28 de março de 2020

Ainda o bolsonarovírus e outras coisas ruins


Por Clênio Sierra de Alcântara



Foto: Divulgação IURD
Jair Bolsonaro e Edir Macedo, irresponsabilidade social sem castigo: se essas criaturas acreditassem mesmo na existência de demônios, elas não se olhariam no espelho



I

Quando se pensa que o mentecapto do Planalto Central, o bufão do Palácio da Alvorada já atingiu o apogeu de sua esquizofrenia virulenta, eis que o dito-cujo saca de sua cabeça perturbada mais uma “reflexão” estarrecedora. Na última terça-feira, em cadeia nacional de rádio e televisão, o senhor Jair Messias Bolsonaro, ainda o presidente deste país, não só atacou as providências que governadores sensatos estão tomando para combater o alastramento do coronavírus, como, com certo sarcasmo, tripudiou sobre a gravidade da ameaça letal que há semanas vem aterrorizando o mundo, dizendo que ele, se fosse acometido pelo vírus – e, infelizmente não o foi ainda, para ele saber o que é bom para tosse -, desenvolveria somente uma “gripezinha” ou um “resfriadozinho”; e, como se isso fosse pouco e contrariando o que vem sendo recomendado mundo afora pela Organização Mundial da Saúde, ele disse que as escolas e o comércio poderiam voltar a funcionar normalmente.

II

Na esteira da gravidade dos fatos, considerando todos os riscos de contaminação que estamos correndo e a intensa e divulgada recomendação de lavarmos com frequência as mãos, localidades como o bairro onde eu moro, continuam experimentando as dificuldades provocadas num cotidiano marcado pelo abastecimento irregular de água, um item básico, básico, minha gente, para a sobrevivência, porque propicia higiene e limpeza, além, claro, o preparo de alimentos. E as autoridades ainda insistem em dizer que está tudo sob controle.

III

Talvez, vejam bem, talvez – digo talvez, porque a mim me parece que toda a boçalidade, toda a estupidez e toda a burrice que ele encerra são coisas muito suas, são inatas e não precisam de estímulo algum de outrem para aflorarem; características essas, aliás, que ele transmitiu com competência para os desequilibrados filhos dele – por merecer o apoio de gente da estirpe de um Carlos Massa, o apresentador do Programa do Ratinho, um dos lixos da TV brasileira que, dias desses, soltou um alto e sonoro “porra” ao vivo desaprovando críticas feitas ao senhor presidente da República, e de um inepto e algo execrável Prefeito do Rio de Janeiro, a múmia que atende pelo nome de Marcelo Crivella, um preposto de Edir Macedo, do Tio Patinhas Edir Macedo que continuou mandando seus pastores convocarem seus pobres seguidores a permanecerem frequentando os cultos da Igreja Universal do Reino de Deus, o senhor Jair Bolsonaro acredite que tenha uma ampla aprovação da população brasileira para os seus atos de evidente insanidade, porque contrários ao bom senso. 

Um sinal de que nem mesmo as Forças Armadas estão todas elas fechadas com o tresloucado presidente foi o pronunciamento em vídeo do senhor comandante do Exército, General Edson Leal Pujol. Feito na mesma noite em que aquele governante irresponsável falou à nação, um comedido e muito sensato Leal Pujol, como devem ser os grandes líderes, anunciou que ele e os seus comandados continuarão empenhados em combater o coronavírus, chegando até a dizer que esse empenho será “Talvez a missão mais importante de nossa geração”. Bravo, bravíssimo, general!

IV

Eu imagino que deva ser terrivelmente corrosivo e algo desconcertante para uma pessoa tão desequilibrada como o senhor Jair Bolsonaro, que vê inimigos em todos os cantos deste país, o fato de que, não bastasse a realidade de ver a China sendo acusada por tanta gente de ser não só a responsável pela disseminação do novo coronavírus acidental e descuidadamente e sim de modo pensado e cruelmente calculado visando à débâcle de economias mundo afora, ele, o odiador número 1 dos regimes de esquerda e que, inclusive, ganhou as eleições prometendo acabar com o esquerdismo e o comunismo implantado no Brasil, segundo ele, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ter de andar pianinho para não contrariar os brios e os humores dos líderes chineses, dirigentes da maior nação comunista – vá lá, comunista-capitalista – do planeta, porque a balança comercial brasileira é altamente dependente das compras feitas pelos homens de olhinhos puxados que, entre tantas outras coisas, inventaram a pólvora e, ao que tudo indica, anseiam ser mandatários do país mais poderoso que já existiu, desbancando o atual, que são os Estados Unidos.

V

Continuando a dar de ombros com a grave situação que estamos vivenciando, a besta-fera do Palácio do Planalto, um ser que parece ser, interiormente, todo ele, um enorme intestino, o senhor Jair Bolsonaro incluiu no Decreto nº 10.292/2020, publicado na quinta-feira, as igrejas como prestadoras de serviços essenciais à população. Não tenho dúvida de que mais esse ato irresponsável do senhor presidente foi para atender a um dos seus currais eleitorais. Muito embora eu não nutra a menor simpatia e nem reconheça a autoridade da Igreja Católica, uma instituição que queimou gente viva em fogueiras, legitimou a escravidão de negros e ainda hoje acoberta crimes sexuais praticados por seus padres e assemelhados, não acredito que ela tenha entrado nessa questão; sou levado a crer que o senhor Jair Bolsonaro atendeu foi à pressão dessa gentinha nojenta, manipuladora e aproveitadora da vulnerabilidade social, da fragilidade e da ingenuidade alheia, os quatro Cavaleiros do Apocalipse: Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares, Valdemiro Santiago e Silas Malafaia, preocupados que eles estão não com o bem-estar da população, mas com a queda na arrecadação dos seus templos, locais nos quais durante anos eles fazem as encenações que os tornaram milionários. Se essas criaturas, se esses quatro fariseus acreditassem realmente na existência de demônios, eles não se olhariam no espelho.

VI

Os fatos vão sendo debulhados como vagens de feijão e aqui e ali saltam aos nossos olhos imagens de perturbadora dramaticidade, como o crescimento diário do número de mortes provocadas pelo coronavírus, afora os casos que se revelam claros exemplos de alienação e de insensatez, como o de pessoas que nem sequer acreditam na existência desse vírus e se recusam a seguir qualquer recomendação de higiene e isolamento.

Em meio a isso tudo, nem é preciso zombar e escarnecer dos bolsonaristas de plantão, porque o próprio líder-supremo deles se encarrega de fazê-lo. Mas como eles não costumam deixar os ataques às sandices do chefe por menos, organizaram e saíram em carreata por ruas da capital paulista na tarde de ontem protestando, imaginem, contra o isolamento social. É ou não é uma demonstração de quanto, assim como o coronavírus, a estupidez é deveras contagiosa? Não só a estupidez, mas também a irresponsabilidade social e o espírito de manada.

Enquanto prossegue a marcha da insensatez capitaneada pelo comandante-em-chefe Jair Messias Bolsonaro, todo pimpão, bem armado e montado num imaginário corcel negro rumo ao obscurantismo sem fim, eu sigo firme e forte no sentido contrário, porque prezo demais o discordar e o livre pensar; por isso, eu estou com o governador de Goiás Ronaldo Caiado e não abro: “Ignorância não é virtude”. Ao que eu acrescento: ignorância também mata.

VII

Nessa verdadeira balbúrdia que mistura medo com esperança e descrença com resignação, uma das avaliações que eu mais tenho ouvido é de que o mundo, a humanidade sairá dessa situação provocada pelo coronavírus mais, digamos, humanizada. Não acredito nisso; e nem por pessimismo, mas por tudo o que eu aprendi e vi ao longo dos meus 46 anos de vida. Tão logo a poeira baixe, assim que a água turva assentar, imediatamente após a dispersão da pandemia, muitos, muitos, muitos de nós voltará de novo à carga, praticando excessos de egoísmo e de desumanidade, assassinando diariamente milhares de pessoas por aí com armas de fogo potentes e deixando outros milhares, milhões, na verdade, de indivíduos que vagam por esse mundo como os homeless de Londres e Paris que o coronavírus nos ver que existem, porque a fome, a miséria, o egoísmo, os maus tratos, o descaso, a indiferença e a crueldade que continuamos a demonstrar pelo outro, estão por toda a parte deste planeta imenso, e não somente em nações de acentuada e injusta desigualdade de renda, como o é o Brasil.

Nós somos como criminosos reincidentes, não costumamos ter pena de ninguém, muito preocupados que estamos em salvar a nossa própria pele e em saciar os nossos anseios, desejos e vontades. Bastará o coronavírus ser domado para que voltemos a praticar o que sempre e sempre praticamos com a maior das desenvolturas, que é a destruição do planeta e de nós mesmos, porque, eu não duvido, nós somos o maior mal que existe, nós somos a mais letal praga do mundo.

VIII

É visível e incontestável nesse cotidiano atípico que estamos a atravessar em decorrência da pandemia do coronavírus, o quanto tivemos a nossa liberdade de ir e vir cerceada. Contudo, não nos esqueçamos de que o cerceamento da liberdade de ir e vir não significa a subtração de nossa liberdade de pensar. Pensemos.

Um comentário:

  1. Diante de grave pandemia que nos assola, talvez até mais perigoso do que isso, é saber que o presidente da República se comporta como um psicopata irresponsável indo contra as próprias medidas de seu governo. O mais doentio e saber que tem milhares de bozominios que aderem e pensam semelhante ao general enlouquecido pela sua esquizofrenia.

    ResponderExcluir