21 de março de 2020

Jair Bolsonaro é o meu coronavírus

Por Clênio Sierra de Alcântara

Imagem: Internet
Na esteira da pandemia do coronavírus, o senhor Jair Bolsonaro continua mostrando à sociedade brasileira a que veio, ou seja, para envergonhar, emburrecer e atrasar um pouco mais o país


I


Eu compreendo perfeita e claramente que havia uma grande raiva represada e uma enorme repulsa em boa parte da população brasileira com relação aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) desde o tempo em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff ocupavam a Presidência da República. A raiva e a repulsa com os desmandos protagonizados pelos petistas, as falcatruas e roubalheiras que vieram à tona no período e a crise econômica severa na qual o país imergiu desde então, deram espaço para que discursos “contra tudo isso que está aí” ganhassem imediatamente os ouvidos dos inconformados. Ocorre que essa raiva, essa repulsa, esse ódio, esse inconformismo fizeram com que milhões e milhões de cidadãos apostassem suas fichas nas urnas e elegessem uma das figuras públicas mais despreparadas, estúpidas e retrógradas – ele, claro, acredita piamente que é justamente o contrário disso – que já passou pelo Palácio do Planalto, que é esse senhor Jair Messias Bolsonaro, o Australopithecus brasiliensis.

II

Nunca pensei que iria viver o bastante para ver a humanidade com medo de uma doença. Nos meus pesadelos mais reais, eu receava – e receio – que chegasse o dia em que guerrearíamos para obter um pouco de água potável. E, no entanto, eis que eu venho vivenciando e assistindo ao desenrolar de acontecimentos que demonstram o tempo todo que, mais do que egoístas, brutais, desumanos e covardes, somos demasiadamente frágeis: vem um vírus, um ser microscópico, e puf, nos bane da face da Terra.

III

Em vista de toda a verborragia, de todos os insultos e de toda a pantomima de que o senhor Jair Bolsonaro lança mão na saída do Palácio da Alvorada para animar a sua claque imbecilizada, é espantoso, para dizer o mínimo, que jornalistas sérios continuem a marcar ponto naquele local. Bom serviço prestariam à nação esses jornalistas se eles fossem fazer reportagens nos lugares esquecidos pelo poder público, como as favelas dos arredores de Brasília, e os interiores desassistidos deste país imenso. Meus caros,  honrem a sua profissão, deixem esse bufão com a plateia desmiolada que ele tem, porque essa criatura não tem preparo algum, não tem discernimento, não tem escrúpulos, não sabe o que é liturgia de cargo nem responsabilidade social e não tem respeito por absolutamente ninguém.

IV

Quando os primeiros vitimados pelo novo coronavírus em Wuhan, na China, começaram a ocupar os noticiários pelo mundo afora, não demorou para que soasse o alarme de que a coisa não era um probleminha e sim um problemão que poderia tomar dimensão global, como veio a acontecer em poucos dias, dada a facilidade e rapidez com que as pessoas se deslocam entre os continentes. Os teóricos das conspirações logo se puseram a especular que isso foi uma artimanha dos chineses para fazer a economia mundial balançar e assim de algum modo abalar os Estados Unidos com os quais eles vivem em disputa pelo posto de maior potência econômica. Outra especulação conspiracionista aventou que o novo coronavírus é só mais um vírus fabricado pelos laboratórios farmacêuticos, que produzem e disseminam doenças para depois lucrarem bilhões de dólares com a venda de remédios.

Em meio a tantas especulações, começou a circular também o vídeo de um suposto culto da Igreja Universal do Reino de Deus no qual o pastor anuncia a comercialização de álcool em gel por meros R$ 500,00 o frasco de não sei quantos mililitros. Será isso verdade? Bem, considerando que muitos falam que o céu é uma maravilha e ninguém quer morrer e a quantidade de quinquilharias que minha pobre mãe já comprou ao longo de mais de vinte anos nos cultos abençoados da igreja do multimilionário Edir Macedo, eu só duvido do valor que é cobrado ali, porque, em realidade, eu creio que seja muito mais caro. Oh glória!

V

Mantendo com galhardia a pose equina e algo esquizofrênica à qual, de uns tempos para cá, ele juntou o hábito infantilóide de dar banana para todos aqueles que não fazem parte de sua plateia, o senhor Jair Bolsonaro, o mentecapto do cerrado, aquele sujeito que afirma e depois nega, para em seguida reafirmar e sem demora negar de novo – convenhamos, é muita perturbação mental, não é? -, fez pouco caso dos fatos, desdenhou as recomendações do Ministério da Saúde, viu parte do seu staff ser contaminado e foi se juntar aos seus correligionários que protestavam, vejam só, contra a manutenção das instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal que, segundo eles, não deixam Seu Jair fazer o que bem entende. Essa gente pode entender de uma porção de coisas, tais como terraplanismo, ofensa às mulheres, discriminação contra homossexuais, desmatamento, manuseio de armas de fogo, vestir azul e rosa, ataque às universidades públicas, cumplicidade com milicianos, fazer fortuna com franquia de chocolate, pegar parte do dinheiro de seus funcionários, imitar nazistas de alta patente, desprezar os nordestinos e de atacar a cultura e a liberdade de expressão, mas não entende nada, absolutamente nada de democracia e civilidade.

 Quando os petistas estavam no poder e acenavam controlar e censurar a imprensa e, além disso, mantinham laços estreitos com ditaduras como as de Cuba e da Venezuela, essas pessoas que hoje governam o Brasil e os seus apoiadores atacavam o PT dizendo que eles eram comunistas e queriam acabar com a democracia neste país. Ora, e por que agora o discurso e a postura mudaram de figura? Por que agora é legítimo e correto perseguir e ofender jornalistas e órgãos de imprensa? Por que agora ser patriota e nacionalista é ser serviçal dos Estados Unidos, assumir uma postura autoritária e evocar atos institucionais do tempo da Ditadura Militar que vigorou neste país durante amargos e terríveis longos vinte e um anos?

VI

Pensando estar tratando com imbecis de carteirinha, o governo brasileiro quer fazer a população acreditar que tudo ficará sob controle se a pandemia do coronavírus chegar para valer por aqui. Quem em sã consciência poderia crer numa afirmação dessas, me digam? Talvez nela acreditasse quem não conhecesse a realidade de clínicas e de hospitais públicos nos quais, além de pessoal, faltam estrutura física e insumos para eles funcionarem a contento. Caso se confirme a previsão de alguns especialistas de que o novo coronavírus vai se alastrar mesmo por aqui nos próximos dias, o que provavelmente assistiremos será ao caos, ao colapso de um sistema público de saúde no qual diariamente pessoas morrem por falta de atendimento adequado.

VII

O senhor Jair Bolsonaro, o grande idiota que parece não ter noção alguma do cargo que ocupa, haverá ainda de causar muitos males ao Brasil e aos brasileiros; e haverá de figurar nos manuais de História como um Presidente da República que fez com que grande parte da população do seu país botasse para fora, desavergonhadamente, todo o ódio, todo o preconceito, toda a intolerância e todo o autoritarismo que mantinha latente.

VIII

A pandemia de coronavírus expôs mais uma vez ao mundo o grau elevado de civilidade e solidariedade de muitos de nós brasileiros: em alguns estabelecimentos o álcool em gel passou a ser vendido com o preço elevado em mais de trezentos por cento. Somos ou não somos um povo que sabe aproveitar bem as oportunidades para dar um jeito de ganharmos mais? E o pessoal que num efeito tresloucado de manada, sem necessidade, saiu comprando hidroxicloroquina, deixando os portadores de lúpus e malária, que realmente precisam do medicamento, sem ter onde comprá-lo? Como dizia o filósofo Friedrich Nietzsche, “Sem crueldade não há festa”. E se nesse cenário de terror e preocupação nos resta algum consolo é o de saber que, tal qual essa gripe maldita, também esse Jair Bolsonaro haverá de uma hora dessas sair da nossa atenção. Enquanto isso não ocorre, lutemos com cuidado e com valentia, porque ainda não serão esses males que irão nos derrotar.

3 comentários:

  1. Texto que resume bem a irresponsabilidade e a falta de representatividade que é esse governo. Um presidente que se porta como um demente, que ignora seu próprio governo não poderia ser diferente diante de um vírus tão perigoso como este. Entretanto, em relação ao vírus contagioso, suas ideias , ignorância parece ser mais rápido seu contágio, disseminado ódio, fake New e despreparo, característica principal de seus seguidores. Portanto a esquizofreniacovid-19 é muito mais contagioso que a pandemia atual. O brasil segue na ignorância e na doutrina da esquizofrenia pandemica.

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  2. O atual cenário da política brasileira, e de uma desorganização, que causa vergonha a quaisquer nativo desta terra de encantos mil. Observa-se um poder executivo sem postura, credibilidade e conhecimento do seu papel como representante de uma nação, servindo de piada para lideranças mundiais. Espelha-se em um outro senhor, que agi como comediante, mas tem uma economia estável e uma moeda forte. O legislativo, não criar leis que favoreçam os trabalhadores, os aposentados, ao contrário, criam obstáculos para a classe operária. O judiciário é corte suprema só no título, subordinada a tantos e quantos, pois são indicados por partidos e partidários. E ai o que é vem do Planalto central, só comédia, repressão, discriminação, blindagem escandalos. E o Brasil, afundando, e o trabalhador se f.......

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  3. É melancólico presenciar as atitudes do atual governo,estamos vivenciando um momento de calamidade mundial, não importa quem produziu, a verdade é que a realidade é assustadora, e que não temos condições de tratamos todos infectados, pois não se investe em saúde neste país. Porém as táticas empregada pelo chefe do executivo é de deixar quaisquer cidadão insatisfeito, pedir o final do insolamento social é caminhar para a falência da população em risco no país. Talvez esse senhor ja tenha adquirido imunidade a todos tipos de vírus e bactérias existente, dizem que gente ruim não morre, porém é prudente sermos cautelosos, solidários, vigilantes e responsável, uma vez que trata-se de vidas e vida abundantes. Deixo aqui meu registro revoltoso de indignação aos atos irresponsáveis do nosso chefe de estado. Acordem, a mídia ainda é a responsável pela informação sadia, limpa e verdadeira.

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