4 de abril de 2020

A irrefreável e medonha disseminação da esquizofrenia virulenta de Jair Bolsonaro ou O destemor dos animais que até agora escaparam da peste


Por Clênio Sierra de Alcântara

Desinformar é preciso: com um presidente agindo em conluio com o coronavírus para fazer com que mais e mais pessoas sejam contaminadas e corram o risco de perder suas vidas, quem é na verdade que está contra o Brasil e contra os brasileiros? 



I

Há quatrocentos e tantos anos os brasileiros de maus bofes de tudo vêm fazendo para que o Brasil não saia da lama, da areia movediça e do atraso social nos quais esse país, por isso, se mantém permanentemente preso. Invertendo os termos da proposição do antropólogo Roberto DaMatta eu pergunto: o que faz do Brasil, brasil? E eu, num arroubo de quem acredita dispor de pelo menos parte da resposta, respondo: a cupidez, o arrivismo, a educação de terceira categoria, o querer olhar o outro sempre de cima para baixo, o “você sabe com quem está falando?”, o coronelismo político, a corrupção institucionalizada, a indiferença, o mau-caratismo e a falta de respeito à coisa pública.


II

Ainda querendo impor a todos os cidadãos deste país o seu pensamento perturbado e a sua visão distorcida da realidade, o senhor presidente da República Jair Messias Bolsonaro, o asinino chefe da nação brasileira que fez circular o vídeo de um minuto e vinte e oito segundos de duração intitulado “O Brasil não pode parar”, conclamando o povo a ignorar as recomendações das autoridades médicas e continuar exercendo as suas atividades laborais e cotidianas como se nada de anormal estivesse acontecendo, achou tudo isso muito pouco e um dia depois de uma reunião com o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta que, segundo foi divulgado, elevou o tom com o presidente sobre a extrema necessidade da manutenção do isolamento social, lá foi o dito-cujo com sua cara esquisitóide bater perna na manhã do último domingo pelo comércio de Brasília e arredores, arrastando atrás de si, evidentemente, parte da fauna que deve se julgar imune à contaminação do coronavírus.

Mandetta, sai desse covil, rapaz! Esse sujeito está não só querendo desautorizar o senhor, mas também humilhá-lo publicamente. Pensando bem, não peça para sair, não, ministro, deixe o mentecapto lhe demitir, porque dessa forma será pior para ele, que tem constantemente ignorado as suas recomendações.


III

Chega a ser patético, para não dizer bestial e algo infame e acintoso, o comportamento dessas pessoas que, no conforto de seus carrões, saem por aí, estimuladas pelo senhor Jair Bolsonaro, buzinando e defendo o fim da quarentena. Senhores e senhoras, únicos e verdadeiros patriotas desta nação, saiam dos seus carros e percorram as ruas de mãos dadas; façam uma nova Passeata dos Cem Mil; mostrem que são pessoas de fibra e de coragem; demonstrem que o coronavírus é uma coisinha à toa; e que com os senhores e com as senhoras não há quem possa.


IV

Não aguentando tantas reprimendas vindas dos seus opositores e, desconfio eu, pressionado pela ala militar ajuizada de seu staff, o admirável atleta do Palácio do Planalto, cujo esporte que pratica neste momento com disciplinada regularidade é desacreditar os órgãos de imprensa e incentivar os seus seguidores a fazer o mesmo, resolveu fazer um novo pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, desta feita, na noite da última terça-feira. O coronavírus que, segundo o discurso anterior, o máximo que poderia provocar era uma “gripezinha” ou um “resfriadinho”, agora foi transformado no “maior desafio de nossa geração” – ele copiou o que dissera o comandante do Exército. E o presidente falou em doença e falou em desemprego, e falou em doença e falou em desemprego... Parecia até um disco arranhado. E quanto ao isolamento social? Aí já é querer demais desse desequilibrado, não é? A economia não pode parar, minha gente. O Brasil não pode parar, ora essa. Morra, mas morra tra-ba-lhan-do. Entendeu ou quer que eu desenhe?!


V

O combate ao coronavírus, de um lado, e a luta pela desinformação, de outro, acentuou o ataque aos órgãos de imprensa que, segundo os críticos, em geral, e os bolsonaristas, em particular, não informam a verdade, causam pânico na população e, ainda por cima – ó céus, ó vida -, de tudo fazem para derrubar o presidente que foi eleito para, vejam só, acabar com a velha política. É muita pretensão desse pessoal, não é mesmo?

E nesse jogo de tiro ao alvo, nessa prática atlética de fazer dos órgãos de imprensa uma Geni, a Rede Globo, claro, é para essa gente patriota a pior de todas. Os bolsonaristas que, em outros tempos, achavam correto e sensacional quando o Partido dos Trabalhadores (PT) era quem ocupava as manchetes de maneira desabonadora, agora falam em golpe. Quer dizer que contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff a imprensa não era golpista? Gozado, os petistas tinham absoluta certeza de que tudo era uma ação orquestrada da direita para derrubá-los do poder. É a mais pura verdade: quem se acostuma a atuar como pedra, não aceita o papel de vidraça.

E para provar que não estão para brincadeira, os bolsonaristas continuam se articulando pelo WhatsApp – e por onde mais? -, o canal onde eles vêm espalhando coisas irreais, como a tal “notícia” do primo do porteiro do “meu prédio” que não morreu de covid-19 e a imprensa alarmista diz que sim – até gente que mora em oca está dizendo que tem porteiro. É tragicômico -, para promover um boicote à Rede Globo. Na cabecinha desse pessoal, se a emissora da família Marinho não existisse, o Brasil com toda certeza estaria noutro patamar de progresso e civilização. Vejam que ideia genial: nós não ligamos a TV, e, se a ligarmos, não sintonizamos mais a Rede Globo; dessa forma, o coronavírus deixará de existir. Não é o máximo?

Acredito que nas rudimentares cabecinhas dos bolsonaristas muito melhor seria se as TV’s abertas do Brasil nada informassem de utilidade pública e exibissem tão somente porcarias como o Programa Silvio Santos, que vende carnês e tele-senas, ou o falatório caça-níquel de Malafaias e Valdemiros da vida em telearrecadações, ops, telepregações.


VI

Para o senhor Jair o Bolsonaro, na luta contra a pandemia do coranavírus, a desinformação, as fake news e o incentivo para que os seus seguidores façam o mesmo é o melhor remédio. “Todos nós iremos morrer um dia”, ele declarou, dando uma demonstração de que não estar realmente preocupado com o bem-estar das pessoas coisíssima nenhuma, mas sim com os seus dividendos eleitorais. Ele chegou até a divulgar um vídeo em que um sujeito filmou um Ceasa de Minas Gerais vazio como prova de que o isolamento social já estava provocando desabastecimento. Era tudo mentira, como revelou a para ele e seus cupinchas maldita, atrevida, insubordinada e golpista Rede Globo.

O presidente Jair Bolsonaro exorta seus apoiadores a atacar verbalmente repórteres. O ministro da Saúde classificou os meios de comunicação de “sórdidos” e depois pediu desculpas. Por outro lado, Instagram, Twitter e Facebook trataram de apagar postagens do presidente por considerá-las impróprias.

Na manhã da quinta-feira, uma professora, coitada, logo uma professora, talvez a profissão mais desacreditada, desvalorizada e desprestigiada num país que almeja ser grande e, paradoxalmente, não valoriza o profissional da área da educação, foi mais uma vez se juntar à plateia que diariamente se forma na saída do Palácio da Alvorada para aplaudir e apoiar o presidente – tem gente para tudo neste mundo. A professora, acompanhada de um casal de filhos, disse que já estivera ali outras vezes nesta semana; atacou a imprensa que, segundo ela, só sabia prejudicar o senhor Jair Bolsonaro; sugeriu que ele colocasse os militares nas ruas; disse que queria trabalhar e não receber os R$ 600,00 do Governo; e pediu encarecidamente ao presidente que ele resolvesse a situação do Brasil, porque os governadores não estão fazendo a coisa certa. Tadinha, o coronavírus ainda não a contaminou, mas o bolsonarovírus sim. Ela falou tanto e esqueceu de também pedir ao presidente que ele pusesse alguém competente no comando do Ministério da Educação. A bichinha, rapaz, mesmo sendo ou dizendo ser professora, não sabia ou fez de conta que não, que um presidente da República pode muito, mas não pode tudo. Ah, outra coisa: faltou ela dizer ao senhor Jair Bolsonaro que ele pedisse aos quatro fariseus que o apoiam – Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares, Valdemiro Santiago e Silas Malafaia -, que eles finalmente fizessem uma boa ação e voltassem a “curar” as pessoas, mas, considerando a gravidade da atual situação, desta vez sem cobrar nem sequer um centavo delas e nem do Governo.

Mas espera aí: senhor Jair Bolsonaro, tem gente esperta dizendo que a tal mulher, professora e defensora dos pobres e esfomeados, na realidade, é empresária. É verdade, presidente, que o senhor repassou o vídeo de uma farsante? Pela boa atuação da moça, sendo ela professora ou qualquer outra coisa, o senhor bem que poderia indicá-la para participar de uma das novelas bíblicas da Rede Record.


VII

O coronavírus vai ceifando vidas aos magotes mundo afora e uma perda ocorrida no último dia 27 de março me deixou muito triste e sentido. Morreu Daniel Azulay, o criador da Turma do Lambe Lambe que foi uma das maiores alegrias de minha infância. Adeus, Daniel!


VIII

O Messias já está aí e uma desavisada amiga minha anda dizendo que Jesus está quase chegando. Tudo bem, cada povo e cada um tem o Messias que merece.

Ah, eu já ia me esquecendo: jejue amanhã, viu? Jejue que assim o coronavírus vai embora sem precisar da ajuda da Rede Globo. E se ainda assim isso não funcionar, aja como homem e não como moleque, beba água ungida e peça para o presidente dar uma banana para o danado desse vírus, talkey?! Eu gosto de vocês porque vocês são obedientes e fáceis de adestrar.

Um comentário:

  1. O messias indeliquente. Adora ir a padaria, a farmácia ou será puro exibicionismo narcisista?

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