2 de novembro de 2019

O clã Bolsonaro e a cebola dos fatos

Por Clênio Sierra de Alcântara
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Imagem: Internet
Os fatos vão se desenrolando e revelando outras camadas do acontecido. Ninguém consegue segurar e esconder os fatos o tempo todo


Os que só faltavam morrer diante das ameaças de amordaçamento da imprensa e de restrições às liberdades individuais evocadas durante a Era Petista, no Palácio do Planalto, devem agora estar vendo quão atacadas pelos espectros ideológicos, em geral, e pela direita, em particular, tais instâncias da vida em sociedades democráticas são constantemente vilipendiadas neste país, não importam quais sejam os mandatários e nem os partidos aos quais eles pertençam. Os donos do poder costumam andar, no Brasil, convictos e seguros de que estão sempre certos e que os órgãos de imprensa, que são os olhos da sociedade, são capazes de tudo para prejudicá-los.

O clã Bolsonaro outra vez disse a que veio ao longo de toda esta semana. Demonstrando que não concebem a ideia de que os fatos existem e podem e devem ser publicados, noticiados e analisados, os Bolsonaro agem a todo momento como sujeitos que detestam o confronto e o questionamento, reagindo com agressividade, revides e despautérios em tal grau e com tamanha constância e virulência que me faz conjeturar que essas pessoas têm um elevado e perigoso índice de perturbação mental. Só pode ser isso. Não acredito que seja outra coisa.

O senhor Jair Bolsonaro, presidente da República e patriarca da perturbada família, passou a semana atacando, como um leão, a todos aqueles que ele julga ser hienas a ameaçar o seu domínio de rei da selva. Ocorre que não estamos numa selva, senhor presidente; e que, quando o senhor ataca instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e a liberdade de órgãos de imprensa, como a Folha de S. Paulo, a revista Veja e a Rede Globo, parece não se dar conta de que, por tabela, ataca toda uma nação, estejam os seus cidadãos perfilados com que linha partidária for, porque atacar representações de uma sociedade democrática, na qual o direito ao contraditório também é um quesito basilar de seu fundamento significa desmoralizar e amesquinhar o seu povo como um todo, uma vez que, ao menos em tese, as instituições são a expressão dele.

Presidente, o senhor precisa aumentar a dosagem do tranquilizante que porventura consome, porque, assim, talvez, seus olhos ficarão menos esbugalhados e certamente Sua Excelência não dará mais chiliques e nem perderá a compostura a cada vez que se ver confrontada com fatos – com fatos, presidente, com fatos, e não com fake news – que sejam desabonadores para o senhor e para a sua impoluta e honestíssima família. Gritar, esbravejar, retaliar, ameaçar não renovar a concessão de TV’s, cancelar assinatura de jornais, não veicular propaganda governamental nos órgãos de imprensa do seu desagrado não vão fazer sumir os fatos, não vão deixá-los escondidos do grande púbico, não vão fazer do senhor uma boa figura diante da sociedade, presidente, porque as pessoas são o que são; e o senhor, não é de hoje, já disse repetidas e lamentáveis o que e quem é.

Filho de besta-era é besta-ferinha

Seguindo à risca o roteiro traçado pelo pai de ataque às instituições e aos órgãos de imprensa, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, aquele que fala “ingrês” como ninguém, para não ficar abaixo do paizão, disse para a maravilhosa Leda Nagle, numa entrevista veiculada na internet, que tudo o que é ruim que acontece neste país é jogado para cima do presidente Jair Bolsonaro. Ora, e quando foi que isso foi diferente no Brasil ou em qualquer outra nação na qual órgãos de imprensa existem em pleno exercício de liberdade de expressão?! Aqui sempre foi assim; e ainda mais quando estivemos – como estamos – sob o mando de governantes que se elegeram proclamando-se como personificações da moralidade, da honestidade e dos bons costumes à maneira deles. Quem sempre foi pedra não se acostuma a ser vidraça. E atiçando os cachorros raivosos para cima de uns e outros, o senhor Eduardo Bolsonaro soltou uma pérola digna de seu clã, que é de uma indisfarçável vontade autoritária: Eduardo Bolsonaro aventou a possibilidade de que, caso “a esquerda” parta para a “guerra” neste Brasil varonil, novamente seja necessário implantar aqui um novo Ato Institucional nº 5, como ocorreu na Ditadura Militar; Ato esse que fez mergulhar a nação num dos períodos mais tenebrosos, vergonhosos e desumanos de sua História. Isso, senhor presidente, é que é cafajestice. Isso, senhor Jair Bolsonaro, é que é patifaria.

Fatos são fatos

As ideologias e os ideólogos de alguma forma quase sempre me deixaram com os dois pés atrás diante de suas convicções e planos de salvação da humanidade. Por conta disso, me vi e me vejo incapaz de me filiar a qualquer partido, associação, agremiação e quejandos, preferindo errar por escolhas próprias a seguir nas fileiras ou nas manadas, mesmo porque eu não acredito em salvação de nenhuma ordem e não negocio a minha liberdade de pensar e de me expressar com quem quer que seja.

Quer queiram, quer não, Fabrício Queiroz, Marielle Franco, milicianos e por aí vai são assuntos que permanecerão no encalço do clã Bolsonaro, porque os fatos, senhores, contrariam as nossas vontades e vão sendo revelados à medida que alguém descobre uma coisinha aqui e outra acolá, como quem vai tirando as inúmeras camadas de uma cebola. O clã Bolsonaro, como todo dono de poder neste país, se julga acima da lei e do bem e do mal; e nem racionaliza que o seu tempo de encastelamento uma hora acabará.

A imprensa, clã Bolsonaro, pode até não fazer um povo todo pensar, pode até ser tendenciosa – e não raro é -, mas, com toda a certeza, ela é capaz de informá-lo sobre a realidade em que ele vive. Aprendam senhores, aceitem o fato de que a gente de bem deste país luta e anseia pelos valores da democracia e não pelo arbítrio e não pela autocracia.

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