28 de dezembro de 2019

O brasileiro é um bicho escroto

Por Clênio Sierra de Alcântara

Minha terra tem becos e vielas
onde tiros não param de ecoar;
os delinquentes que pululam em favelas
também em Brasília costumam proliferar.
Não há mesmo salvação para essa gente:
todos nós hemos de nos lascar.

Imagem: Internet
O brasileiro, escrotíssimo por natureza, jamais que poderia ser o "bom selvagem" do Rousseau


Caso alienígenas desavisados e ignorantes totais do que é a gente deste país tivessem aterrissado nalguma das praias atingidas por pavorosas e espessas manchas de óleo nos últimos meses, se deparariam com indivíduos tenazmente empenhados em limpar aquela sujeirada toda, e teriam erroneamente acreditado que os terráqueos, em geral, e os brasileiros, em particular, são seres que cuidam bem do meio ambiente. Nada mais distante da realidade.

O brasileiro é um bicho muito escroto mesmo. O grau de civilidade do brasileiro é o mínimo, o mínimo necessário para que  possa qualquer indivíduo viver em sociedade. Brasileiro, sem distinção de classe social e de grau de instrução, é um sujeito que cultiva com desenvoltura e naturalidade três modalidades distintas e ao mesmo tempo condizentes com o seu nível de primitividade: é desonesto, é porcalhão e pratica como nenhum outro o desperdício de água, de energia elétrica e até de alimentos. E faz tudo isso sempre dando uma justificativa: o de baixo da pirâmide social, ao ser flagrado furtando energia diz em sua defesa que o seu fornecimento foi cortado e ele não tem como pagar a conta; o riquinho que subtrai água do Lago Paranoá, na árida Brasília, afirma que, com toda a certeza o esquema ilícito foi montado e instalado pelo antigo proprietário da mansão. E assim a vida segue nesta porção desavergonhada da América do Sul onde ao epíteto de cordial que lhe foi pespegado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda no clássico Raízes do Brasil, o brasileiro juntou uma inclinação natural para desrespeitar e pisotear as leis e uma propensão animalesca para tirar a vida de seus semelhantes.

O brasileiro é um bicho tão, tão escroto que, diante das mais claras evidências dos delitos que pratica, ele por vezes jura peremptoriamente que não faz nada disso: não fura filas; não sonega impostos; não suborna o policial do trânsito; não vende seu voto; não adultera alimentos; não joga lixo nas ruas e nos rios; não ludibria o Governo para receber seguro defeso, Bolsa Família e benesses do gênero; não inventa doença para faltar ao trabalho. E descaradamente vai tocando a sua vida com a maior cara de pau, dando desculpa para as suas malfeitorias e para as suas transgressões com falas do tipo: “Ora, todo mundo faz isso; ou “Quem nunca fez uma coisa dessas?”. É assim mesmo que a banda toca.

O brasileiro é o rei da escrotice; é um bandalho social que, sem qualquer cerimônia, faz tudo para se dar bem, sem se importar em quem irá pisar, sem avaliar o estrago que provocará, sem medir as consequências e sem qualquer escrúpulo. Brasileiro não tem escrúpulos. Brasileiro é inescrupuloso elevado à enésima potência. Ora, escrúpulo para que, se as leis não punem com rigor, se os ricos fazem os trambiques que fazem para manter garantidos os seus feudos, se os dirigentes da nação são, até segunda ordem e avaliação e até que se prove o contrário, pessoas arrivistas e corruptas, e se lá na frente, como dizem, basta se arrepender que Deus salva?

O brasileiro é de uma escrotice tamanha e de uma desfaçatez absurda porque tudo de ruim e de nefasto e de desonesto e de abjeto e de brutal e de cafajeste e de hediondo e de covarde e de vergonhoso e de desrespeitoso e de mesquinho e de absurdo e de nojento e de revoltante e de perturbador e de medonho que ele pratica, repousa numa consciência rasa e bastante pedestre da figura do outro, porque o brasileiro ignora e passa por cima de qualquer mínima concepção de bem comum. Brasileiro é egoísta ao extremo. Brasileiro só quer saber de si, de sua barriga, de sua necessidade, de seu quintal. E dane-se todo o resto. E danem-se o lugar do outro, a compostura, a honestidade, o respeito e a solidariedade.

O brasileiro é um bicho tão mais tão escroto que acredita piamente num bom futuro enquanto ele de tudo faz para destruir a ética, a moralidade e tudo o mais de civilizatório que vai encontrando no tempo presente.

O brasileiro é um escroto de marca maior, porque se apresenta refratário ao bom senso e à noção de justiça social e de respeito às diferenças de gênero, raça e credo. Brasileiro não respeita nada e nem ninguém; e despreza veementemente tudo aquilo que não consegue compreender, julgando-se com pleno direito de exercer sua sanha autoritária de forma pusilanimemente feroz, entendendo que a sua natureza é ser atroz. Os brasileiros somos mesmo uns empedernidos boçais.

O pior do Brasil é o brasileiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário