Quando, há quase dez anos,
eu comecei a escrever para esta plataforma, eu fiz isso sem alimentar qualquer
pretensão de que eu conquistaria um grande público leitor. Falta de confiança e
de sentido de valor? Complexo de vira-lata? Nada disso. A minha avaliação,
sensata e equilibrada – e o tempo revelaria o que eu prognosticara -, se deveu
porque eu tinha, como ainda tenho, conhecimento de que os brasileiros nunca
foram dados à leitura, nunca constituíram uma nação de leitores, como atestaram
inúmeros levantamentos – o mais recente, Retratos
da Leitura no Brasil, que aferiu dados do ano de 2015, revelou, por
exemplo, que os entrevistados alegaram as seguintes razões para não ler: falta
de tempo, falta de paciência, preço dos livros e não gostar de ler.
Dito isso, ao ingressar como
produtor de conteúdo numa seara onde existem bilhões de páginas que podem ser
acessadas e que comportam os mais variados assuntos, eu não poderia mesmo crer
que eu angariaria milhões de visualizações e/ou centenas de seguidores fiéis,
ainda mais porque a matéria principal, o fundamento do meu projeto de escrita
não era e não é o factual, não é necessariamente – embora vez por outra eu
vincule acontecimentos que ganharam o grande noticiário – o que está nas páginas
on-lines de um jornal e/ou de uma
emissora de TV muito assistida, não comporta pornografia, não é um canal
humorístico, não ensina pessoas a ficar ricas, não exibe textos religiosos e
nem sequer corpos ensanguentados e decapitados. Além disso, ainda por cima, eu
não me dispus a fazer propaganda do meu trabalho onde quer que fosse, tendo em
vista que, dado o meu parco conhecimento de Facebook,
Twitter e afins, eu sabia que não
tinha a menor, a menorzinha chance de conquistar como leitores pessoas que
diariamente frequentam esses espaços, porque eu sabia, como eu sei, que, no
geral, elas estão ali majoritariamente mais para se exibirem, assistirem a
vídeos e ler “textos” que não avancem mais do que em três linhas. Ou seja, eu
iniciei a minha caminhada no mundo virtual sabendo que, caso eu alcançasse uma
audiência, ela seria uma plateia, digamos assim, de iniciados.
Aos críticos acerbos, como o
admirável escritor Umberto Eco, que afirmaram e afirmam que a internet e as
redes sociais deram espaço para todo tipo de gente se expressar, principalmente
os idiotões, eu digo que a rede mundial de computadores é uma das coisas mais
sensacionais do nosso tempo justamente porque pôs a possibilidade de manifestação
a qualquer um que a queira fazê-la. Ora, como leitor, como ouvinte, como
espectador, eu escolho aquilo que eu quero ler, ouvir ou assistir, me
valendo de algum critério para avaliar se é confiável aquilo que eu leio, ouço
ou assisto, mesmo porque, a tão celebrada, democrática e inclusiva internet não
é só terreno do conhecimento refinado, da luz e da razão, é, também, um campo
por vezes minado onde proliferam notícias falsas, o obscurantismo e os
discursos de ódio e de intolerância. E ainda tenho o privilégio de opinar, caso
deseje fazê-lo. Para mim, que tantas vezes fui ignorado por redações de
jornais, ter à minha disposição um espaço onde eu possa escrever e me expressar
e opinar com a extensão e periodicidade que eu quiser é algo formidável, para
dizer o mínimo.
Durante esses anos eu, em
mais de uma ocasião, pensei em parar de conduzir e realimentar o meu blog
acreditando que, na verdade, eu estava era perdendo tempo com essa empreitada.
Mas aí, eu aprendi uma lição com o Millôr Fernandes que passou a servir como um
condutor de meu percurso intelectual dentro e fora da internet. Ao ouvir o que
o Millôr, com toda a sua invejável erudição, disse, eu me dei conta de que, de
certo modo, o que ele mantinha como postura intelectual eu também seguia; a
fala dele apenas verbalizou o que eu pensava, que é a crença de que eu prezo um
compromisso como escritor e pesquisador pautado pela perenidade que possa advir
do reconhecimento por aquilo que eu escrevo, independentemente de a minha carinha,
o meu rosto estar estampado ou não na tela de qualquer equipamento eletrônico
que for acessado. Ou seja, reconhecimento e não a simples fama, até porque fama
não está necessariamente ligada a boas ações e/ou a bons conteúdos; alguém pode
ter o seu trabalho reconhecido mesmo que a sua imagem não apareça em lugar
algum.
O advento da internet e das
redes sociais ao mesmo tempo que possibilitou o acesso a uma infinidade de
informações e deu espaço à expressão dos que não tinham como e/ou onde fazê-lo,
fez com que só aumentasse o fosso que separa o Brasil das nações nas quais
leitores e livrarias são uma realidade de fato. Então, dizer que as redes
sociais fez deste país uma pátria de não leitores de livros é desconhecer
dados, é não saber que nunca fomos disso, e, dada a precariedade social do
tempo presente, na qual o fútil, o breve, a mediocridade e a imagem dizem tanto
do nosso subdesenvolvimento secular, talvez, infelizmente, nunca, nunca
haveremos de ser uma nação de gente bem instruída e educada, porque, quem não
lê, quem não se instrui, não se municia satisfatoriamente para manejar as engrenagens que movem o
mundo desenvolvido e nem se habilita a pensar em construir satisfatoriamente o seu futuro.
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