1 de agosto de 2020

Operação Mãos Sujas

Por Clênio Sierra de Alcântara


       Imagem: Internet
Só não vê quem não quer. Está mais do que claro, está claríssimo, que para o cancro Jair Bolsonaro e para todos os seus cupinchas – militares e civis – defender a democracia é algo que vai de encontro aos propósitos deles. Direita, retroceder!



Sem pudor nenhum, sem vergonha nenhuma e com toda a desfaçatez que possa existir, o desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana vai dia a dia fazendo o que é possível para emular o que de pior existiu neste país no longo e tenebroso período que começou em 1964 e se arrastou até 1985, promovendo toda sorte de crueldade que existia em nome de uma ameaça comunista. E, tanto naquele tempo como no atualmente, boa parte da população dava/dá amplo apoio ao que era/é feito pelos mandatários alojados em Brasília.

No último dia 24 de julho, o colunista Rubens Valente, do UOL, publicou um artigo bastante revelador do que essa gente que por ora está aí é capaz de fazer para se livrar do que ela julgar ser um incômodo para o seu projeto autoritário de poder. Intitulado de “Ação sigilosa do governo mira professores e policiais antifascistas”, o artigo do colunista do UOL divulgou que a Secretaria de Operações Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, elaborou um relatório sigiloso sobre um grupo de 579 servidores federais e estaduais de segurança púbica e três professores universitários identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Tal relatório foi confeccionado dias depois de o manifesto “Policiais antifascistas em defesa da democracia popular” ser divulgado, em 5 de junho, e subscrito por 503 servidores da área de segurança pública (policiais civis e militares, rodoviários, penais, peritos criminais, papiloscopistas, escrivães, bombeiros e guardas municipais). Questionado por aquele portal de notícias sobre o propósito de tal relatório e o monitoramento de mais de quinhentos indivíduos – o trabalho incluiu, além de nomes, fotografias e endereços de redes sociais de vários dos investigados -, o Ministério da Justiça e Segurança Pública saiu-se com evasivas do tipo é para “prevenir práticas ilegais” e “garantir a segurança”, sabe-se lá de quem.

É uma das características dos governos autoritários e/ou que flertam com o autoritarismo fazer esse jogo sujo de agir às escondidas para vasculhar a vida de todo aquele que é apontado como inimigo do sistema; de todo aquele que se mostra contrário à ordem arbitrariamente constituída. Essa prática de fazer listas de supostos “inimigos da pátria” era um dos itens da cartilha moralizante e dignificadora dos que estavam no comando da Ditadura Militar (1964-1985) que deu fim a tantas vidas e desapareceu com os corpos. O apelo da defesa da pátria serviu naqueles dias como justificativa para uma verdadeira caçada aos opositores, aos discordantes, aos insubmissos, aos subversivos, fossem eles comunistas ou qualquer outra coisa que figurasse no rol de desagrado dos generais. Será que nestes dias de hoje as hostes bolsonarianas vão fundar um Comando de Caça aos Antifascistas emulando o feroz Comando de Caça aos Comunistas que existiu durante a Gloriosa?

Uma das fantasias grandiloquentes desse verdadeiro câncer político chamado Jair Bolsonaro era acreditar que todo bichinho de cabelo, que todo profissional da área da segurança pública iria apoiá-lo incondicionalmente, como se ele fosse o símbolo e a encarnação da honestidade, do bom senso, do respeito e do progresso. Imaginem, um indivíduo que faz do autoritarismo, da misoginia, da homofobia e da cumplicidade com pastores evangélicos ladrões de consciência e com milicianos instrumentos de trabalho e de plataforma de governo acreditava piamente que era uma unanimidade entre os militares e entre todos aqueles que portam uma arma de fogo.

Quando tomei conhecimento do tal relatório elaborado pela Seopi eu me perguntei: “Será que o meu nome e o meu rostinho estão no documento?”. É claro que não devem estar, porque eu sou um bostinha que só eu mesmo leio o que escrevo. Deixando essa boutade de lado, eu quero fazer uma indagação realmente relevante aqui: será que os agentes da Secretaria de Operações Integradas estão também no encalço desses indivíduos que fazem o diabo por aí pregando o tal do fascismo e a ordem autoritária? Aposto uma nota de R$ 200,00 que não.

Na República Antidemocrática Bolsonariana os valores morais e éticos e afins possuem características muito particulares, muito próprias; e, desse modo, delinquente que destrói reputações, delinquente que descumpre determinações sanitárias contra uma pandemia que até hoje matou 92.789 cidadãos neste país, delinquente que ataca membros do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, delinquente que agride jornalistas, delinquente que dissemina fake news, delinquente que recebe verba púbica por meio de publicidade não é delinquente, é apoiador do desgoverno, é combatente das hostes palacianas. Todo o mal aos opositores. E ponto.

Só não vê quem não quer. Está mais do que claro, está claríssimo, que para o cancro Jair Bolsonaro e para todos os seus cupinchas – militares e civis – defender a democracia é algo que vai de encontro aos propósitos deles. Direita, retroceder!

Nenhum comentário:

Postar um comentário