I
Esta semana, em Brasília,
não começou diferente de outras marcadas pela pandemia do coronavírus. No
domingo, mais uma vez, um bando de delinquentes e irresponsáveis que conta com
o apoio do senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, ocupou a
Praça dos Três Poderes destilando o ódio que ele nutre contra a democracia, os
adversários do seu chefe-supremo, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o
Congresso Nacional.
Desta feita, o diferencial
do início da semana com relação às outras destes tempos pandêmicos, foi que
militares de altas patentes, depois de notas e pronunciamentos em que diziam
defender os fundamentos democráticos, resolveram dizer qual é realmente a deles
nesse cenário de crise política desencadeada pelo senhor Jair Bolsonaro, um
presidente que quer governar um país como quem toca uma boiada nos currais de
uma fazenda. Eu não sou gado. Você, que me lê agora, é?
Contrariando a tão decantada
por eles defesa dos “princípios constitucionais”, os militares elevaram o tom
de seus discursos, que vinham em uma linha moderada e contida. Eu, sinceramente,
não esperava deles algo diferente dessa postura, considerando o andar da
carruagem, em que generais permanecem alojados em ministérios de um desgoverno
que praticamente todos os dias fustiga a democracia e incentiva os cidadãos a
romperem e ignorarem um isolamento social que é uma medida recomendada para
conter a contaminação por um vírus letal.
A reação autoritária veio no
encalço de um episódio envolvendo o general Augusto Heleno, ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que declarara, em nota emitida no
último dia 22, que, caso o STF apreendesse o telefone celular do presidente da
República na investigação que está em curso sobre uma suposta interferência do
chefe-supremo da República Antidemocrática Bolsonariana na Polícia Federal
(PF), isso traria “consequências imprevisíveis” para o país.
Intitulada “Solidariedade ao
general Augusto Heleno Ribeiro Pereira”, a carta dos oficiais da reserva do
Exército não mede palavras para defender o companheiro de farda que é
subordinado a um ex-capitão que até atentado terrorista planejou enquanto este
na ativa. Diz ela que, com raríssimas exceções, o noticiário é “tendencioso,
desonesto, mentiroso e canalha” – penso que Seu Jair merece os mesmos
qualificativos -; os ministros do STF cometem arbitrariedades que “beiram a
ilegalidade e a desonestidade”, inclusive, esse ministro que “sequer [logrou]
aprovação em concurso de juiz de primeira instância – eles se referem aqui a
Dias Toffoli -; mencionam o caso de Adélio Bispo, que não teve, segundo a
carta, computador e celular apreendidos por conta “de uma canetada sem
fundamentação jurídica”; diz que um “ladrão, corrupto e condenado” está solto e
passeando pela Europa – este, no caso, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva -; aventam a possibilidade de a crise institucional resultar em uma “guerra
civil” – ora, mas o senhor Jair Bolsonaro disse que está armando a população
para isso, naquela maldita e inesquecível reunião ministerial do dia 22 de
abril, Dia do Canalha -; e encerram a carta datada de 23 de maio dizendo que,
embora estejam na reserva, seus compromissos com a defesa das instituições, da
honra, da lei e da ordem do país “não tem prazo de validade” (“Militares falam
em ‘guerra civil’, apoiam Heleno e atacam STF”. In Carta Capital: https://www.cartacapital.com.br/politica/militares-falam-em-guerra-civil-apoiam-heleno-e-atacam-stf/.
Publicado em 24 de maio de 2020. Acessado em 24 de maio de 2020).
Quem leu o clássico A revolução dos bichos, de George Orwell,
compreende perfeitamente a dimensão do caráter de regimes políticos
autoritários tanto de direita como de esquerda. Na narrativa do escritor
inglês, em que pese o discurso de igualdade professado pelos líderes, alguns dos
animais estabelecem que uns entre eles “são mais iguais do que outros”. E é
justamente neste ponto que eu quero me deter para comentar a nota do general e
a carta de “solidariedade” ao chefe do GSI.
Ora, o general Augusto
Heleno emitiu uma nota em defesa do seu chefe-supremo como se o presidente da
República fosse um cidadão mais igual do que os outros e que estivesse acima do
bem e do mal e não submetido às leis às quais todo e qualquer cidadão deste país
está. O terrorismo que o senhor Augusto Heleno destacou é da mesma natureza do
que era sustentado pelos seguidores do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, quando
de sua iminente prisão. Ainda falando das hostes do Partido dos Trabalhadores
(PT), um dos espantos daquela reunião do Dia do Canalha, foi o completo
silêncio do general Hamilton Mourão aos arroubos autoritários do senhor Jair
Bolsonaro, que chegou até a falar em armar a população para uma “guerra civil”,
como eu já disse, quando se sabe que ele, Hamilton Mourão, costumava repreender
as tentações autoritárias dos petistas; e, não nos esqueçamos também disso,
ainda durante o governo de Michel Temer, ele chegou a defender uma intervenção
militar no país.
Voltando à carta, quem a lê
integralmente verá que nela, em trecho algum, são mencionados os vários crimes,
desatinos, absurdos e irresponsabilidades que o atual mandatário da nação vem
praticando. Será que se o senhor Augusto Heleno fosse um civil, os militares
teriam defendido publicamente o chefe do GSI? O que eu claramente enxergo nessas
movimentações e pronunciamentos é que a cegueira voluntária e/ou seletiva dos
inúmeros oficiais que assinaram a citada carta é uma propensão à defesa dos
seus próprios interesses; e que, para tanto, vale até apontar apenas para as
delinquências e/ou supostas delinquências, ilegalidades e canalhices praticadas
por aqueles que eles consideram como inimigos da ordem que está estabelecida; e
isso, francamente, não é pensar no bem comum e menos ainda no bem e na defesa
de toda a nação, de toda a pátria.
II
Quando não recorrem à
violência feroz e imediata para expelirem o ódio desmedido que lhes move, os
bolsonaristas agem recorrendo a conta-gotas e à intimidação.
Na segunda-feira, o senhor
Jair Bolsonaro se convidou para ir à Procuradoria-geral da República (PGR)
para, segundo ele, apenas cumprimentar o subprocurador-geral Carlos Alberto
Vilhena, que assumiu o cargo de procurador federal dos Direitos do Cidadão. Na
ocasião o nobre presidente da República teve um encontro com Augusto Aras, o
chefe da PGR, a quem cabe decidir se o denuncia ou não por interferência na Polícia Federal.
É claro que a ida do senhor
Jair Bolsonaro à PGR foi lida pela oposição e por todos os que, como eu,
acompanham o desgoverno como uma intimidação. E, após o encontro, o mandatário
divulgou uma nota na qual propôs harmonia entre os poderes e pediu o
arquivamento da investigação em curso contra ele. É muita cara de pau. Na nota,
o Messias que é Messias, mas não faz milagres e sim uma estupidez e uma
arbitrariedade atrás da outra e que, no dia anterior, estava junto a seus
apoiadores defendendo ataques ao STF e ao Congresso Nacional e o fim do
isolamento social, teve o descaramento de dizer isto: “Mantenho-me fiel à
proteção e à defesa irrestritas do povo brasileiro, especialmente os mais
humildes e aos que mais precisam” (Ingrid Soares. “Bolsonaro pede arquivamento
de inquérito contra ele”: ‘Acusações levianas’”. In Correio Braziliense: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/25/interna_politica,858175/bolsonaro-pede-arquivamento-de-inquerito-contra-ele-acusacoes-levian.shtml.
Publicado em 25 de maio de 2020. Acessado em 25 de maio de 2020).
Ainda no capítulo ódio e
intimidação aos contrários ao desgoverno da República Antidemocrática
Bolsonariana, também na mesma segunda-feira em que o asinino senhor Jair
Bolsonaro quis, através de uma nota, posar de civilizado, tolerante e defensor
da democracia, a Folha de S. Paulo e
o Grupo Globo decidiram que, enquanto lá, na Tribuna do Escracho e do Deboche, não
forem estabelecidos protocolos que confiram segurança para seus repórteres – na
verdade, os ataques são destinados a toda a imprensa não vendida e/ou cooptada
-, que sofrem constantemente agressões que partem tanto do presidente como dos
seus apoiadores, não farão a cobertura jornalística naquele reduto da
animalidade – estas palavras são minhas, que fique bem claro.
III
Na terça-feira o senhor Jair
Bolsonaro só faltou soltar fogos de artifício e dar pulos de alegria em razão
da deflagração da Operação Placebo,
que a Polícia Federal iniciou, no Rio de Janeiro, para apurar esquemas fraudulentos
em compras de equipamentos e insumos hospitalares e tantos outros itens nas
ações de combate ao coronavírus. O motivo da indisfarçável satisfação do
presidente – ele chegou a parabenizar a PF – foi porque o governador daquele
estado, Wilson Witzel, que já foi seu aliado, há meses passou a ser visto como
um inimigo. Visivelmente transtornado, Witzel fez um pronunciamento no qual
disse que estava sendo vítima de perseguição por parte de um presidente que ele
ajudou a eleger e que pretende ser o próximo ditador da América Latina mantendo
um governo abertamente fascista (“’Interferência anunciada pelo presidente está
oficializada’, diz Witzel”. In UOL
Notícias: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/26/witzel-nota-operacao-pf.htm.
Publicado em 26 de maio de 2020. Acessado em 26 de maio de 2020).
Talvez Wilson Witzel venha a
ser revelado como um novo Sérgio Cabral do Rio de Janeiro e responda, como o
ex-governador já condenado a centenas de anos de prisão, pela prática de
diversos crimes. É esperar para ver até aonde irão as investigações. Em que pese
uma possível interferência do clã Bolsonaro na deflagração das ações de busca e
apreensão da PF no Rio de Janeiro, as suspeitas de prática de crimes envolvendo
Wilson Witzel devem ser indiscutivelmente investigadas.
Nesse momento – e não é de
hoje – o Rio de Janeiro, estado e capital, amarga a sina de se ver como um
lugar que vive submerso na sujeira da corrupção, da roubalheira e da
criminalidade desenfreada. Traficantes e milicianos, que constituem o poder
paralelo ao institucional, são a face mais gritante e cruel de uma realidade
aterradora. Fluminenses e cariocas têm de conviver com um cotidiano de muitas
balas e vidas perdidas; de opressão e achaques perpetrados pelos foras da lei;
com um governador que não conseguiu entregar os hospitais de campanha
planejados para o enfrentamento da pandemia; e com um prefeito em sua capital,
o senhor Marcelo Crivella, que é uma nulidade reconhecida e que não nega a
malignidade do pântano onde foi gestado como bispo. Triste sina essa do Rio de
Janeiro.
Os tantos risos e a tanta
alegria, os “bravos!” e os “muito bem!” que o senhor Jair Bolsonaro e os seus
comparsas compartilharam com tamanha euforia na terça-feira, em virtude da Operação Placebo, deram lugar aos
achincalhes e ataques aos inimigos do desgoverno que, no Manual do Combatente Bolsonarista, são principalmente o STF e o
Congresso Nacional, como todos nós sabemos, quando, ao raiar da quarta-feira,
seguindo determinação do ministro essetefiano Alexandre de Moraes, responsável
pelo inquérito que apura a disseminação de fake
news, discursos de ódio e quejandos e ataques às instituições e à ordem
democráticas nas redes sociais, policiais federais saíram em diligências para
fazer buscas e apreensões em endereços ligados a deputados bolsonaristas,
blogueiros e figurões apoiadores do desgoverno da República Antidemocrática
Bolsonariana, como o nefasto ex-deputado federal Roberto Jefferson e o
empresário Luciano Hang. Não fosse pela seriedade da medida, quem iria rir
agora seria eu dessa gente autoritária, hipócrita, estúpida e covarde (Valdo
Cruz. “Operação da PF pode cortar financiamento de grupos bolsonaristas e
preocupa aliados do presidente”. In G1 https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2020/05/27/operacao-da-pf-pode-cortar-financiamento-de-grupos-bolsonaristas-e-preocupa-aliados-do-presidente.ghtml. Publicado em 27 de maio de 2020.
Publicado em 27 de maio de 2020).
Os ataques à operação da PF
determinada por Alexandre de Moraes seguiram em marcha. E, novamente ladrando
como um cão raivoso, o senhor Jair Bolsonaro que, na segunda-feira, disse em
nota que respeita a liberdade de expressão – logo ele que constantemente ataca
a imprensa e os repórteres e incentiva os seus amalucados seguidores a fazerem
o mesmo -, declarou três dias depois que o STF estava, no inquérito da fake news, atentando contra a liberdade
de expressão dos apoiadores dele, porque, no pensamento animalesco que o move,
ameaçar de morte ministros do STF e propagar informações falsas que são, é bom
que se diga, um desserviço à sociedade, liberdade de expressão também é isso.
No melhor estilo doidivanas
do pai, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, com a costumeira empáfia, disse,
numa live do blogueiro Allan dos
Santos, ainda na terça-feira, que um movimento de “ruptura institucional” está
prestes a acontecer neste país. (Ah, já ia me esquecendo: esse blogueiro foi
alvo da operação também.) Temo que isso ocorra, porque se esses animais já vêm
praticando tantos ataques a pessoas e instituições em plena democracia, eu fico
imaginando o que eles seriam/serão capazes de fazer sob um estado de exceção.
Em depoimento concedido à
repórter Andréia Sadi, na quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão, um
general da reserva, disse que, embora não pudesse falar em nome de toda as
Forças Armadas, descartou que esteja em curso um golpe militar: “Quem é que vai
dar golpe? As Forças Armadas? Que que é isso, estamos no século 19? A turma não
entendeu. O que existe hoje é um estresse permanente entre os poderes. Eu não
falo pelas Forças Armadas, mas sou general da reserva, conheço as Forças
Armadas: não vejo motivo algum para golpe” (Andréia Sadi. “Mourão: ‘Quem é que
vai dar golpe? A turma não entendeu, não existe espaço no mundo para ações
dessa natureza’”. In G1: https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2020/05/28/mourao-quem-e-que-vai-dar-golpe-a-turma-nao-entendeu-nao-existe-espaco-no-mundo-para-acoes-dessa-natureza.ghtml. Publicado em 28 de maio de 2020.
Acessado em 28 de maio de 2020).
Não confio nem um pouco
nesse Hamilton Mourão que, repito, já pediu intervenção militar quando da crise
havida no governo de Michel Temer.
IV
As tropas enfurecidas da
República Antidemocrática Bolsonariana e o seu chefe-supremo seguem firmes no
propósito de promover a derrocada da Rede Globo. Enquanto o senhor Jair
Bolsonaro vez e outra ameaça cancelar a concessão da emissora da família
Marinho, como se ele detivesse esse poder e pudesse fazer isso sozinho com uma
canetada, os seus milicianos permanecessem espalhando “notícias” nas redes
sociais e atacando funcionários da Vênus Platinada sempre que podem, inclusive,
fisicamente. Mas, como as estratégias desses milicianos desequilibrados estão
em constante replanejamento, eles agora resolveram tentar desmoralizar o
apresentador do Jornal Nacional,
William Bonner, que, na verdade, deixou de ter sossego desde que essa gente
animalizada começou, anos atrás, a se articular para eleger a besta-fera
presidente deste país.
Valendo-se de toda a
perversidade de que são capazes, bolsonaristas que têm extrema dificuldade de
conviver com a diferença e com a contestação aos atos de seu chefe-supremo e
que são do tipo dos que comandam o famoso Gabinete do Ódio, conseguiram –
pause: crê-se que foram eles; quem mais teria interesse em fazer isso? – dados
pessoais do filho de Bonner, fizeram cadastro e sacaram uma parcela do auxílio
emergencial de R$ 600,00. Ora, é claro que isso é uma fraude e uma grande
armação para ofender o apresentador que recebe um salário robusto da empresa na
qual trabalha.
Ocorre que nesse episódio os
meliantes bolsonaristas deram um tiro de pé, porque expuseram ainda mais a
falha do sistema da Dataprev para averiguar e cruzar dados dos inscritos no
sistema que pleiteiam o tal auxílio financeiro. Como eu disse noutro artigo,
para vergonha desse desgoverno que possa de ser a encarnação da honestidade, da
moral e dos bons costumes, milhares e milhares de militares das Forças Armadas
deram entrada e sacaram o auxílio. E, segundo os dados mais recentes que eu vi,
o total de fraudadores – não vou usar um termo mais pesado aqui porque não
precisa -, civis e militares, já passam de 160.000.
Parodiando aquela cantiga
infame eu digo: ninguém segura os delinquentes do Brasil.
V
Até agora não sabemos por
que cargas-d’água o senhor Jair Bolsonaro está empenhado tão firmemente em
defender o ministreco da Deseducação, Abraham Weintraub, que, na reunião do Dia
do Canalha, esbravejou contra meio mundo, inclusive, os povos indígenas, e
disse que, por ele, deveriam prender os membros dos poderes judiciário e
legislativo, começando “pelos vagabundos do STF”.
Abraham Weintraub, além de ser
uma nulidade no ministério que comanda e um falastrão incorrigível – a pérola
mais recente que ele lançou aos porcos que fazem parte da plateia do desgoverno
do seu chefe-supremo foi, na quinta-feira, comparar a ação dos policiais
federais na caça dos disseminadores de fake
news e de ameaças à ordem democrática, com a chamada “Noite dos Cristais”,
um episódio ocorrido na Alemanha nazista contra os judeus (“Cônsul de Israel
repudia Weintraub comparar operação com Noite dos Cristais”. In: Correio Braziliense: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/28/interna_politica,859039/israel-repudia-weintraub-comparar-operacao-com-noite-dos-cristais.shtml.
Publicado em 28 de maio de 2020. Acessado em 28 de maio de 2020) – representa,
como, talvez, nenhum outro membro do corpo ministerial da República
Antidemocrática Bolsonariana, a parte mais cínica, mais torpe e mais esquizofrênica
de um desgoverno que quer a todo custo – atropelando leis, normas e bom senso –
implantar o que seria, na visão deles, um mundo ideal, mundo esse que, eu tenho
clara consciência disso, não disponibilizaria sequer um pedacinho de chão para
eu existir plenamente como eu existo; e, por essa razão – e pensando não só em
mim, mas no resto da sociedade que não compartilha dos ideais autocráticos dos
bolsanaristas -, eu repudio veementemente esse estado de coisas que se move
para ocupar todos os espaços.
Não percamos de vista os
fatos e nem o novelo de lã do desenrolar dessa construção autoritária repleta
de labirintos para que nela não venhamos a nos perder, porque nos calar e nos
render seria de algum modo compactuar com tudo isso que está aí.
Ao lado da mobilização do
presidente para blindar e defender Abraham Weintraub, o senhor Jair Bolsonaro e
o seu nefasto clã vêm atacando em outras frentes. As negociações com o “centrão”
continuam na ordem do dia; a militarização de setores ministeriais – daqui a
pouco todo o Ministério da Saúde, por exemplo, estará ocupado por militares – é
uma evidente estratégia de aliciamento das Forças Armadas, porque o presidente
deve compreender que o poder é muito sedutor e que não são poucas as pessoas
que parecem ter uma inclinação natural para a venalidade; bolsonaristas estão
empenhadíssimos em tentar barrar um projeto de lei que pretende punir quem cria
e difunde fake news – o inquérito do
STF já apurou que até o Banco do Brasil estava financiando, via inserção de
propaganda, canais de notícias falsas -; e o mandatário da nação vem dizendo
que o procurador-feral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir se
encaminha ou não ao STF denúncias contra ele, pode ser um dos indicados para
ocupar uma vaga na Suprema Corte.
A realidade está bem clara
ou você que me lê quer que eu desenhe?
VI
Os norte-americanos estão
metidos no olho de um devastador furacão. Não bastasse ser o país onde o
coronavírus mais contaminou e matou gente até agora, os Estados Unidos são
governados por um perfeito mentecapto e, no presente momento em que escrevo
este artigo, eles estão envolvidos também numa série de protestos motivados por
uma chaga social que não sara naquela que é considerada a maior nação democrática
do planeta: o ódio racial contra os negros.
Na última segunda-feira, em
Mineápolis, no estado de Minnesota, um homem negro de 40 anos de idade, George
Floyd, morreu durante uma abordagem policial feita por agentes brancos que, segundo me consta, eram, em sua maioria, brancos. A causa mortis, diz-se, foi asfixia. Daí por
que vimos tantos cartazes com a frase “I can’t breathe” nos protestos que,
iniciados em Mineápolis, onde prédios foram incendiados, lojas foram saqueadas
e manifestantes entraram em confronto com a polícia, se espalharam por diversas
cidades do país. O "I can't breathe", depois eu fiquei sabendo, foi a última fala de Floyd, dita quando ele já se encontrava dominado e tinha a sua cabeça pressionada contra o chão por um dos policiais.
Uma das frases mais
emblemáticas que eu vi num desses protestos dizia: “Parem de nos matar”. Trazendo-a
para o nosso cotidiano no qual a crônica policial brasileira diariamente,
repito, diariamente registra o assassinato de negros – geralmente pobres ou
muito pobres e moradores das periferias – e isso não nos convulsiona, não nos
leva a sair em protesto, a promover manifestações, a reivindicar nas ruas por
proteção e respeito e melhores e maiores oportunidades de educação e de
trabalho, pode fazer crer que temos uma alma cativa e submissa; e que tomamos
essa realidade brutal e discriminatória como um fato da vida. Será que nós,
brasileiros, negros e pardos, somos uma gente resignada? Será que não conseguimos
mais sentir dor e nem dizer o que nos fere e machuca? Será que essa questão só
diz respeito a nós, negros e pardos, e não ao todo da sociedade? Será que só
cabe aos movimentos negros levantar a voz e agir contra esse estado de coisas?
Os historiadores Marcelo Mac
Cord e Robério Souza nos dizem que um “imaginário coletivo” forjado por
telenovelas, livros didáticos e outros produtos culturais e educacionais,
concebeu o 13 de maio de 1888 como o marco da mudança nas ralações de trabalho
neste país que, em virtude disso, seguiria em direção à “modernidade”, ao “progresso”
e à “civilização”. Com a abolição da escravatura, as elites escantearam os
negros da nova ordem socioeconômica enxergando-os como “inadequados” e “incapazes”
de fazer parte de um sistema no qual passaria a vigorar o trabalho livre, o que
as levou a promover uma intensa imigração de europeus para substituir a mão de
obra dos negros, precarizando ainda mais a subsistência deles. Segundo tais
estudiosos, “Esse tipo de concepção excludente até hoje ecoa entre aqueles que
tentam justificar nossas profundas desigualdades étnicas e sociais” (Marcelo
Mac Cord e Robério S. Souza. “Trabalhadores livres e escravos”. In Lilia Moritz
Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes (orgs.). Dicionário
da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. 1ª ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2018, p. 411).
Sim, nós, pretos e pardos, constituímos
a maioria da população deste país; mas, está nisso a explicação para sermos o
principal alvo da matança? É claro que não. A própria referência histórica que
eu fiz no parágrafo anterior esclarece em grande parte isso. O racismo
estrutural, o ódio e o preconceito contra os negros estão na ordem do dia em
muitos espaços, inclusive, dentro de instituições que deveriam em tese atuar e
agir em prol de todas as pessoas, sem discriminá-las, como vai dito na
Constituição. Temos como presidente da Fundação Palmares um cidadão negro, o
senhor Sérgio Camargo, que miniminiza o regime escravocrata que vigorou no
Brasil durante mais de trezentos anos e que abre espaço para quem trata de
desancar figuras-símbolo dos movimentos que lutam pela respeitabilidade dos
negros - não pensem, no entanto, que eu sou contra o chamado revisionismo histórico; acredito que os acontecimentos podem ser interpretados de várias maneiras; o que devemos observar é a fundamentação dos argumentos (“Justiça determina que Fundação Palmares retire de site artigos que
atacam a figura de Zumbi”. In O Globo: https://oglobo.globo.com/cultura/justica-determina-que-fundacao-palmares-retire-de-site-artigos-que-atacam-figura-de-zumbi-24453960.
Publicado em 29 de maio de 2020. Acessado em 29 de maio de 2020); temos no
comando do Ministério da Educação um cavalo batizado, como diria a minha avó,
que “odeia” termos como “povos indígenas” e “povo cigano” e que, a despeito de
dizer que o povo brasileiro “só tem um povo” e que precisa acabar com “esse
negócio de povos e privilégios”, como se falasse em igualdade, ele parece
desconhecer e/ou finge não saber que a demarcação de terras indígenas e de
remanescentes de quilombolas, por exemplo, foram definidas e estabelecidas justamente
não apenas para reparar perdas e injustiças praticadas contra esses povos, mas
também para garantir territórios que, de outra forma, seriam de pronto ocupados
pelos donos do poder que, como se sabe, são esmagadoramente brancos; e assistimos
a constantes ataques desferidos por líderes de igrejas evangélicas às religiões
de matriz africana e, por conseguinte, aos seus adeptos.
Ou seja, se o negro era uma “mercadoria”,
um “produto”, uma “coisa”, no tempo da escravidão, hoje ele é tábua de tiro ao
alvo – o jovem João Pedro, um adolescente de apenas 14 anos, foi morto por um
tiro de fuzil dentro da casa de seus tios, durante uma ação policial, no último
dia 18, no Complexo do Salgueiro, na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e se tornou mais um número
de estatística -, é humilhado pelo tipo de cabelo que possui; e perseguido até
mesmo pela religião que professa, porque, numa sociedade como a nossa, na qual,
apesar de ser minoria, a população de brancos é a grande concentradora de renda
e dominadora da riqueza e ocupante maior dos cargos de mando, vidas de negros
realmente não importam e, menos ainda, se esses indivíduos compuserem, por
assim dizer, o combo negro + pobre + periférico + gay + catimbozeiro.
VII
No livro de George Orwell, o
porco Napoleão tinha sempre razão; e, por isso, tratava de ir modificando os
mandamentos que fundamentaram a tal revolução dos bichos ao sabor de suas
conveniências. Na realidade pandêmica que ora atravessamos em meio a uma crise
política, o asinino Jair Bolsonaro sempre tem razão; e, por isso, esbraveja e
ataca e desconsidera e demoniza e humilha e achincalha tudo e todos que se põem
contra os seus arroubos autoritários e as suas ações visando proteger os
delinquentes que o apoiam e o cercam.
Eram sete os mandamentos que
regiam a Granja dos Bichos, como também são sete os pontos que compõem este
artigo. No livro, os sete mandamentos foram resumidos em apenas um pelos
animais humanizados e, mesmo assim, foi reescrito: “Todos os animais são
iguais/Mas alguns animais são mais/Iguais que outros” (George Orwell. A revolução dos bichos. Trad. Heitor
Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 130). Aqui, neste texto, os sete
pontos podem ser resumidos nestes termos: caiam fora, humanos animalizados
autoritários, hipócritas, estúpidos e covardes, porque os cidadãos de bem deste
país não precisam de seres da espécie de vocês, pois, do que não presta, o
Brasil já está cheio. Precisamos de paz, de ordem e de progresso que atinja e que
alcance todos nós.
O racismo estrutural, o ódio e preconceito são estruturas que ganham força a cada dia em nosso país. Tudo isso, atrelado aos presidentes protagonista desta matéria um porco, no EUA E um gado no Brasil, cheio de ódio, racistas, fascistas, ditadores o espelho de uma policia corrupta,mal preparada, que deveriam está assegurando vidas, tiram vidas, ainda mais quando essa vida, é de um negro. Matriz preconceituosa entrelaçam com a indiferença e Dessas governos escravistas que aprisiona cada vez mais seu povo. As dondocas filhas da puta segue frias em seus salões enquanto a criadagem se limita aos afazeres e desmando de uma elite irresponsável que tiram vidas e desta vez no Brasil, foi uma criança de 05 anos que foi colocada no elevador da morte. Um outro momento foi outro preto de 14 anos assinado dentro de casa pela corrupta e despreparada policia brasileira . Para fechar esse arredio de horrores , um pai de família negro morto por policias por asfixia, método muito utilizado por esses bandidos vestido de farda. E nesse desabafo fica minha indignação.
ResponderExcluirNão existe justificativa para alimentar estes tipos de racismo, preconceito e intolerancia.
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