I
Brasília, domingo, 3 de maio
de 2020. Uma grande carreata promovida por uma gente autoritária, hipócrita,
estúpida e covarde avança sobre a Esplanada dos Ministérios e logo dá lugar a
uma festa sinistra e macabra na qual se evoca e se exalta e se pratica uma
série de atentados contra a Constituição, a liberdade de expressão e os
fundamentos da democracia.
Era o Dia da Liberdade de
Imprensa naquele domingo; e aquela gente autoritária, hipócrita, estúpida e
covarde, defensora dos valores da República Antidemocrática Bolsonariana,
contando com o apoio do seu histriônico, cruel e “sempre correto”
chefe-supremo, o senhor Jair Messias Bolsonaro, fez por valer a designação que
a denomina e vociferou no festim diabólico pedindo a intervenção militar, o
fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional e o fim do
isolamento social, a única medida tida como a mais eficiente por especialistas
do mundo todo para conter o contágio pelo coronavírus.
O chefe-supremo discursou,
com sua costumeira estratégia de pôr as Forças Armadas como apoiadoras de suas
mais vis ações e recorrendo a uma retórica de intimidação: “Vocês sabem que o
povo está conosco. As Forças Armadas ao lado da lei, da ordem, da democracia e
da liberdade, também estão ao nosso lado e Deus acima de tudo. Vamos tocar o
barco. Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no
limite, não tem mais conversa. Tá ok? Daqui para frente, não só exigiremos,
faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço. E ela tem
uma dupla mão. Não é de uma mão, de um lado só”, disse o ditadorzinho de meia
tigela que, nos bastidores, está dando um quarto ao diabo – no caso, às hienas
sempre e sempre famintas que formam o chamado “centrão” – para escapar de um muito
provável processo de impeachment que,
espera-se, será tirado da gaveta pelo presidente da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia.
Será que o general Augusto
Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, continua a cantar por
aí: “Se gritar pega centrão/não fica um, meu irmão”? Duvideodó. A cantigazinha
agora deve ser esta: “O centrão é um bom companheiro/o centrão é um bom
companheiro/o centrão é um bom companheiro/ninguém pode negar”.
Possivelmente estimulados
por seu grande líder naquele verdadeiro pandemônio, os bolsonaristas – dois dias
antes alguns deles agrediram verbalmente profissionais da área da saúde que
protestavam pacífica e silenciosamente naquele cenário, a Praça dos Três
Poderes, reivindicando melhores condições de trabalho e clamando pela
manutenção do isolamento social – completaram o festim agredindo – desta vez
também fisicamente – repórteres do jornal O
Estado de S. Paulo. Foi a culminância do desrespeito e da prepotência de
uma gente que não tolera de forma alguma a ordem democrática e que quer ver o
senhor Jair Bolsonaro fazer valer tudo o que lhe der na telha.
II
Causa-me espécie o fato de
que, a despeito de emissão de notas nas quais seus comandantes afirmam que “Marinha,
Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência
e a harmonia entre os poderes imprescindíveis para a governabilidade do País” (“Forças
Armadas estão ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade, diz
ministro da Defesa”. In G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/04/forcas-armadas-estarao-sempre-ao-lado-da-lei-da-ordem-da-democracia-e-da-liberdade-diz-ministro-da-defesa.ghtml. Publicado em 4 de maio de 2020. Acessado
em 4 de maio de 2020), eles, os comandantes não venham a público mostrando a
cara para dizer enfaticamente que reprovam e que não são coniventes com as
falas do presidente da República Antidemocrática Bolsonariana, que existe em
paralelo à República Federativa do Brasil, e que não perde a oportunidade de
incluir as Forças Armadas como um dos apoiadores de seus ideais autocráticos.
Seríamos de uma ingenuidade
tamanha se acreditássemos que as Forças Armadas estão todas elas em discordância
com os propósitos autoritários e ditatoriais do mandatário da nação. Eu aposto,
sem titubear, que há pessoas ali que são da opinião de que, por elas, a
intervenção militar deveria ter ocorrido desde o primeiro momento em que o
senhor Jair Bolsonaro se deu conta de que existem um Congresso Nacional e um
Supremo Tribunal Federal que igualmente são partícipes da governabilidade do
país.
Em sua coluna publicada
ainda no domingo de empurrões e pontapés em repórteres, que se verificou em
Brasília, Chico Alves ouviu comentários de alguns generais da reserva sobre a
manifestação inconstitucional e antidemocrática ocorrida naquele dia. O general
Paulo Chagas declarou que não via possibilidade de decretação de um golpe
militar: “O presidente está enganado, está interpretando do jeito que ele quer.
As Forças Armadas jamais vão entrar numa aventura. O povo está dividido, o
Brasil quer que cada um faça sua parte de forma responsável”. O deputado
General Peternelli (PSL – SP) disse ter certeza de que as Forças Armadas não
agirão fora da legalidade, porque elas sempre trabalham dentro das normas
constitucionais: “Às vezes me ligam perguntando se vai haver um golpe contra o
presidente. Nem uma coisa e nem outra”, ele completou. Ainda de acordo com o
que foi publicado pelo colunista Chico Alves, os generais disseram que os
esforços do Governo Federal deveriam estar direcionados para o combate ao
coronavírus e não para os confrontos políticos. Contudo, os generais também
criticaram decisões do STF que, segundo eles, estava se intrometendo em áreas
que são exclusivas do Executivo (Chico Alves. “Generais dizem que ‘presidente
está enganado’ e que FA não apoiariam golpe”. In UOL Notícias: https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/05/03/generais-dizem-que-forcas-armadas-nao-entram-em-golpe.htm.
Publicado em 3 de maio de 2020. Acessado em 3 de maio de 2020).
III
Na terça-feira veio a
público o que se disse ser a íntegra do depoimento que o senhor Sergio Moro prestou
à Polícia Federal no sábado passado. Quem leu o que foi divulgado verificou que
o ex-juiz federal e ex-ministro manteve as acusações que fizera contra o
presidente da República, de que ele queria sim fazer interferência política na
PF. Moro declarou que o senhor Jair Bolsonaro mentiu quando afirmou, no
pronunciamento ocorrido na sexta-feira 24 de abril, que não recebia informações
ou relatórios de inteligência daquela Corporação, porque ele, enquanto ministro
da Justiça e da Segurança Pública, repassava ao presidente as ações realizadas
pela PF, mas resguardando o sigilo das investigações (Caio Junqueira. “Exclusivo:
leia a íntegra do depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal”. In CNN Brasil:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/05/05/exclusivo-leia-a-integra-do-depoimento-de-sergio-moro-a-pf. Publicado em 5 de maio de 2020. Acessado
em 6 de maio de 2020).
Quem vem acompanhando a
crônica política está a par de uma ampla ação do Governo Federal no sentido de
travar forças com o STF e com outras instâncias da Justiça. Em seu depoimento
Sergio Moro disse de uma reunião gravada que poderia comprovar que o senhor
Jair Bolsonaro queria porque queria interferir na PF. Pois bem, o ministro
Celso de Mello, do STF, instou o Palácio do Planalto a entregar uma cópia do
mencionado vídeo e a Advocacia-geral da União vinha de todos os meios
protelando isso, sob a alegação de que na reunião também foram tratados
assuntos que dizem respeito à Segurança Nacional, algo que a defesa de Sergio
Moro prontamente contestou. E o tal do vídeo da reunião ministerial do dia 22
de abril acabou sendo entregue ontem.
Aguardemos os próximos
capítulos dessa minissérie planaltina de antemão sabendo – deram um spoiler danado: na reunião, o ministreco
da Deseducação, Abraham Weintraub, teria xingado ministros do STF e membros do
Congresso Nacional – que ainda vem muita sujeira por aí, porque o ranço e a
retórica autoritária do senhor Jair Bolsonaro são muito mais do que isso, são
bem mais do que falas e discursos e perpassam ações de bastidores que no
decorrer do tempo serão reveladas. Verdade seja dita, esse homem nunca escondeu
a porcaria que é; e quem votou nele acreditando que alguém com seu grau de
vileza e tirania iria, por assim dizer, “consertar” o Brasil, apostou errado,
como o correr dos dias irá demonstrar.
IV
Assim como os resultados dos
exames do senhor Jair Bolsonaro para saber se ele testou positivo ou negativo
para o coronavírus é coisa que não se vê – até isso o nobilíssimo e impoluto
presidente está se recusando a mostrar à sociedade, vide as diligências da
Advocacia-geral da União -, a senhora Regina Duarte, Secretária Especial da
Cultura, também era dessas que não apareciam para o público. Talvez cansada de
ouvir a comoção quase que geral clamando por seu nome – existe um vídeo no qual
artistas perguntam insistentemente: cadê Regina? -, ela resolveu dar as caras
nesta semana numa reunião em Brasília; mas pelo que dela se viu e ouviu, antes
ela não tivesse saído da toca, do buraco, do esconderijo, do guarda-roupa, de
debaixo da cama, da jaula, do manicômio, de detrás da moita, da caverna, da
hibernação, da catacumba, do sarcófago ou de onde quer que ela estivesse.
Dando a dimensão de sua
importância na tal secretaria que, não nos esqueçamos disso, é subordinada ao
Ministério do Turismo que, por sua vez, é comandado por Marcelo Álvaro Antônio,
um sujeito que é suspeito de comandar um esquema de candidatura de laranjas nas
últimas eleições, o Governo reintegrou à Fundação Nacional de Artes (Funarte),
na terça-feira – e o exonerou no mesmo dia, o que, talvez, tenha sido só para
dar um susto na inoperante sumida e reaparecida Dona Regina -, o maestro Dante
Mantovani, que fora exonerado pela primeira vez em março. Tal episódio de
reintegração do fulano fez a tadinha da Regina pensar que estava sendo
dispensada das hostes da República Antidemocrática Bolsonariana. Infelizmente,
ainda não foi desta vez, porque o capítulo final do novelão “Regina, a superinútil
Secretária Especial da Cultura Bolsonariana” ainda está sendo escrito.
Como maneira, penso eu, de
marcar triunfalmente o seu retorno ao mundo dos vivos, a senhora Regina Duarte
resolveu conceder uma entrevista ao telejornal 360º, da CNN Brasil, na tarde da quinta-feira. E o que se viu e
ouviu ali foi como que uma tentativa da inapta secretária de conseguir bater o
recorde de asneiras e absurdos que o seu chefe-supremo costuma proferir quando
fala com jornalistas.
Eu faço um esforço imenso
para conseguir separar a pessoa do artista e/ou intelectual de sua obra. E Regina
Duarte, como atriz, deu vida a personagens que são mim memoráveis na teledramaturgia
nacional. Mas o que eu vi e ouvi na entrevista que ela concedeu aos
apresentadores da CNN Brasil foi uma dessas coisas repugnantes, reprováveis e
medonhas que às vezes nós testemunhamos e sabemos que nunca mais iremos
esquecer.
Assistindo à atuação – será que
ela estava ali desempenhando a sua profissão de atriz? – de Regina Duarte na
tal entrevista, num primeiro momento, ela me deu a impressão de que estava sob o
efeito de alguma droga alucinógena. Depois, eu fui me dando conta, ao longo dos
pouco mais de quarenta minutos que durou a sua lamentável participação naquele
telejornal, que a senhora Regina Duarte não estava seguindo roteiro ficcional nenhum,
e sim, atuando firmemente como uma secretária comprometida com as diretrizes
determinadas pelo seu patrão, como uma fiel e legítima agente de um desgoverno
do qual ela apreendeu e absorveu aplicadamente a ideologia. E não podemos nos
esquecer de que Dona Regina é filha de militar e recebe, desde 1999, uma pensão
de quase R$ 7.000,00 (exatos R$ 6.843,34) do seu genitor, Jesus Nunes Duarte,
que foi primeiro-tenente do Exército e faleceu em 1981, o que em parte explica o que ela disse e fez durante a entrevista.
Emendando um disparate atrás
do outro e se fazendo de surda e de desentendida e ainda por cima dando chiliques
– ela chegou a pedir desculpas aos telespectadores pelos “chiliques que eu dei”
-, Regina Duarte portou-se – e eu não duvido que foi intencionalmente – como uma
perfeita, perfeitíssima versão feminina do senhor Jair Bolsonaro e, por
conseguinte, envergonhou uma enorme leva de grandes artistas deste país que,
diferentemente dela, não aderiu a este desgoverno cheio até as bordas de uma
gente autoritária, hipócrita, estúpida e covarde. Regina minimizou e
relativizou os terrores praticados pelos donos do poder durante a Ditadura
Militar – chegou mesmo a cantarolar “Pra frente Brasil”, uma parceria de Raul
de Souza e Miguel Gustavo, que se tornou a trilha sonora do governo de Emílio
Garrastazu Médici, o mais carniceiro de todo o período militar -; Regina falou
que os jornalistas que a entrevistavam naquele momento estavam desenterrando
mortos, tendo ela talvez esquecido de que, em realidade, são muitos os mortos
que estão sendo enterrados, vítimas do coronavírus, e que todos eles merecem ao
menos respeito; Regina, que responde por uma Secretaria Especial da Cul-tu-ra
desprezou a memória, em geral, e a de nomes que se foram recentemente, em
particular, como Aldir Blanc e Flávio Migliaccio; Regina se mostrou
despreparada e incompetente para o cargo que ocupa; Regina, enfim, escreveu com
letras garrafais negras o seu obituário como artista e certamente deixou muitas
pessoas tristes, como eu que, até certo ponto, a venero.
Eu compreendo perfeitamente,
Regina Duarte, que uma coisa é defender a coexistência de ideias plurais e por
vezes divergentes; e que outra, totalmente diferente, é o apoio, é a conivência
de alguém com a prática de crimes e de discursos de preconceito, de ódio, de
intolerância e de negação, justamente, da coexistência de pensamentos diversos,
algo que vai de encontro ao pacto civilizador. É lamentável dizer isso, eu
sinceramente lamento muitíssimo, mas a sua postura, as suas atitudes e as suas
declarações durante a entrevista deixaram claramente ver que a senhora é mesmo
a coisa monstruosa e infame que as câmeras da CNN Brasil mostraram para todo o
país, porque, acredito eu, quem relativiza a dor e o sofrimento alheios é
incapaz não somente de se pôr no lugar do outro, como também de se compreender
e de se perceber como ser humano.
V
Na manhã da terça-feira, ali
na Tribuna do Escracho e do Deboche, o asinino senhor Jair Messias Bolsonaro,
que calha também de ser, além de do Brasil, presidente de uma distópica
República Antidemocrática Bolsonariana, mais uma vez, de novo e novamente
voltou a atacar com ferocidade e desrespeito profissionais da imprensa.
Naquela ocasião, o senhor
Jair Bolsonaro apoiou a agressão sofrida pelos profissionais da área da saúde ocorrida,
como já foi dito aqui, na sexta-feira da semana passada, na Praça dos Três
Poderes, vociferou contra a Folha de S.
Paulo exibindo uma matéria do jornal e mandou alguns repórteres ali presentes
se calarem.
Nada mais Bolsonaro do que
isso, do que essa prepotência, do que esse desrespeito e desprezo pelos
profissionais da imprensa que não passam a mão em sua cabeça, que não se deixam
intimidar com suas agressões e que continuam a trabalhar empenhados em fazer
valer a liberdade de expressão que está escrita na Constituição deste país. Daí
por que, depois do “Calem a boca” que o presidente proferiu na terça-feira,
tantos profissionais se puseram a dizer que não adiantou, porque eles nãoo vão
se calar.
O senhor Jair Bolsonaro - e
os seus comparsas: “Milicianos fantasiados de patriotas”, como muito bem os
definiu o governador de São Paulo, João Doria – quer fazer e acontecer, cometer
barbaridades, dizer o que bem entender, escrotizar geral e esperar que a
imprensa séria e não vendida aja como a sua claque abilolada que o aplaude,
apoia e idolatra. Não, senhor presidente, uma imprensa como a que Vossa
Excelência quer e com a qual deseja conviver só pode existir num universo
paralelo ou numa distopia que o senhor criar na sua consciência de débil
mental. O senhor quer continuar agredindo jornalistas e intimidar e maldizer e
fazer graça e pilhéria sem ser contestado? Então o senhor faça isso junto aos
seus comensais, longe, bem longe dos olhos da imprensa. Só não esqueça de que,
presidente, os amigos de hoje - e o senhor Sergio Moro está aí como exemplo –
podem ser os inimigos de amanhã.
Os “milicianos fantasiados
de patriotas” continuam com a corda toda. Não se pode esperar outro
comportamento dessas pessoas que são incentivadas pelo chefe-supremo da
República Antidemocrática Bolsonariana a fazer o que fazem, porque, visto que
ele diariamente demoniza, humilha e achincalha a imprensa e agride verbalmente
jornalistas que o interpelam, se veem como que autorizadas a promover ataques
como os havidos no domingo passado e os que já ocorreram a repórteres da Rede
Globo nas ruas. Mas essa gente autoritária, hipócrita, estúpida e covarde não
pode ficar impune. O senhor Jair Bolsonaro e os seus comparsas são tão cretinos
e estúpidos que, embora contem com parte de uma imprensa que é vendida e
submissa, continuam se comportando como se não existisse outra, que não baixa a
cabeça e nem se deixa intimidar; eles não percebem que com sua selvageria e
ferocidade nada mais estão fazendo do que dar murro em ponta de faca.
Daqui dessa minha humílima
tribuna, eu engrosso o coro dos repórteres, dizendo que também eu não irei me
calar. O mal, nenhum mal, seja de esquerda, seja de direita, seja de que lado e
direção for, não deve destruir os pilares democráticos de uma nação. Cala a
boca já morreu, presidente.
VI
Há quem diga que não existe
uma situação tão ruim que não possa ser piorada. E aí estão os dramas sociais
provocados e/ou agravados pela pandemia a demonstrar essa assertiva. Eu escrevi
noutra ocasião que o coronavírus atinge pessoas de modo indiscriminado; mas
está bem visto que são os mais pobres e desvalidos que certamente sofrem as
piores consequências desencadeadas tanto pelo contágio da doença em si como
pelos efeitos da necessidade do isolamento social estabelecidos pela
quarentena.
O número de mortes pelo
coronavírus atingiu nesta semana, aqui no Brasil, a casa dos 10.000 óbitos; e o
senhor Jair Bolsonaro continua com a sua marcha da insensatez empunhando as
bandeiras da insensibilidade, do descaso, da irresponsabilidade e do escárnio. No
domingo passado, andando por cidades de Goiás, ele declarou que o isolamento
social é que é uma irresponsabilidade. Já ontem, diante da plateia da Tribuna
do Escracho e do Deboche, com um sorriso sarcástico, o desnaturado mandatário
da nação disse que neste sábado iria mesmo promover um churrasco no Palácio da
Alvorada. Hoje, pela manhã, em postagem no Twitter,
seu picadeiro de terror e escárnio virtual, ele chamou os jornalistas que
acreditaram na realização do churrasco de idiotas; e disse que não haveria
evento algum, muito embora o que a imprensa apurou é que o convescote, digamos
assim, foi cancelado devido à gritaria que se viu na internet desde o seu
primeiro anúncio, na quinta-feira. E, para não deixar o sábado passar em
branco, o intrépido presidente deu um passeio de moto aquática no Lago Paranoá,
enquanto seus apoiadores apareciam novamente na Esplanada dos Ministérios protestando
com a agenda inconstitucional e antidemocrática que se viu no último domingo. Hoje
eles fizeram um tiro ao alvo: jogaram bexigas cheias de água em fotos de
figuras como João Doria, Joice Hasselmann, Sergio Moro, Wilson Witzel, Rodrigo
Maia e Alexandre de Moraes. Essa gente realmente não tem com o que de bom e
útil se ocupar.
Num país como o nosso, no
qual a corrupção é uma praga, é um crime praticamente institucionalizado, assim
como a profunda e também vergonhosa desigualdade social, as ratazanas já
puseram suas patinhas imundas de fora e começaram a agir durante a quarentena. Nesse
período de tantas perdas de vidas humanas, de colapso de atendimento nos
hospitais e de tanta incerteza, delinquentes estão aproveitando as declarações
de estado de emergência para fraudar compras de equipamentos e insumos
hospitalares, como demonstram as investigações em curso no Rio de Janeiro e em
Santa Catarina. Isso, sem falar das inúmeras apreensões que foram feitas até agora, em vários estados, de toneladas de álcool em gel adulterados e de milhares de litros de suposto álcool 70%.
Será, minha gente, que para
tudo isso não existe um remédio? Bom, pelo menos para o coronavírus o fariseu
Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus que, assim como os
outros danados da Universal do Reino de Deus e da Renascer em Cristo continua
realizando cultos mesmo em tempos de pandemia, porque a arrecadação do dízimo
não pode parar, anunciou, primeiro, numa pregação em sua unidade do bairro do
Brás, em São Paulo, dias atrás, que a covid-19, por ele denominada de “Exu
Corona”, é pura fake news: “Isso é
coisa do maligno: simular que alguém morra para aterrorizar as pessoas [
referência a uma notícia falsa de que caixões vazios estavam sendo enterrados
no Ceará] [...] Quem cura é Deus não a ciência”, disse o abençoado; depois – é só
ver um vídeo que está no canal dele no YouTube
-, o charlatão e fariseu Valdemiro, de posse de uma Bíblia, encontrou um versículo que, segundo ele, diz de uma semente
curadora. Pronto, ele, que não é bobo nem nada e que sabe se aproveitar dos
seus seguidores, começou a fazer o anúncio de uma semente que cura os
infectados pelo coronavírus; e, para obtê-la basta que o fiel oferte – adoro esse
eufemismo para denominar esse tipo de golpe – a quantia de R$ 1.000,00 ou de R$
500,00, e envie o comprovante do depósito e/ou transferência para receber a tal
semente: “É a semente ‘sê tu a bênção’. Você vai semear essa semente e na
planta que nascer vai estar escrito ‘Sê tu a bênção’”, afirmou o fariseu em um tom
que mistura didatismo com pilantragem (“Pastor Valdemiro Santiago promete cura
da Covid-19 com ‘semente’ de R$ 1 mil”. In O
Tempo https://www.otempo.com.br/brasil/pastor-valdemiro-santiago-promete-cura-da-covid-19-com-semente-de-r-1-mil-1.2334500.
Publicado em 7 de maio de 2020. Acessado em 7 de maio de 2020).
VII
Num momento em que o Brasil
assiste a uma escalada muito rápida do número de mortos pelo coronavírus. Num momento
em que várias cidades do país, como São Luís e Fortaleza, decretaram o chamado lockdown como medida de tentar forçar as
pessoas a aderirem ao isolamento social e, assim, diminuir o contágio. Num momento
em que o ministro da Saúde, Nelson Teich, vem a público dizer que o Governo
Federal não está conseguindo comprar respiradores. Num momento, enfim, que esse
mesmo Governo mantém ociosos mais de oitocentos leitos nas unidades
hospitalares federais do Rio de Janeiro, demonstrando que, a essa altura do
campeonato, ainda não conseguiu ser eficiente o bastante para enfrentar a
pandemia, o senhor Jair Bolsonaro, nesta semana, considerou de ir ao STF
acompanhado de vários representantes da indústria nacional para certamente constranger,
pressionar e ao mesmo tempo intimidar os ministros daquela casa diante da
continuidade do isolamento social. O episódio infeliz ocorreu anteontem.
A ida do chefe-supremo da
República Antidemocrática Bolsonariana de surpresa ao STF – e ele ainda teve o
desplante de transmitir ao vivo o encontro que teve com o ministro Dias Toffoli
– foi mais uma de suas tentativas de fazer valer a sua visão canhestra dos
acontecimentos desde o início da pandemia, pregando o fim do isolamento social
e saindo por aí como um menininhozinho desobediente, contrariando o que o
próprio Ministério da Saúde estabelece. Contudo, a sua Caminhada da Salvação da
Economia, digamos assim, deu em nada, porque, muito conscientemente o ministro
Dias Toffoli, apesar de ter dito que o Brasil conseguiu conduzir “muito bem
essa situação” do enfrentamento do coronavírus, o que não é verdade, porque
muitos municípios decretaram calamidade pública e vários estão prestes a entrar
em colapso no atendimento hospitalar, disse também que é preciso um “planejamento
organizado na retomada da volta da economia e do crescimento”. E ponto. E tudo
ficou como estava. E o chefe-supremo da República Antidemocrática Bolsonariana
deixou as dependências do STF com cara de tacho e certamente soltando fumaça
pelas fuças.
As pessoas estão sendo
contaminadas e morrendo aos milhares em decorrência do coronaírus e, em vez de agir
com decência, comprometimento e zelo pela preservação da vida, o senhor Jair
Bolsonaro dá de ombros a essa situação e se empenha diuturnamente para manter
ao lado da grave crise de saúde que nos assola, também uma séria crise
política.
VIII
A preservação da memória,
Secretária Especial da Cultura, Regina Duarte, que nada diz à senhora, é, para
mim, mais do que um dever de ofício e o esteio de minha intelectualidade; é um
compromisso social; é uma atitude de cidadania; e um dos alicerces de um
processo civilizatório que, em tese, deveria dizer respeito a todos nós.
Mas eu não exalto, nobre
secretária Regina Duarte, a memória de ditadores, criminosos e torturadores,
como faz o seu chefe-supremo, de quem a senhora reza ela mesma cartilha. Assim sendo,
eu exalto, eu louvo aqui a memória de Daniel Azulay, de Moraes Moreira, de
Rubem Fonseca, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, de Ricardo Brennand, de Flávio
Migliaccio, de Ciro Pessoa, de Daisy Lúcidi, de Abraham Palatnik e de Aldir Blanc que, em
parceria com João Bosco, nos legou algumas das canções mais emblemáticas do
cancioneiro nacional, como “O bêbado e a equilibrista” que é repleta de
referências que provavelmente a senhora desconhece, e que traz uns versos
muitíssimos adequados para estes dias tão tenebrosamente autoritários e doentes
que estamos vivenciando. Porque “uma dor assim pungente” com certeza “não há de
ser inutilmente”. Sim, a nossa esperança equilibrista tem andado “na corda
bamba de sombrinha”, porém ela sabe que, do mesmo modo “que o show de todo
artista”, a vida “tem que continuar”.
Para que a vida realmente
valha a pena, Regina Duarte, é preciso que compactuemos com a liberdade, com a
solidariedade e com a empatia; e não com o ódio e não com o desprezo pelo outro e não com a tirania.
É impressionante que a teoria nazista e argumentos repetidas diversas na fala dos bolsonorista "
ResponderExcluirqueremos "liberdade" está tão vivas neste meio hostil e de cinismo que é o atual governo. Enquanto o mundo inteiro, aplaude aos profissionais de saúde, aqui no Brasil é atacado, espancado,intimidados por uma caravana do ódio. O Standard de campanha, o senhor ministro Sérgio Moro, de repente de herói se torna vilão, ao se negar em um esquema de blindagem jamais visto, com o objetivo de interferir na PF, para obviamente a uma futura blindagem aos números quatros " os 4 patetas, mimados dos filhos do presidente. A falta de publicizacao da suposta contaminação do presidente, que a todo momento arrasta idólatras e a complementa com bjs, e abraços. Os constantes deboches acometida a imprensa feita pelo bozo, fere e abre ainda mais a cova com caixão e tudo, quando bate de frente pela então mais importante rede de TV - globo que a todo momento mostra a real face do escárnio governo. A cada dia, o deboche e a falta de respeito a quem perdeu vários entes queridos continuam sendo cospida pelo escárnio do bozo, que ao ser indagado, sobre A quantidade de pessoas mortas pela pandemia o senhor presidente responde; " e daí, meu nome é messias, mas não faço milagres". Os ataques acometidos nas redes sociais pelos bolsominions para quem quis dizer sim a vida é não a morte são desmedidos como ataques frequentes ao governador do meu estado do Maranhão, o Sr.flavio Dino , preocupado com o índice de mortalidade no estado, resolve tomar medidas mais rigorosas através lockdown, e cinicamente chamado e chingado pelo movimento do ódio. Mas tenho dito, essa culpa eu não levo.