Minha terra tem becos e vielas
onde tiros não param de ecoar;
os delinquentes que pululam em favelas
também em Brasília costumam proliferar.
Não há mesmo salvação para essa gente:
todos nós hemos de nos lascar.
Não há mesmo salvação para essa gente:
todos nós hemos de nos lascar.
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Imagem: Internet O brasileiro, escrotíssimo por natureza, jamais que poderia ser o "bom selvagem" do Rousseau |
Caso alienígenas desavisados
e ignorantes totais do que é a gente deste país tivessem aterrissado nalguma
das praias atingidas por pavorosas e espessas manchas de óleo nos últimos meses,
se deparariam com indivíduos tenazmente empenhados em limpar aquela sujeirada
toda, e teriam erroneamente acreditado que os terráqueos, em geral, e os
brasileiros, em particular, são seres que cuidam bem do meio ambiente. Nada mais
distante da realidade.
O brasileiro é um bicho
muito escroto mesmo. O grau de civilidade do brasileiro é o mínimo, o mínimo
necessário para que possa qualquer
indivíduo viver em sociedade. Brasileiro, sem distinção de classe social e de
grau de instrução, é um sujeito que cultiva com desenvoltura e naturalidade
três modalidades distintas e ao mesmo tempo condizentes com o seu nível de
primitividade: é desonesto, é porcalhão e pratica como nenhum outro o
desperdício de água, de energia elétrica e até de alimentos. E faz tudo isso
sempre dando uma justificativa: o de baixo da pirâmide social, ao ser flagrado furtando energia diz em sua defesa que o seu fornecimento foi cortado e ele não
tem como pagar a conta; o riquinho que subtrai água do Lago Paranoá, na árida
Brasília, afirma que, com toda a certeza o esquema ilícito foi montado e
instalado pelo antigo proprietário da mansão. E assim a vida segue nesta porção
desavergonhada da América do Sul onde ao epíteto de cordial que lhe foi pespegado
pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda no clássico Raízes do Brasil, o brasileiro juntou uma inclinação natural para
desrespeitar e pisotear as leis e uma propensão animalesca para tirar a vida de
seus semelhantes.
O brasileiro é um bicho tão,
tão escroto que, diante das mais claras evidências dos delitos que pratica, ele
por vezes jura peremptoriamente que não faz nada disso: não fura filas; não
sonega impostos; não suborna o policial do trânsito; não vende seu voto; não
adultera alimentos; não joga lixo nas ruas e nos rios; não ludibria o Governo
para receber seguro defeso, Bolsa Família e benesses do gênero; não inventa
doença para faltar ao trabalho. E descaradamente vai tocando a sua vida com a
maior cara de pau, dando desculpa para as suas malfeitorias e para as suas
transgressões com falas do tipo: “Ora, todo mundo faz isso; ou “Quem nunca fez
uma coisa dessas?”. É assim mesmo que a banda toca.
O brasileiro é o rei da
escrotice; é um bandalho social que, sem qualquer cerimônia, faz tudo para se
dar bem, sem se importar em quem irá pisar, sem avaliar o estrago que
provocará, sem medir as consequências e sem qualquer escrúpulo. Brasileiro não
tem escrúpulos. Brasileiro é inescrupuloso elevado à enésima potência. Ora,
escrúpulo para que, se as leis não punem com rigor, se os ricos fazem os
trambiques que fazem para manter garantidos os seus feudos, se os dirigentes da
nação são, até segunda ordem e avaliação e até que se prove o contrário, pessoas
arrivistas e corruptas, e se lá na frente, como dizem, basta se arrepender que
Deus salva?
O brasileiro é de uma
escrotice tamanha e de uma desfaçatez absurda porque tudo de ruim e de nefasto
e de desonesto e de abjeto e de brutal e de cafajeste e de hediondo e de
covarde e de vergonhoso e de desrespeitoso e de mesquinho e de absurdo e de
nojento e de revoltante e de perturbador e de medonho que ele pratica, repousa
numa consciência rasa e bastante pedestre da figura do outro, porque o
brasileiro ignora e passa por cima de qualquer mínima concepção de bem comum. Brasileiro
é egoísta ao extremo. Brasileiro só quer saber de si, de sua barriga, de sua
necessidade, de seu quintal. E dane-se todo o resto. E danem-se o lugar do
outro, a compostura, a honestidade, o respeito e a solidariedade.
O brasileiro é um bicho tão
mais tão escroto que acredita piamente num bom futuro enquanto ele de tudo faz
para destruir a ética, a moralidade e tudo o mais de civilizatório que vai
encontrando no tempo presente.
O brasileiro é um escroto de
marca maior, porque se apresenta refratário ao bom senso e à noção de justiça
social e de respeito às diferenças de gênero, raça e credo. Brasileiro não
respeita nada e nem ninguém; e despreza veementemente tudo aquilo que não
consegue compreender, julgando-se com pleno direito de exercer sua sanha
autoritária de forma pusilanimemente feroz, entendendo que a sua natureza é ser
atroz. Os brasileiros somos mesmo uns empedernidos boçais.
O pior do Brasil é o brasileiro.
O pior do Brasil é o brasileiro.
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