Faz
escuro, mas eu canto.
Porque
amanhã vai chegar.
Vem
ver comigo companheiro,
vai
ser lindo, a cor do mundo mudar.
Faz escuro, mas eu canto. Thiago de Mello
Dizem muitos especialistas
que há uma tendência dentro de cada um de nós a olhar para o nosso passado e,
de alguma forma, sentir saudade dele, sobretudo, se estivermos num presente que
nos sufoca, nos aflige e nos inquieta. Estive pensando nessa questão nestes
dias tão tenebrosos para a humanidade, que anda travando batalha contra um
vírus mortal e me perguntei: “Do que será que eu sentirei saudade destes meus
dias de agora?”. E não me dei uma resposta conclusiva; talvez, porque seja
inútil estabelecê-la neste momento, uma vez que eu não tenho como saber quais
serão as ideias e as idiossincrasias que estarão me guiando daqui a alguns
anos.
A contabilidade é
assustadora, triste, muito triste, e preocupante: hoje, dia 25 de julho, o Brasil
atingiu a marca de 85.562 mortos vitimados pelo coronavírus. É muita gente. É muito
luto no seio de tantas famílias. E pensar que, em meio a esse cenário de morte
e de terror, quando se sabe que nem uma vacina ainda existe disponível para a
população, porque os estudos e os testes estão em andamento, tantas pessoas
fazem troça dessa realidade, desrespeitam as normas que visam barrar o
contágio, são indiferentes à dor de quem perdeu entes queridos e estejam por aí
procurando bares e inferninhos para saciar necessidades que elas julgam ser
urgentes, como brindar com um copo de cerveja e comer um espetinho nas esquinas
das cidades.
Nesta semana o Tribunal de
Contas da União (TCU) fez todos os brasileiros saberem que o Ministério da
Saúde da República Antidemocrática Bolsonariana, que segue sendo comandado
interinamente por uma penca de militares, gastou até agora menos de um terço
dos recursos que deveriam ser utilizados no combate à pandemia. Enquanto isso –
e os casos de roubalheira na área da Saúde em vários estados é a outra face
cruel do descaso para com a sociedade -, em muitas unidades hospitalares do
país, profissionais empenhados no atendimento aos infectados pelo coronavírus
vêm denunciando a falta de medicamentos, como sedativos, necessários para que
se façam intubamentos, por exemplo. Sem esquecermos do fato, também gravíssimo,
de que este desgraçado país mantém, na presidência da República, um sujeito
endemoninhado que repetidamente posa de garoto propaganda de um medicamento, a
cloroquina, que autoridades médicas do mundo todo não recomendam para o
tratamento contra a covid-19. Enquanto faltam medicamentos e insumos em
hospitais, este desgoverno irresponsável que está aí comprou milhões e milhões
de comprimidos de uma droga que a comunidade científica não aprova.
Para um presidente da
República que muito fez para angariar o apoio das Forças Armadas para o seu
projeto de desgoverno e que as julga como o suprassumo do que existe de mais
eficiente e honesto nesta pátria amada e idolatrada, não deve ter sido nada
fácil ter recebido outra informação desabonadora contra os briosos guerreiros
que ele diz tanto admirar. Semanas atrás o vigilante TCU fez saber que muitas
dezenas de milhares dessa nobre gente receberam o auxílio emergencial de R$
600,00. Nesta semana, depois de anos de protelações, habeas corpus e toda sorte de chicanas, a Justiça Militar condenou
vinte e seis militares acusados de fraudes em licitações do Exército no
Amazonas; entre eles, dez são oficiais. Dá para ouvir daqui: “Ou ficar a Pátria
livre/Ou morrer pelo Brasil”. Por enquanto a pátria não está livre dos
corruptos, sejam eles ardorosos patriotas direitistas, sejam eles empedernidos
delinquentes esquerdistas.
Do alto de sua magnífica e
enormemente grande insignificância, o senhor Roberto Jefferson, representante
do que de mais atrasado, vil, infame e canceroso viceja na política brasileira;
um ser que figura entre os mais inescrupulosos que existem e cujas convicções e
ideologias por ele defendidas são inteiramente venais; uma criatura que não tem
absolutamente nenhuma credibilidade e que é como aquela personagem da música “Folhetim”,
vem destilando o seu veneno por aí em apoio ao senhor Jair Bolsonaro, que ele,
como verme parasita que é, resolveu por ora apoiar, certamente para auferir
alguma vantagem. Nesta semana, o seu alvo principal foram os ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF). Rindo o seu riso de hiena debochada e
insaciável, o senhor Roberto Jefferson entre outras tantas declarações regadas,
imagino, à base de ódio e rancor pela condenação que a Suprema Corte lhe aplicou
anos atrás, disse que dois ministros do STF são sodomitas, como se a
homossexualidade fosse a pior coisa que existe e o motivo do atraso
socioeconômico, ético e moral deste país. A exaltada, indecente, escrachada e,
por que não dizer, criminosa homofobia do senhor Roberto Jefferson, que deve se
considerar o maior machão da face da Terra, tem muito dessa coisa tão torpe de
quem, na falta de argumentos realmente plausíveis, se põe a descer o nível em
sua oratória e avança sobre a sexualidade alheia, crente de que, com isso,
acabará saindo por cima da carniça. Tudo o que de ruim se disser sobre
políticos – e machões – como o senhor Roberto Jefferson será incapaz de
integralmente defini-los, porque eles são o chorume do chorume do chorume.
Eu sou muito cético para
acreditar que este país tem jeito, dado o histórico de desgraças que os seus
governantes lhe impingem. O meu esforço diário é para ver se eu consigo ser uma
pessoa melhor, reunindo forças para conseguir superar todos os obstáculos e
males que forem surgindo, venham eles de onde vierem. A tristeza por si só não
me abate; mesmo quando estou de luto, eu luto; “faz escuro, mas eu canto”; e
sigo no meu caminho, ainda que seja na contramão do que a maioria julga ser
bom, justo e correto, porque eu aprendi que a maioria é isso, a maioria, mas
não é o todo.
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