste
país com o firme propósito de estar de corpo presente em cenários que dizem
respeito às matérias dos estudos que eu iniciei no ambiente da academia. Sendo assim,
apesar do caráter turístico no sentido de lazer propriamente dito, os roteiros
e itinerários que eu tenho percorrido nos últimos anos fundamentalmente me
levam a lugares que encerram em si uma gama de interesses: é esse museu; é
aquela fortaleza; é aquele teatro; é aquela configuração urbana; etc. Enfim, o
passeio, na realidade, se reveste de uma visão mais ampla do que meramente
recreativa, porque, muitíssimo mais do que a contemplação, há a ambição da
descoberta, do conhecimento e do aprendizado, de modo que, em virtude disso,
acredito que dificilmente eu me lançarei num projeto de viagem desvinculado
completamente daquilo que, como eu já disse, constitui as por mim chamadas “viagens
de formação”.
Estar na estrada tem feito
com que, junto com o conhecimento de outras terras, eu me perceba de alguma
maneira plenamente realizado na vida; e isso decididamente é, eu acredito, a
maior satisfação que alguém possa sentir. A estrada da minha vida está aberta e eu quero continuar caminhando.
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