5 de outubro de 2019

Galeria (II)

Por Clênio Sierra de Alcântara


Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

                       Perfeição. Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá/Renato Russo


Fotos: Juliano da Hora
Sem esmorecer, porque a caminhada é difícil mas necessária; e o contrário de viver é morrer, e isso definitivamente eu não escolho


Outra vez o livro e a leitura me levaram a vivenciar uma experiência de grande satisfação para mim. Na noite da última quarta-feira, no Café Liberal 1817, no Bairro do Recife, ocorreu o lançamento da minha primeira reunião de poesias. Já disse noutro momento e vou repetir agora: poesia foi a linguagem à qual recorri primeiramente quando eu me vi capaz de adentrar no universo das letras tendo consciência da escrita como instrumento não somente de comunicação, mas também de registro e de testemunho do que eu sou, penso e sinto. E dizer isso, e escrever isso tentando encontrar a maneira apropriada para fazê-lo. E tendo plena consciência de que o labor da escrita se estabeleceria na minha vida, a partir de então, como aqueles marcos de pedra que estabelecem limites territoriais, sendo que, em mim, ele delimitaria um antes e um depois: um antes falto de um rumo; e um depois acreditando na caminhada pelas veredas que eu teria de ir sinalizando de modo a deixar as marcas de minha passagem.




Há quem diga, há quem acredite que todo bom escritor, todo bom poeta deve primar em se fazer entender inteiramente por aqueles que o leem. A acreditar nesse fundamento eu nunca, eu jamais serei um bom escritor e nem um bom poeta, porque eu não creio que toda e qualquer pessoa entenda e compreenda tudo aquilo que lê, seja o escrito tido como “difícil” ou o que é tomado como “fácil”. E o que é “difícil”? E o que é “fácil”? E por quê? E por quem?

Muito embora eu próprio reconheça, eu autocriticamente me veja e me perceba como um simples operário da palavra – e um operário ainda de baixa estatura – eu me porto desde o início – e haverá quem enxergue nisso uma boa dose de empáfia e de presunção, o que não deixa de ser verdade -, desde o começo de minha jornada, como alguém que não tem disposição para assumir um compromisso de, a todo momento,  ficar e/ou se sentir pressionado a fazer concessões no exercício da escrita a fim de que ela se apresente, por assim dizer, asséptica e agradável, palatável e, vá lá, compreensível. Não, eu vou escrever do modo que eu sei escrever, ainda que tenha esse modo, aos olhos de uns e outros, algo de muito simplório e que seja por eles vista como uma reunião de ideias pequenas e de pensamentos bastante pedestres, enfim.





Minha postura se sustenta no propósito de continuar escrevendo; é este o compromisso que eu assumi para com o meu ser; agora, se durante esse fazer o exercício da escrita será aprimorado seja com clareza, seja com uma riqueza de lida com as ideias e com o pensamento, eu não sei. Dentro disso, uma coisa está certa e firmemente estabelecida: como eu já disse noutra ocasião vou repetir agora: eu não faço concessões de nenhuma ordem naquilo que estou disposto a escrever.

Voltemos ao evento do lançamento do meu Só não ousem tentar me domesticar, porque eu vou continuar sendo selagem. Desta vez eu, antes de começar a propriamente autografar os livros das pessoas que foram até lá me prestigiar, me dirigi a elas, algo que não realizei cinco anos atrás. Agradeci-lhes a presença; e falei não só da razão do livro em si, como também da minha necessidade existencial de escrever. Foi um momento de eu compartilhar com aquelas pessoas um sentimento de realização. E ficou decidido que, doravante, eu sempre e sempre falarei em ocasiões como aquela, porque, na realidade, o comum é que seja assim mesmo.


Eu no momento em que comecei a falar para a minha pequena plateia







Ao evento compareceram pouquíssimas pessoas; o que, de certa forma, me frustrou um pouco, porque, normalmente, o que é escrito é para ser lido; e eu desejo alcançar um número maior de leitores. Caso ao menos a metade daqueles que haviam adquirido o livro comigo antes tivesse comparecido para receber autógrafos em seus exemplares, o movimento e a festa teriam sido realmente animados. Por outro lado eu quero acreditar que todo aquele que ali esteve, naquela noite, foi para celebrar a existência do livro e tudo o que a leitura proporciona ao leitor.

Cuidando para não perder o brilho da noite, o jornalista e fotógrafo Juliano da Hora posicionou suas lentes para captar e registrar pequenos e grandes momentos que eu e os meus convidados vivenciamos ali.

Ao lado de minha mãe Cleonice de Alcântara, Lia de Itamaracá era pura generosidade para comigo, que muito a prezo e quero bem. Várias figurinhas do meu convívio profissional e extramuros do local de trabalho também marcaram presença para fazer o evento acontecer: Adalberto Passos, sua esposa Mércia e a filha Maria Rita; Adelbar Lima, um amigão de mais de duas décadas; o casal Jadiel Santos e Edizia Rodrigues, que levou o filho Gabriel Ikarus; Fabiana Pereira, que é uma, digamos, aquisição recente do meu coração; Maria da Conceição, que diz carregar em si um amor incondicional por mim; o impávido Félix Oliveira, que não cansa e nem baixa a guarda; Sebastião Neto, o homem da voz e do violão – e dos olhos – encantadores; Antônio Marcos, uma das pessoas mais generosas que entraram na minha vida; Neide Ulisses, a baiana arretada que é pura alegria; Marcos Paulo, que além de participar pegou no pesado: muito obrigado, querido!; Beto Hees, um ser feito de força e determinação que eu admiro bastante; Aline Falcão, seu esposo Daniel Delso e a filhota Maia, uns queridos que ainda levaram a bela Agilana Inojosa para iluminar um pouco mais aquela noite; e outro par ao qual eu também devoto grande apreço, Cristiano Galvão e Marize, que levou o pequeno e valente Antônio: ali mesmo nós acertamos que a comemoração do primeiro ano do menino será bem animada: vai ter samba para o Antônio.


Mainha, eu e Lia de Itamaracá





Mainha e Beto Hees


Jadiel e Edizia: amizade não se compra, se conquista


Neto, Adlberto, Maria Rita e Mércia: porque a vida é boa e a gente não quer perder tempo com coisinhas miúdas
 

 O que é que a Bahia tem? Vatapá, caruru, Senhor do Bonfim e Neide Ulisses, essa pessoa maravilhosa


Neide e Marcos Paulo, que é pau para toda obra


Fabiana reverenciando a rainha da ciranda


Mainha e Maria da Conceição, a Cêça, fazendo pose


Cristiano, Marize e o pequeno Antônio: daqui a alguns meses estaremos juntos novamente para animarmos a festa cantando um samba
  

Obrigado, rainha!


Fabiana: pelo carinho, pelo encontro e por tudo de bom que nos une 


Adalberto, Mércia e Maria Rita

Antônio Marcos: quando os bons encontros se dão a satisfação e o respeito mútuos dificilmente se rompem


Adelbar: lá se foram vinte e um anos. Poxa, parece que foi ontem que eu encontrei você. Uma das grandes lições que a vida nos ensinou foi a de sermos o que realmente somos, sem tirar nem pôr nada

Félix Oliveira: penso no seu empenho para fazer muitas pessoas se reconhecerem como gente de valor dizendo a elas que não é a cor de nossa pele e  nem o tipo de cabelo que nos definem, e louvo a sua trajetória: Parabéns, querido!

Aline, Maia e Daniel: reconheço em nosso encontro a certeza de que a distância em nada modifica o sentimento que nutro por vocês

Lá pelas tantas, como se fossem personagens de um filme de Pedro Almodóvar, apareceram três distintas e para mim desconhecidas figuras femininas. E por que foram até lá? “Nós viemos porque seu amigo [Otávio] Vasconcelos nos fez saber do evento”, me disse a divertida Maria Viana, que foi acompanhada pela simpática Jô Andrade e por uma elegante e bonita Gilvânia de Medeiros.


Grata surpresa e satisfação, Maria Viana. Vasconcelos sabe bem escolher as amigas


Gilvânia de Medeiros: beleza e simpatia andando juntas numa só pessoa

Três amigas superpoderosas: Maria, Gilvânia e Jô

E assim a noite foi pontuada, com sorrisos, conversas, beijos, abraços, poses para o fotógrafo e um desejo enorme, de minha parte, de que ocasiões como aquela se repetissem inúmeras vezes em minha trajetória existencial. Parafraseando Cecília Meireles diria que eu escrevo porque o instante exige e a minha vida não está terminada; não sou alegre nem sou triste, sou vontade ainda não saciada.

Um comentário:

  1. O poeta sempre está no olhar e no mundo de quem aprecia e saboreia um bom livro. O tema e objeto do livro " só não ousem me tentar domésticar, além de ser um tema bastante atual, serve de reflexão individual, social e principalmente um tapa no dual política que a todo momento tenta impor sua domesticação. E que a poesia possa se entranhar cada vez mais no hábito do brasileiro.

    ResponderExcluir